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Paulinho da Viola vive nova celebração

Por Matheus Mans, Especial para o Estadão

Paulinho da Viola atendeu ao telefone, para falar com a reportagem do Estadão, com uma espécie de celebração. “É muito bom falar com você. Depois desse tempo todo, a gente sente falta de falar com a imprensa”, afirma o músico de 79 anos. A saudade não é à toa: Paulinho, desde o começo da pandemia, conta que saiu pouco de sua casa no Rio de Janeiro. Respeitou a quarentena, esperou a vacinação caminhar. Agora, aos poucos, começa a retomar parte de sua rotina de viagens e gravações. Mas sempre com a calma característica e o pensamento ordenado.

No final de 2020, Paulinho saiu pela primeira vez de seu refúgio – ainda que nem tanto. Ele lançou o disco Sempre se Pode Sonhar, gravação de um show que fez no Teatro Fecap, em 2006. “Quando terminou o show, fiquei com a gravação. Guardei durante anos. Até que veio essa ideia”, diz. Depois, em novembro deste ano, consagração máxima: Sempre se Pode Sonhar venceu o Grammy Latino na categoria de melhor álbum de samba. “É uma forma de incentivo”, celebra o sambista. “A gente sabe que nosso trabalho é reconhecido até fora daqui.”

Agora, como que para fechar um ciclo, o carioca sai de sua casa no Rio para uma apresentação em São Paulo do disco Sempre se Pode Sonhar. No palco do Tom Brasil neste sábado, 4, o compositor e cantor vai se reencontrar com o público dois anos após seu último show antes da pandemia. No repertório, mistura de músicas do disco com clássicos indispensáveis. “É um reencontro”, define Paulinho. “Nunca fiquei tanto tempo assim sem contato com as pessoas, com o público. Não sei dizer o que estou sentindo.”

Depois de Grammy e show, Paulinho da Viola começa a falar sobre o seu álbum de inéditas

É persistente, e até um pouco chato, fazer aquela pergunta de sempre para Paulinho da Viola: “E o disco de inéditas?”. Esse assunto já virou lenda, mito, talvez até superstição. O último foi o já clássico Bebadosamba, de 1996. Desde então, mais nada. No entanto, quando se volta ao tema se está vindo alguma novidade por aí, surge a calma de Paulinho. A serenidade. “Eu sou muito questionado sobre isso. Até parentes me colocam na parede”, diz ele, rindo dessa sina, ao ser questionado pelo Estadão. “Mas sempre fui assim. Nunca fui de compor muita música, não.”

Os fãs de Paulinho podem se alegrar: tem coisa nova a caminho. “Nesse período, comecei a ter ideias com composições de violão. Também tive ideias de alguns sambas que preciso trabalhar mais um pouco. Tenho uns quatro sambas prontos e algumas melodias, muita letra começada. Também comecei a ver coisas que já escrevi há algum tempo. Tudo isso faz parte da minha vida hoje”, conta. No entanto, para esse disco de inéditas sair, ainda há dois obstáculos para Paulinho: o esmero com cada gravação e a tranquilidade para sair de casa.

“Primeiramente, falando sério, eu ainda estou um pouco assustado (com a pandemia). Estou esperando melhorar, com um pouco mais de segurança para entrar em um estúdio e fazer gravações. São várias pessoas em um mesmo lugar, sempre falando. Algo complicado neste momento. Por isso (o disco de inéditas), deve ficar para o ano que vem”, explica. “E eu também tenho uma coisa de sempre mudar a letra, a melodia, sabe? Não é recomendável, mas já mudei muita música minha em estúdio. É o meu jeito de trabalhar.”

Sobre isso, ele conta, com certa tristeza, a história de uma música que seguiu por esse caminho: Meu Novo Sapato – que foi censurada durante a ditadura militar, quando tinha o título de Meu Sapato. Ele conta que precisou mexer na letra e não reparou que uma palavra foi mal-empregada. “As pessoas veem um significado ali que não tem absolutamente nada a ver”, observa ele, chateado. “Nunca mais consegui cantar essa música.”

PROCESSO. Paulinho também não é daquelas pessoas que sentam, pegam o violão e vão escrevendo versos, refrões e melodias. O carioca diz que a música, para ele, nasce no dia a dia, do nada, quando menos se espera.

“Nunca tive essa coisa da disciplina com a composição. Isso de acordar, tomar um café e começar a fazer música. Já tive muita ideia quando estava acordando, sabe? E eu nem sabia se estava acordado ou não. E vinha aquilo na cabeça. Quando estava dirigindo, tarde da noite, vinha de Copacabana pra cá, entrava no túnel e algumas vezes, eu não sei por qual razão, me dava conta que estava fazendo a melodia de uma música. Não tinha gravador, estava dirigindo. Quando me dava conta que tinha a melodia, era uma coisa engraçada. Ela estava presente na minha cabeça, mas, ao mesmo tempo queria fixar, repetir. O que acontecia? Ela mudava. E nunca mudava para melhor”, lembra ele, aos risos.

Com isso, fica no ar: quando vai surgir mais inspiração para Paulinho? Quem já o conhece, sabe que isso pode ficar para depois por conta da necessidade de mexer em uma letra aqui, uma nota ali, um som de cavaquinho acolá. Ele, aliás, nem vê o tempo passar. “É engraçado, a gente fica em casa sem fazer nada, mas parece que o tempo passa cada vez mais rápido”, acrescenta. “Às vezes, nem sabia em que dia da semana a gente estava direito. No final, o tempo passa depressa e a gente não percebe isso.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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