Quando a gente imagina que já viu de tudo, aparece mais esta. E, mais uma vez, utilizando o nome de Deus em vão, um pastor midiático simplesmente incita os evangélicos a matarem a população LGBTQIAPN+. Foi no último domingo, 02/06, quando o bolsonarista André Valadão transmitiu um culto ao vivo, intitulado “Teoria da conspiração”. A transmissão foi feita em Orlando, nos Estados Unidos, pela Igreja da Lagoinha, cuja sede fica em Belo Horizonte. “Agora é a hora de tomar as cordas de volta e dizer: Pode parar, reseta! Mas Deus fala que não pode mais”, afirmou o pastor. Ele disse ainda: “ já meti esse arco-íris aí. Se eu pudesse, matava tudo e começava de novo. Mas prometi que não posso, agora tá com vocês”.
Por fim, Valadão retoma a sua pregação de ódio e de morte e incita seus seguidores a agirem: “não entendeu o que eu disse? Agora, tá com vocês! Deus deixou o trabalho sujo para nós”. Parte do movimento evangélico é movida por uma “teologia de lixo”, como já afirmou a Pastora Lusmarina Garcia, da Igreja Luterana. Com o pastor da igreja da Lagoinha não é diferente. Imagine você, que lê este texto, se o Deus do amor e da vida iria ordenar a morte de alguém! Valadão, no seu fundamentalismo sem pudor, deve estar atualizando a carnificina sofrida pelos profetas de Baal no 1º Livro de Reis 18, 40. E ficamos a nos perguntar: onde essa gente fez seus cursos de teologia para serem pastores e pregarem a Palavra de Deus?
Uma corrente de indignação tomou conta das redes sociais durante a semana. Figuras públicas usaram suas redes para exigir providências efetivas, após o bolsonarista dizer que Deus mataria homossexuais e transexuais. A primeira reação veio do senador Fabiano Cantarato, que representou criminalmente no MPF contra o pastor. O MPF já abriu uma investigação formal. O autor do procedimento que apura a prática de homotransfobia é o procurador-regional dos Direitos do Cidadão no Acre, Lucas Costa Almeida Dias. Outras personalidades como Thiago Amparo, Mateus Carrilho, Felipe Neto, Zélia Duncan, entre outros, pediram punição exemplar para o bolsonarista.
Para o pastor, ao normalizar as relações homoafetivas e “deixar viver”, as pessoas estariam abrindo as portas da família para a promiscuidade e a perversão. O discurso de ódio de Valadão não é novidade. No mês passado, ele fez uma verdadeira cruzada digital contra a comemoração do mês do orgulho LGBTQIAPN+. Na mesma igreja em Orlando, ele chegou a comparar gays a criminosos e afirmar que “ao lado de imorais, os homossexuais não herdarão o Reino de Deus”. À época, a deputada federal Erika Hilton protocolou uma denúncia contra ele no MPF de Minas Gerais por crime de homotransfobia. Com as novas declarações, a deputada reforçou a denúncia e pede a ampliação da investigação já em curso.
Outro que reagiu à pregação foi o apresentador da GloboNews, Marcelo Cosme. Ele é ativista da causa LGBTQIAPN+ e desabafou em vídeo nas suas redes sociais: “este pastor bolsonarista está defendendo a morte de pessoas como eu. Eu sou gay”. Ainda durante sua fala, o jornalista questionou se haverá punição contra as declarações criminosas de Valadão. “O que nós estamos esperando para parar esse homem que instiga a morte de pessoas LGBTQIAPN+ no Brasil?”, pergunta. O que essa gente pretende é derrubar o nosso Estado laico com a argumentação de que a sociedade é religiosa. Negam o Estado laico diariamente. A tal bancada evangélica no Congresso faz disso a sua pauta fundamental.
Querem implantar por aqui uma república parecida com a do Irã ou de outras ditaduras em que as relações homoafetivas são punidas com a morte. Por fim, refiro-me, mais uma vez, à Pastora Lusmarina que afirma: “a ação de pessoas e instituições evangélicas que tomam como referencial os princípios éticos advindos da Reforma Protestante, radica-se na busca […] de um Estado laico respeitoso da complexidade religiosa, cultural, étnica, sexual, que serve ao conjunto da população com a finalidade de implementar políticas inclusivas, produtoras de igualdade radical. Esta é a ética pela qual se pautam as lideranças evangélicas comprometidas com sociedades justas e solidárias”. Disse tudo, pastora!