A crise hídrica está de volta. Quatro anos após conviver com graves problemas no abastecimento de água, São Paulo e outros estados enfrentam a perspectiva de terem torneiras secas para boa parte da população. Um problema que poderia ser evitado, se as concessionárias de saneamento investissem mais na expansão dos sistemas de tratamento de esgoto e na redução de perdas d´água.
O fato é que o Brasil sofre há tempos com a falta de coleta e tratamento de esgoto e a alta taxa de perdas d´água no sistema. E se não houver uma grande injeção de investimentos no setor, a crise poderá se tornar perene.
Não estamos investindo o necessário para tratar mais esgoto e cumprir as metas de universalização do Plano Nacional de Saneamento Básico. Além disso, nosso índice de perdas d´água no sistema gira em torno de 38%, ou seja, estamos desperdiçando mais de um terço da água produzida no Brasil antes de ela chegar às torneiras.
Segundo estimativas do SINDCON, o Brasil necessita de mais 500 mil quilômetros de tubulações para atender às metas de universalização definidas pelo Plansab, que preveem esgoto tratado para toda a população até 2033.
Porém, o ritmo atual de investimentos nessa expansão de rede está bem abaixo do esperado. O Brasil precisaria investir cerca de R$ 22 bilhões por ano para atingir a universalização, mas só investiu R$ 11,7 bilhões em 2016. Mantido esse ritmo, estudos do SINDCON indicam que o Brasil chegará a 2033 com um déficit de aproximadamente 165 mil quilômetros de tubulações de esgoto.
Outro problema é a falta de investimento em redução de perdas d´água, assunto relativo à gestão das concessionárias de saneamento. Hoje, segundo cálculos do Instituto Trata Brasil, o país perde R$ 10 bilhões/ano com essas perdas.
O combate à crise hídrica não se resume às campanhas contra o desperdício. O Estado, por meio de concessões públicas ou parcerias com a iniciativa privada, precisa investir em planejamento, inovação tecnológica e produtividade para elevar a produção de água e, ao mesmo tempo, preservar os mananciais, tendo em vista o crescimento populacional estimado para as próximas décadas.
Há uma grande janela de oportunidade neste momento sendo discutida no Congresso Nacional, a Medida Provisória 844, que atualiza o marco regulatório do saneamento, criando condições para que o Brasil supere a insegurança jurídica que impede uma maior presença da iniciativa privada no setor, o que deve ampliar consideravelmente os investimentos para a universalização dos serviços.
Avançar nessa questão será uma demonstração de que finalmente o saneamento começa a se tornar uma prioridade nacional.