Tribuna Ribeirão
Cultura

Papa reconhece milagre de Padre Donizetti

O papa Francisco vai beatifi­car o padre brasileiro Donizetti Tavares de Lima, morto em 16 de junho de 1961. O anúncio foi divulgado nesta segunda-feira, 8 de abril, depois que o pontí­fice autorizou o decreto que re­conhece milagres ao religioso. Nascido em 3 de janeiro de 1882, em Cássia, em Minas Gerais, ele morreu aos 79 anos, em Tam­baú, na Região Metropolitana de Ribeirão Preto, onde implantou vários projetos sociais. Devoto de Nossa Senhora Aparecida, o padre atraiu milhares de devotos ao interior de São Paulo em bus­ca de milagres.

Papa Francisco vai beatificar Padre Donizetti ainda neste ano

O processo foi aberto em 1992, segundo a Arquidiocese de São Paulo. O milagre reco­nhecido pela Igreja Católica foi revelado na tarde desta segun­da-feira, no Santuário de Nossa Senhora Aparecida. É do meni­no Bruno Henrique de Oliveira, de 12 anos, que vive em Casa Branca. A mãe diz que ele sofria de uma deformidade conhecida como “doença do pé torto” e que as orações para a criança melho­rar foram feitas em nome de Pa­dre Donizetti. A enfermidade faz com que o pé vire para dentro. O tendão de Aquiles fica tenso, o que empurra o calcanhar para cima da perna e impede que o pé permaneça deitado no chão. Ocorre em aproximadamente uma em cada mil crianças.

A decisão de beatificar o padre de Tambaú foi anuncia­da depois do encontro do papa com o cardeal Angelo Becciu, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, responsável pelos decretos que se destinam a analisar os processos relativos a milagres. Desde 1909, como pároco, Padre Donizetti atuou em defesa dos mais pobres e dos trabalhadores explorados, além de organizar a assistência aos doentes, idosos, crianças e mães necessitadas. A tudo atribuía à Nossa Senhora Aparecida.

Santuário de Padre Donizetti em Tambaú: no detalhe, a redoma de vidro que guarda os restos mortais do religioso e futuro beato

A data cerimônia de bea­tificação de Padre Donizetti será agendada em maio, mas a expectativa é que ocorra no segundo semestre deste ano, provavelmente em novembro. Fiéis de Tambaú comemora­ram nesta segunda-feira (8) o reconhecimento de um dos mi­lagres realizado pela intercessão do sacerdote brasileiro Doni­zetti Tavares de Lima. Membro da comissão de beatificação, Leonardo Spgia Real disse que Tambaú vive o turismo religio­so com cerca de 200 mil visitas por ano e que esse reconheci­mento pelo Vaticano era espe­rado há mais de 50 anos.

De acordo com Real, o pa­dre Donizetti está em processo de beatificação desde 1992. Em 2008, houve o encerramento da primeira fase do processo de be­atificação, chamada de fase dio­cesana, e a conclusão desse tra­balho foi encaminhada em 2009 para Roma, que passou a anali­sar o processo. Em outubro de 2017, a congregação para causas dos santos reconheceu a virtude do padre tornando-o venerável.

A decisão foi anunciada du­rante audiência da Congregação das Causas do Santos. No even­to, o papa ainda reconheceu as “virtudes heroicas” de frei Da­mião de Bozzano (italiano ra­dicado no Brasil) e do paulista Nelsinho Santana, de Ibitinga. Com a condição, eles passam a ser considerados “veneráveis” pela Igreja Católica.

Filho de um advogado e de uma professora, ele era de uma família abastada, mas largou tudo pelo sacerdócio. Padre Donizetti viveu por 35 anos em Tambaú e na década de 50 co­meçaram os relatos de milagres que continuam até hoje. A fama de santo veio ainda em vida.

Na época, Tambaú tinha 4,5 mil habitantes (hoje são mais de 23 mil). Há relatos que em um único dia outros 200 mil romeiros estiveram na cidade em busca de graças. A situação começou a ficar perigosa e esse foi um dos motivos para que as benções chegassem ao fim.

Na década de 1990, come­çou uma pesquisa sobre a vida, virtude e fama de santidade do padre. Em 2017, a Congrega­ção para a Causa dos Santos concedeu ao padre o título de venerável. Com isso, ele pode ser oficialmente adorado den­tro das igrejas.

Dentre os trabalhos sociais que realizou estão a fundação do Asilo São Vicente de Paulo e da Associação de Proteção à Maternidade e Infância de Tambaú. Criou também a Con­gregação Mariana, a Irmandade das Filhas de Maria e o Círculo Operário Tambauense.

Segundo o Vaticano, o pa­dre era devoto de Nossa Se­nhora Aparecida e, em vida, já seria ligado a “sinais mila­grosos”. “Exerceu seu sacerdó­cio como Jesus, a serviço dos pobres, dos marginalizados e doentes. Viveu de maneira simples e humilde, sempre à disposição do povo”, diz texto divulgado pela Secretaria para a Comunicação da Santa Sé.

Também reconhecido pelo papa, Frei Damião nasceu em Bozzano, na Itália, em 5 de no­vembro de 1898, e morreu no Recife, em 31 de maio de 1997. Ele foi da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. O frade chegou ao Brasil em 1931, onde se dedicou “às populações mais pobres do país e às Santas Mis­sões”, diz o Vaticano.

Já Nelsinho Santana nasceu em Ibitinga, também no inte­rior paulista, em 31 de julho de 1955. Ele morreu em Ara­raquara em 24 de dezembro de 1964, aos 9 anos, em decorrên­cia de um câncer no braço (os­teossarcoma). De acordo com o Vaticano, o menino “pratica­mente morou” no hospital en­tre os sete e nove anos, onde fez a primeira comunhão.

Naquele período, chegou a ter o braço esquerdo ampu­tado. “Ele mesmo anunciou a sua morte previamente, na véspera do Natal. O lugar onde Nelsinho foi enterrado, com o passar do tempo, tornou-se alvo de muitas visitas por gra­ças alcançadas atribuídas a ele”, afirma texto da Secretaria para a Comunicação da Santa Sé.

Milagres
A Igreja Católica Apostóli­ca Romana analisou, particu­larmente, outros dois milagres atribuídos a Padre Donizetti. Um se refere exatamente ao menino Nelson Santana (1955- 1964), diagnosticado com oste­ossarcoma e morreu aos nove anos na véspera do Natal, e outro à Gaetana Tolomeo, cha­mada “Nuccia” (1936-1997), afetada por uma progressiva paralisia, transformou a dor em fé. Também foram anunciados o reconhecimento de milagres de mais cinco religiosos.

Carlo Cavina, sacerdote diocesano, fundador da Con­gregação das Filhas de São Francisco de Sales. Raffaele da Sant’Elia a Pianisi, sacerdote da Ordem dos Frades Meno­res Capuchinhos. Na relação estão ainda Damiano da Bo­zzano, sacerdote da Ordem dos Frades Menores Capuchi­nhos, Vittorino Nymphas Ar­naud Pagés, religioso do Ins­tituto dos Irmãos das Escolas Cristãs, e Consolata Betrone , religiosa da Ordem das Cla­rissas Capuchinhas.

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