Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Junto com a primavera, com suas cores e olores, vem também a passarada. Quando o sol começa a vencer a noite, lançando sua claridade na madrugada, ouço o canto estridente das saracuras rompendo o silêncio – três potes, três potes, três potes –, as mesmas saracuras que, no final da tarde se lançam na piscina de minha casa e depois fazem um meticuloso toalete em suas asas e penas. Nem bem os raios de sol colorem o céu e o alarido das maritacas, com sua sinfonia interminável saúda o dia que chega.
Agrupam-se nos coqueiros e palmeiras do meu quintal e, de vez em quando, realizam voos arruaceiros. É também tempo dos sabiás, que começam cedo e estendem pelo dia todo seu canto característico. É o sabiá-poca , o sabiá-laranjeira, o sabiá do campo e outros primos que na fase de acasalamento procuram suas parceiras, impressionando-as com sua melodia clara, ritmada e bonita. No local onde pomos diariamente quirera de milho, o café da manhã das aves obedece a um processo que se repete a cada dia. Primeiro, vem as rolinhas, os fogos-apagou, as pombas.
Sempre há as rolinhas chatas, que pretendem comer sozinhas, tentando afastar as primas com uma de suas asas abertas, a fim de parecerem maiores e mais agressivas. Mas, há comida para todos. Depois, vem as aves menores: tico-ticos, cambacicas, coleirinhas,tizius, canários-da terra, com seu amarelo que se destaca ao sol, gaturamos , saíras que catam os pequenos grãos não comidos pelos maiores.Meu caseiro traz pão velho todos os dias da padaria e espalha pelo chão. Aí os bem-te-vis descem das árvores e disputam os pequenos pedaços.
Um passarinho pequeno, a carriça, saltita entre as folhas do canteiro, em busca de insetos ainda menores. No sossego da varanda, um casal de gaturamo-rei fez seu ninho no meio das folhas pendentes de um vaso, tão camuflado que só notamos quando vimos um deles sumir na folhagem. Todos utilizam uma grande bacia de cimento cheia de água para matar a sua sede.
Pelo mesmo uma vez por semana, recebemos a visita de um ou dois tucanos, que se empoleiram numa árvore grande e de onde vigiam os coquinhos vermelhos das palmeiras. Também nos visita um casal de íbis que parece preto, mas que na realidade é verde bem escuro, notado somente quando bate o raio de sol. Com seus bicos longos e convexos, logo depois da irrigação, furam buracos em busca de minhocas e pequenos insetos na grama molhada.
À tarde, fazem um barulho agudo, quando se recolhem aos galhos das árvores para dormir. De vez em quando, os curicacas que ficam no campo de esportes do condomínio vem até o grande pau-ferro da casa e ali emitem seu canto meio desafinado.
Este campo de esportes acolhe também os quero-queros, que nidificam no chão e protegem suas crias com voos rasantes nas pessoas que se aproximam dos ninhos. Anus se penduram nos galhos baixos das árvores, enfeitando-as de preto e branco sujo. Um casal de maguaris caminha devagar e majestoso pela grama, enquanto os joões-de-barro permanecem bem perto dos caminhantes.
Em casa,de repente, quando as aves estão comendo, levantam um voo desesperado e todas somem. É sinal de que o carcará, que tem ninho na árvore do vizinho, está prestes a aprontar das suas. Quando às tardes, molho minhas vandas penduradas no pinheiro em frente ao meu escritório, surge sempre um beija-flor azul brilhante, que bordeja a cascata de água e pousa num galho. Cuidadosamente, desvio a água para a árvore e o beija-flor se banha despreocupado, limpando suas asas.
Os pássaros são fundamentais para a natureza, encantam nossos olhos e cumprem relevante papel na nossa vida e da Terra. Felizmente, cresce o sentimento de que devemos preservá-los.
* Presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis