O economista da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (ACIRP), Gabriel Couto, afirma que as perspectivas para 2019 são mais positivas do que as dos últimos anos e que a economia dá sinais mais claros de que o pior momento da crise já passou. Ele acredita também que o grande desafio da Administração Municipal de Ribeirão Preto é combater o déficit do Instituto de Previdência dos Municipiários (IPM) estimado este ano em R$ 320 milhões. E que é difícil apontar soluções de curto prazo para um problema que vem se agravando por anos. Para o economista, as reformas na esfera federal podem ajudar nas contas dos municípios, mas os efeitos não serão sentidos de imediato por aqui.
FOTOS: J.F.PIMENTA
Tribuna Ribeirão – Ano novo. Governo novo. Em sua avaliação qual a perspectivaeconômica para este ano?
Gabriel Couto – As perspectivas para o início 2019 são mais positivas do que nos últimos anos. A economia dá sinais mais claros de que o pior momento da crise já passou, o emprego começou a se recuperar, e provavelmente permaneceremos nos patamares mais baixos da história na taxa básica de juros e na inflação. Deve-se ressaltar, no entanto, que a continuidade dessa retomada em ritmo sustentável está intimamente ligada à aprovação da série de reformas que o novo governo tem buscado, sobretudo no campo da previdência. As finanças públicas seguem em situação delicada nas três esferas de governo, e a não aprovação da reforma da previdência pode minar a confiança dos agentes e puxar o país para uma nova crise. Os primeiros seis meses de mandato, em que o governo teoricamente tem mais força para tomar medidas com viés impopular a curto prazo, são primordiais.
Tribuna Ribeirão – Na região de Ribeirão Preto, a economia já dá indícios de recuperação?
Gabriel Couto – A principal forma de acompanhar a economia da região com uma defasagem menor é por meio dos dados de emprego, que têm mostrado um ritmo de recuperação mais rápido que o do restante do país. Apesar da dificuldade de se obter dados a nível regional no Brasil, as evidências são de que a região tem evoluído bem nos últimos meses, embora ainda haja um longo caminho até a retomada a níveis pré-crise.
Tribuna Ribeirão – Que setores estão mostrando sinais de recuperação mais rápida?
Gabriel Couto – Ainda observando os dados de emprego, os setores de comércio e de serviços têm liderado as contratações. O município de Ribeirão Preto, que concentra a maior parte das empresas desses setores na região, tem se destacado. A indústria ainda tem mostrado dificuldades, mas pode se beneficiar da melhora das condições econômicas em 2019.
Tribuna Ribeirão – Em sua avaliação por ser um centro prestador de serviços o que Ribeirão Preto precisa fazer para atrair novos investimentos e gerar empregos?
Gabriel Couto – Vivemos um momento de uma grande revolução nos negócios, que passa por todos os setores. A tecnologia tem mudado a relação das pessoas com as empresas de maneira nunca vista antes na história. Neste contexto, a atração de novos investimentos exige que as empresas, governos e entidades estejam sempre atentos às mudanças, dispostos a se adaptar em um mundo de constantes transformações. Nada garante que um modelo de negócios de sucesso hoje ainda será viável em dez anos, portanto a busca constante de inovação e conhecimento das tendências de mercado é fundamental para atrair a atenção de investidores.
Tribuna Ribeirão – A Administração Municipal afirma que este ano será de “vacas magras” e que, em maio, os salários dos servidores podem começar a atrasar. Como evitar isso?
Gabriel Couto – A situação das finanças públicas municipais é resultado de anos de má gestão, o que, somado à situação fiscal do país, leva a riscos como este. É difícil apontar soluções de curto prazo para um problema que vem se agravando por anos, e mesmo as reformas na esfera federal podem ajudar nas contas dos municípios, mas os efeitos não serão sentidos de imediato. O poder público precisa se debruçar sobre o déficit do IPM. Em relação a soluções de mais longo prazo, a prefeitura deve buscar maior eficiência para cortar gastos e, na medida do possível, buscar fontes de receita.
Tribuna Ribeirão – Com o fechamento de postos de trabalhos muitas pessoas estão investindo no empreendedorismo. Que cuidados elas precisam ter para que seu empreendimento de certo?
Gabriel Couto – Qualquer pessoa que busque empreender deve antes pesquisar o ramo do negócio em que pretende entrar. Demanda, concorrentes, previsão de faturamento e custos. Além disso, deve se atentar às perspectivas para o setor no futuro, pois, novamente, a tecnologia tem trazido constantes transformações para o mundo dos negócios. Por isso, a preocupação da ACIRP de oferecer cursos de qualificação e suporte para seus associados. Finalmente, o planejamento financeiro da nova empresa é fundamental, uma vez que vários dados mostram que a maioria das empresas do Brasil fecha as portas antes de cinco anos de criação.
Tribuna Ribeirão – Todo começo de ano as pessoas, de um modo geral, fazem uma série de promessas na área financeira, como gastar menos, tentar poupar. Existe uma espécie de cartilha a ser seguida para conseguir transformar estas metas em realidade?
Gabriel Couto – O fundamental para poupar é ter organização nas finanças pessoais. Não basta ter apenas uma noção dos gastos e receitas familiares mensais, o ideal é ter um controle escrito com todos os desembolsos previstos e recebimentos para cada mês. Pode ser no papel ou em uma planilha no computador, mas o ideal é saber com antecedência quais serão as obrigações em cada período, não gastar mais do que se recebe, e, se possível, reservar parte do salário para poupança, se necessário cortando despesas com bens e serviços não essenciais. O início do ano, por exemplo, concentra uma série de contas altas para as famílias: IPVA, IPTU, matrícula e material escolar, etc. Ao prever a chegada desses gastos, é possível poupar nos meses anteriores e não ter problemas com o pagamento depois. Por fim, deve-se evitar de todo o jeito se endividar em modalidades como cartão de crédito e cheque especial, que possuem taxas de juros altíssimas. Se a pessoa precisar de financiamento, o ideal é procurar o banco, que oferecerá linhas de crédito com taxas mais favoráveis.
Tribuna Ribeirão – Qual o grande desafio dos empresários para este ano?
Gabriel Couto – Os empresários devem estar atentos ao ritmo de retomada do setor em que atuam, em um ano que deve ser marcado pela recuperação. Os diferentes segmentos da economia tendem a melhorar em ritmos distintos, então é preciso analisar com cuidado novos investimentos e contratações. Outro ponto a se monitorar é o sucesso das reformas econômicas do governo, nas quais se baseiam praticamente todas as expectativas de recuperação sustentada. Por fim, os empresários devem monitorar sempre mudanças estruturais que a tecnologia tem trazido aos negócios e estarem sempre prontos a mudar. Grandes negócios já deixaram de sobreviver por não saberem se adaptar a mudanças, que ocorrem em ritmo cada vez mais acelerado.