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“Pare! Estou comprometida”

O Professor Doutor Luiz Mors Cabral, autor de vários livros – um deles, O Brasil de Darwin, já comentado nesta coluna –, escreveu interessante artigo para a revista Natureza, onde analisa os pigmentos que dão as mais variadas colora­ções às flores, o que serve de atração para abelhas e outros insetos. Passeando pelo interior delas, acabam levando o pó­len, com o que fecundam outras flores, num processo milenar de preservação das espécies vegetais.

Destaca que um número expressivo de plantas tem a capa­cidade de mudar a cor de suas flores, exemplificando com duas espécies bastante conhecidas de todos nós: o manacá, com flores brancas e depois azuis e a lantana, com cores variadas e mutan­tes. E porque isto ocorre.

Em bem justificada exposição, o autor nos conta que as flores mudam sua cor para avisar os polinizadores que já foram fecundadas e que eles ganharão tempo procurando ainda espécies virgens. Curiosa capacidade desenvolvida pela seleção natural e provada in loco, na minha casa: minha esposa trouxe do orquidário um vibrante exemplar de Catleya híbrida, com enormes pétalas amarelas e labelo vermelho cla­ro, logo atraindo a atenção de várias abelhas. No dia seguinte, para nossa surpresa, as pétalas tinham se tornado brancas. Foi só com a leitura do artigo citado é que aprendemos a mensa­gem da orquídea: “Pare! Já estou comprometida”.

As flores fazem parte da história do mundo desde seus pri­mórdios. Fósseis de plantas floridas foram datados de mais de 140 milhões de anos. Os vegetais sempre foram a maior varieda­de de vida em nosso planeta. E as flores, além de fundamentais para sua existência, decoram e encantam a todos nós.

Os gregos, com sua criativa mitologia, têm muitas lendas sobre as flores. Chlóris, a deusa das flores, chamada de Flora pelos romanos, transformou o corpo morto de uma ninfa encontrado num bosque em uma flor. Afrodite deu-lhe a pró­pria beleza e Dionísio, o deus do vinho, deu-lhe o néctar para produzir seu perfume.

Chlóris então evocou Zéfiro, o deus do vento oeste, que com seu sopro afastou as nuvens, permitindo que Apolo, o deus sol a fizesse crescer e se transformar na rosa, a rainha das flores.
Clytie, ninfa da água, apaixonou-se por Apolo, o deus Sol. De­pois de corresponder ao amor, Apolo abandona a amada, que não se conforma com o rompimento e, todos os dias, posta-se no solo, acom­panhando o movimento da carruagem do sol no firmamento. Os deu­ses então se apiedam da situação de Clytie, transformando-a numa flor, que acompanha diariamente o caminho do Sol, o girassol.

Com o crescimento da humanidade, as flores se transforma­ram em símbolos variados. As brancas são testemunho da pure­za, da paz, do perdão, da compreensão; as vermelhas, a prova da paixão, do arrebatamento, manifestação de amor; as amarelas, alegria, satisfação e amizade; as violetas, dignidade, mistério, aristocracia; as verdes, esperança, sorte, prosperidade; as laran­jas, cor do fogo, beleza e juventude. Quando agrupadas em mais de uma cor, as flores também exibem significado: vermelhas e amarelas representam a felicidade; em tons claros, amizade e solidariedade; vermelhas e brancas, união e harmonia.

À imagem das flores, se encantam nossos olhos e os nossos ambientes, também nos lembram da brevidade da vida, pois todas vivem pouco tempo. Algumas, se são belíssimas como a rosa, ostentam espinhos para nos lembrar das vicissitudes e dificuldades de nossa existência. Mas, sem as flores nossos dias seriam pálidos e sem graça.

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