As pressões e exigências que vinham colocando o futuro da Uber em cheque tiveram resultado nesta quarta-feira (04), quando a empresa de transportes anunciou uma série de mudanças de governança aplicadas, principalmente, a seu quadro de diretores. As novas normas abrem caminho para a abertura de capital da companhia, que deve acontecer em 2019, e reduz ainda mais a influência do fundador e ex-CEO Travis Kalanick.
No centro da questão está a SoftBank, uma das maiores operadoras de telefonia do Japão, que demonstrou interesse em investir entre US$ 1 bilhão e US$ 1,25 bilhão no aplicativo de transportes. Para fazer isso, entretanto, a companhia exigiu uma série de mudanças na administração da companhia, voltadas, principalmente, para reduzir a participação e concentração de poder do grupo formado por Kalanick e seus associados.
Com as novas regras, ele fica praticamente impossibilitado de assumir novas posições de liderança e controle, não podendo nem mesmo sentar à mesa da diretoria durante as decisões importantes – tanto ele quanto o atual CEO, Dara Khosrowshahi, estão impedidos de fazer isso. Além disso, o comitê decretou o fim das ações de Classe B, possuídas por Kalanick e outros membros de seu círculo interno, que garantiam um peso 10 vezes maior para seus votos. Agora, todas as cotas têm poder decisório igual.
Como se isso não bastasse para reduzir a influência do fundador, a diretoria também aprovou uma medida que permite que qualquer investidor liquide imediatamente sua participação na companhia caso um antigo executivo volte ao posto de CEO. Como Kalanick é o único nesse tipo de posição, temos, mais uma vez, uma medida que mina seu poder de controle e é atrativa, principalmente, para a Benchmark Capital, empresa majoritária na Uber e que tem uma série de pendengas pessoais com o idealizador da companhia.
A SoftBank também solicitou uma expansão no quadro de diretores, com a adição de dois novos assentos a serem ocupados pela liderança da operadora. Agora, a mesa de controle da Uber conta com 17 assentos e todas as decisões majoritárias, principalmente uma mudança de CEO, precisam ser aprovadas por pelo menos dois terços dos presentes.
Por fim, o grupo votou um compromisso de abertura de capital da companhia até 2019, caso contrário os acionistas majoritários ficarão livres para venderem suas cotas na companhia. A previsão, entretanto, cabe com os comentários anteriores da diretoria da Uber, que já vinha sinalizando um IPO para um período de um a dois anos a partir das mudanças em suas operações, que vêm acontecendo desde o início de 2017.
As mudanças, entretanto, foram aceleradas por conta do interesse da SoftBank na empresa. E ele é sério o bastante para justificar isso, uma vez que a companhia deseja não apenas investir, mas também adquirir ações e cotas dos acionistas atuais para assumir uma parcela de 14% a 17% de participação na companhia.
Aqui, temos outro desafio a ser encarado pela empresa, já que, para garantir o aporte de fundos pela operadora nipônica, ela terá de trabalhar junto aos acionistas atuais para que vendam parte de suas cotas – perdendo, com isso, poder de voto. Os caminhos apontam para o círculo de fundadores e membros iniciais da Uber, mas levando em conta o ímpeto de Kalanick e os rumores de suas tentativas de retomar o poder, isso não deve ser tarefa simples.
A aprovação das medidas, entretanto, representa o primeiro passo, mas não solidifica o negócio. O investimento da Softbank na Uber ainda carece de confirmação e, principalmente, de aprovação regulatória. Se tudo correr bem, o aplicativo de transportes deve chegar a um valor de mercado na casa dos US$ 69 bilhões.
Fonte: CNBC