Por Alice Ferraz
Conhecida como a capital da moda no mundo, Paris se prepara para a primeira Fashion Week presencial pós-pandemia, que começa na segunda-feira, 27. O evento, que atrai clientes, imprensa e compradores do mundo todo, deve gerar 10,3 bilhões de euros em transações comerciais durante todo o ano, segundo a federação da alta-costura e da moda francesa.
Paris, para esta temporada, mais uma vez une arte e moda ao trazer a obra do búlgaro Christo (1935- 2020) para vestir um dos seus monumentos mais importantes, o Arco do Triunfo. A ideia teve início nos anos 1960, quando o artista plástico morava com a esposa e companheira profissional, Jeanne-Claude (1935-2009), na Avenue Foch, em Paris.
De sua janela, o casal imaginava conseguir um dia empacotar o monumento que Napoleão Bonaparte mandou construir em 1806 para comemorar as vitórias do exército francês que ele, claro, estava à frente. Paris tinha um espaço especial nos corações do casal, pois foi lá que se conheceram, casaram-se, tiveram seu único filho e, agora, é a cidade que será palco deste trabalho póstumo
Christo e Jeanne-Claude costumavam declarar que seus projetos “não continham nenhum significado mais profundo do que seu efeito estético”. Seu propósito, repetiam, era “trazer novas formas de ver o familiar, mexendo com as percepções humanas sobre a arquitetura, além de trazer beleza e alegria”. Apesar de terem deixado registros detalhados sobre como a obra deveria ser executada, é certo que a dupla não imaginava que este momento aconteceria justamente na Semana de Moda de Paris, em que o “vestir” é protagonista. Foram necessários cerca de 100 funcionários para realizar esse sonho, uma das mais audaciosas obras do casal que, é preciso lembrar, já chegou a “vestir” o Reichstag, palácio onde fica o parlamento, em Berlim, 11 pequenas ilhas na Baía de Biscayne, no sul da Flórida, e a Pont Neuf, também na capital francesa.
Existe uma simbologia instantânea que relaciona o acontecimento ao momento de transformação que a moda mundial vive. Estamos todos empacotados com roupas que simbolizam e trazem uma fotografia do nosso tempo e de como queremos ser vistos. Essa imagem, no entanto, pode ser alterada de acordo com tecidos, cores, fluidez, assim como na obra de Christo e Jeanne-Claude. Os 25 mil metros quadrados de tecido que cobrem o Arco são recicláveis, como pedem os novos tempos nas nossas próprias escolhas de vestimentas.
As cores escolhidas pelo duo são prata com reflexos azulados e trazem um brilho instantâneo, que também é tendência na moda, em um momento que queremos iluminar nossas roupas no caminho do pós-pandemia. A arte de Christo e Jeanne-Claude segue atual, na medida certa e em sintonia com os propósitos contemporâneos. Não à toa a arte sempre inspirou – e seguirá inspirando – a moda e suas transformações. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.