A pandemia do novo coronavírus (covid-19) deixou esportistas apreensivos em todo o mundo. Além da preocupação com a saúde, predomina a incerteza sobre o retorno de torneios e treinamentos. No caso de Felipe Kubo, de 16 anos, não basta essa situação se regularizar no Brasil. Há três anos, ele vive em Minnesota (Estados Unidos) e estuda, com bolsa parcial, na Shattuck St. Mary’s, escola considerada um centro de excelência na patinação no gelo – modalidade que Felipe abraçou aos 11 anos, quando ainda deslizava em pistas de shoppings e pela qual já compete internacionalmente.
Como a maior parte dos alunos (cerca de 70%), o paulista mora na própria instituição. O avanço da pandemia, que tornou o país norte-americano o atual epicentro da covid-19, levou os estudantes a retornarem a suas casas (no caso de Felipe, ao Brasil). Mas, nos últimos dias, uma boa notícia: ele já tem previsão de retorno à escola. “Será no fim de julho, para treinar. As aulas recomeçam na segunda quinzena de agosto”, conta à Agência Brasil.
Enquanto vive a expectativa pela volta às pistas de gelo da instituição, Felipe utiliza o isolamento para aprimorar a parte física, com aulas online dadas pelo técnico, que está nos EUA, e exercícios de flexibilidade, alongamento e balé. Com o calendário de torneios ainda indefinido, ele mantém o foco e evita pensar, por agora, em eventos como o Mundial de Patinação ou os Jogos de Inverno (programados para fevereiro de 2022 em Pequim, na China). “São objetivos, mas temos que dar essa paradinha para, primeiro, retomar os treinos e competições para buscar índices.”
Maturidade que Felipe precisou mostrar ainda mais cedo. Ele se mudou para Minnesota com apenas 13 anos, após participar de um camping de treinamentos e ser convidado para treinar e estudar na Shattuck. “Foi uma adaptação difícil no começo por causa do tamanho da pista. Faltava fôlego”, recorda o atleta, que passou a patinar em um rinque oficial, de 1,8 mil metros quadrados (m²). Para ser ter ideia, a pista da Arena Ice Brasil, inaugurada este ano em São Paulo e maior do país, tem 500 m².
Tatiana Kubo, mãe de Felipe, também teve que se adaptar com o filho tão distante. “O primeiro ano, particularmente, foi bem difícil. Ele tinha só 13 anos e estava indo para estudar também. Tinha receio de como ele iria se virar e se teria responsabilidade, mas ele se mostrou bem maduro para a idade”, afirma à Agência Brasil.
A família, aliás, tem um pouco de influência no gosto de Felipe por patinação. “A minha irmã Júlia já fazia aula de patins em rodas. Era com a turma dela que treinava quando não tinha pista de gelo em São Paulo”, conta o jovem, que, apesar de ter praticado judô, ginástica artística e natação, encantou-se mesmo pelo esporte no gelo graças ao espetáculo Disney on Ice, que reúne apresentações artísticas com personagens como Mickey Mouse e Pato Donald patinando em superfície congelada.
A carreira, para a qual despertou após participar de um período de treinos com os técnicos de Isadora Williams (principal nome da patinação no gelo do Brasil) em Nova Jersey, ainda é precoce. Em 2018, ano em que foi campeão brasileiro, ele disputou pela primeira vez uma competição válida pela União Internacional de Patinação (ISU, na sigla em inglês), em Budapeste (Hungria), na categoria novice (novato, em inglês). No ano seguinte, patinou um nível acima (junior), em um torneio em Bratislava (Eslováquia).
“Na primeira competição, com certeza eu era o menos experiente. A maioria dos meninos começa a patinar com 5, 6 anos. Achei que fosse ficar congelado e patinar como um robô. Fiquei contente, mas sei que podia fazer melhor. Já no ano passado, pude aumentar a pontuação”, completa Felipe, que se por um lado já sabe quando voltará a treinar, por outro aguarda a definição de quando poderá competir outra vez. “Por enquanto, o calendário está indefinido”, conclui.
Edição: Fábio Lisboa