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Paulinho Brasília, o artista

Hoje, em minha crônica semanal, quero prestar uma homenagem a este ser humano de primeira qualidade: Paulinho Brasília, mari­do exemplar, pai carinhoso e amigo como poucos. Ele aportou em Ribeirão Preto, vindo da capital federal, e foi morar na pensão da mãe do Tarciso. Ali fez amizades que até hoje produz frutos, e entre tantos amigos estão Raimar, Raí e Sócrates, os irmãos Vieira de Oliveira.

Em Brasília, aprendeu os primeiros acordes no braço e cordas de seu violão. Disse-me que, ainda menino, compôs algumas canções, entre elas “Lá vem você”, que adoro e sempre coloco pra tocar no programa que apresento aos domingos na 91.3, Rádio Thathi FM e Rádio 79 AM, das nove ao meio-dia, o “Bueno Canta e conta”.

Fico na rádio durante três horas, na companhia de meu querido amigo Maurício Bailoni, líder da Banda Eles e Elas e que carinho­samente chamo de “Maurício Maestro” dado a sua competência, talento e criatividade em fazer arranjos maravilhosos em músicas de diversos seguimentos. Minhas músicas deixo em suas mãos e ele as lapida com maestria.

Entre uma canção e outra, conto causos, geralmente vividos por mim e artistas com quem convivi ou por ter lido em algum livro. Comentamos também como o compositor se inspirou pra compor determinada música, pois todas têm sua história.

Paulinho conta que, com 19 anos, decidiu montar um bar, na esquina das ruas Florêncio de Abreu com Marechal Deodoro, e ali criou sua primeira empreitada, o “Gato e Sapato”. Era dono do bar e cantor da casa. Não demorou muito, caiu no gosto da rapaziada, e ele com seu gosto musical refinado seguia em frente.

“Gato e Sapato” tornara-se pequeno para um sonho tão grande, então foi pra rua Quintino Bocaiúva, atrás do Banco Itaú, e criou ali o famoso “Bar Bye Brasil”, mas com o tempo vendeu sua parte para o sócio Raimar e abriu outro na mesma rua, um pouco à frente, onde ficou até construir, na avenida Nove de Julho, próximo à avenida Portugal, a nova versão do Bar Mania, o mais charmoso de Ribeirão Preto. A arquitetura, o projeto do som… tudo estava nas mão de quem entendia do riscado.

Paulinho conta que os artistas adoravam cantar lá. Era muito simples, e como o simples é belo, o Bar Mania aumentou seu públi­co, a música que se ouvia era da mesma qualidade com que nosso cantor e compositor conquistou os jovens que seguiam sua carreira.

Cantando MPB de qualidade ele viu nascer ali muitos romances, casais vinham para namorar, pra novas conquistas e Paulinho se diz responsável por inúmeros casamentos. E os namorados continua­vam a frequentar o Bar Mania com a mesma fidelidade.

Era um bar em que não se ouvia música sertaneja, até porque não era sua praia. Ele seguia a linha com que se deu bem e também ninguém pedia, mas uma noite o bar estava lotado e alguém pediu para o garçom entregar a Paulinho um bilhete pedindo para ele cantar “No mandiocal”.

Paulinho até levou um tranco, ficou na dele, pensava que era sertaneja, minutos depois chegou o mesmo pedido: “Cante ‘No mandiocal’”. Ele disse ao microfone que não sabia tal música, o clien­te levantou-se e foi até o palco e, ao seu lado disse: “Paulinho, você sempre canta essa música aqui, já ouvi muitas vezes”.

Nosso artista pediu pra que ele cantasse um pedacinho e o cara mandou ver: “No,no mandiocal”… Pela melodia, Paulinho matou no ato qual era a música, mas quase teve um troço com a letra que o cliente pensou que fosse. Riu muito e disse: “Agora sim, vou cantar”. A música é de autoria de Bob Marley, “No woman, no cry”. A sono­rização dela cantada em inglês enganou o cliente, Gilberto Gil fez a versão e deu nome de “Não, não chores mais”.

Bar Mania e Paulinho tem milhares de histórias que futuramente contarei aqui. A vida seguiu, a clientela do Bar Mania envelheceu, quase não saía mais de casa e assim, 17 anos depois, Paulinho fechou seu delicioso bar. Porém, pra nos brindar com sua voz e seu talento, ele continua cantando.

Sexta conto mais.

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