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Pastores manipulam verbas do Ministério da Educação

“Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar [Santos]. Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”. Isso foi o que disse Milton Ribeiro, ministro da Educação, em áudio obtido pelo repórter Paulo Saldaña, da Folha de S. Paulo, sobre a atuação de pastores evangélicos para intermediar a liberação de verbas federais do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação para prefeituras. Gilmar Santos é pastor de uma igreja de Goiânia, ligada à Assembleia de Deus.

Já escrevi, aqui, algumas vezes, que a Educação e a Cultura são as arenas escolhidas pela extrema-direita no Brasil para travar a grande batalha ideológica pelo domínio da sociedade. Damares, por exemplo, está no governo justamente para isso. É a tal pauta dos costumes que norteia a inserção dos grupos conser­vadores no governo Bolsonaro. Para isso o mau caratismo e a senvergonhice despudorada não excluem nem mesmo os pastores de algumas igrejas evan­gélicas. Agora, o Ministério da Educação virou balcão de negócios de pasto­res que apadrinham prefeitos para conseguir verbas para seus municípios.

O MEC tem sido uma das maiores tragédias do atual governo. Quatro ministros em menos de quatro anos. Primeiro foi Ricardo Vélez que chegou a pedir aos diretores de escolas que filmassem seus alunos cantando o hino nacional, recitando o lema de Bolsonaro em sua campanha: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Depois veio Abraham Weintraub que, entre diversas polêmicas, chegou a chamar os juízes do STF de vagabundos. O ter­ceiro, Carlos Decotelli, ficou treze dias como ministro e teve sua nomeação cancelada devido a mentiras que colocou em seu currículo.

Agora, o quarto, o pastor Milton Ribeiro, protagoniza o escândalo da semana. Em tempos normais, esse ministro da Educação estaria preso e o presidente estaria sendo convocado por quem de direito para, no míni­mo, prestar esclarecimentos. Mas como disse o escritor e jornalista Eric Nepomuceno, “há muito tempo – pelo menos desde o golpe institucional que tirou Dilma Rousseff da poltrona presidencial – o Brasil deixou de ser um país normal. E debaixo das ferraduras de Jair Messias, os tempos são cada vez mais anormais.” Essa é a nossa tragédia. E justamente na Educação se fazem as maiores lambanças da República.

É evidente que existe um gabinete paralelo no MEC. Vendilhões do templo, sem integrar nenhum cargo no governo, negociam com prefeitos a liberação de verbas federais. O ministro Milton Ribeiro atende com especial deferência dois desses mercadores da miséria, Gilmar Santos e Arilton Moura. Um prefeito disse que um pastor pediu um quilo de ouro para libe­rar verbas no MEC. A PGR e o TCU pretendem investigar. A razão dessa atenção preferencial é uma só: ele cumpre instruções do presidente. Está em pleno vapor o que Bolsonaro afirmou há duas semanas a um grupo de pastores: seu governo faz o que eles pedem e defendem.

A simbiose do Império Romano com o Cristianismo, a partir do Edito de Milão, em 313, é que deu origem a essas igrejas vocacionadas para o controle do Estado, com base em um pretenso universalismo cristão. Isso nada tem a ver com o Evangelho de Jesus de Nazaré. Em seguida, a luta das investiduras entre reis e papas iniciou uma disputa que desembocou no Iluminismo e nas revolu­ções burguesas, com a defenestração das igrejas do seu poder político.

De lá pra cá, as viúvas do reino dos homens continuam sonhando com a volta da cristan­dade e da teocracia medieval. São, afinal, os arautos da restauração do poder político da Igreja (agora, igrejas) sobre toda a sociedade. Deus nos livre!

Não são apenas algumas igrejas evangélicas que aderiram ao lixo teoló­gico e hermenêutico com aparência de espiritualidade evangélica. A Pastora Lusmarina Campos Garcia afirma que uma parte das igrejas protestantes e mesmo grupos católicos também adotaram a mediocridade como método e a espiritualidade como disfarce para a adoção de um projeto de conquista do poder. Trata-se de um projeto de conquistar o país para as suas igrejas com a destruição do Estado laico. O assalto aos cofres do MEC faz parte desse projeto. E podemos ter certeza: se tirarem o nosso já frágil Estado laico da Constituição, como pretendem, no outro dia implantam a Inquisição!

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