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Pandemia, Vinícius de Moraes, Tom Jobim e a Casa Villarino

Um dos berços da bossa nova, localizado no centro do Rio, a Casa Villarino se juntou à longa lista de estabeleci­mentos prejudicados pela pandemia. Com 67 anos, o bar e restaurante localizado na avenida Calógeras informou que fechará as portas por tempo indeterminado. Pela Villarino passaram também outros grandes artistas, como Ary Barroso e Elizete Cardoso.
Músicos, poetas, intelectuais e personagens da boêmia ca­rioca marcaram presença no local, que serviu de “point” para as gerações seguintes. Foi entre as mesas da Villarino que, no verão de 1956, o jornalista Lúcio Rangel apresentou Tom Jobim a Vinícius de Moraes, para musicarem a peça “Orfeu da Conceição”, estreada meses mais tarde”.

Tom Jobim se apresentava em bares da boemia carioca, e criou um apelido para eles, que caiu no jargão popular, famo­so até hoje: “Inferninhos”. Vivia em uma dureza danada, que serviu para ser cunhada a frase eterna: “naquela época, eu disputava com o aluguel”.

Lucio Rangel, combinou com Vinícius de Moraes que iria apresentá-lo ao músico Tom Jobim, em um bar no Centro do Rio, a “Casa Villarino”, onde o poeta explicou tudo o que pen­sava sobre a criação da peça teatral, “Orfeu da Conceição”.

Tom ficou quieto, prestando muita atenção e “num repen­te”, fixou os olhos no poeta, se lembrou do aluguel atrasado e da pindaíba danada em que se encontrava e indagou: Vai ter um dinheirinho? Vinicius corou e quase chorou.

Segundo Tom, ele passaria a vida inteira morrendo de vergonha, mas o momento financeiro, infelizmente, era de­solador. Assim nascia “Orfeu da Conceição” e uma parceria que escreveria uma das paginas mais lindas e importantes da Música Popular Brasileira.

Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim nasceu no dia 27 de janeiro de 1927, em uma casa localizada na rua Conde de Bonfim, no bairro da Tijuca, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O músico nasceu em sua casa, em um parto realizado pela mesma pessoa que trouxe o sambista e compo­sitor Noel Rosa ao mundo, conforme revela o livro “Antônio Carlos Jobim, um homem iluminado”, de Helena Jobim.

Um dos artistas brasileiros que teve maior projeção no exterior, Tom Jobim foi um maestro, músico, cantor, pianista e compositor que, acima de tudo, amava o Brasil, com sua fauna, flora costumes, cultura e seu povo.

Desde sempre, um apaixonado pela alegria, a boemia, os bares e o jeito de ser do carioca. Alguns o consideram o maior gênio da música brasileira. Suas obras ajudaram a Mú­sica Popular Brasileira (MPB) a ficar conhecida no mundo, na década de 60 e reconhecido como um dos maiores composi­tores do século XX.

Anos depois, uma calamidade tomaria conta do mundo e de nós brasileiros, com uma sucessão de infelicidades, infor­túnios e adversidades iniciadas com a desastrosa ascensão de um presidente para comandar a nossa República Federativa e, nos dias atuais, a debilitação de nossa saúde, gerando in­certezas, dúvidas e indefinições e o pavor de mais, catástrofes e flagelos.

Diante do momento, olhamos para trás, atônitos e catatô­nicos, lembrando dos versos do poeta: “Se lembra da foguei­ra. Se lembra dos balões. Se lembra dos luares dos sertões. A roupa no varal, feriado nacional e as estrelas salpicadas nas canções. Se lembra quando toda modinha falava de amor, pois nunca mais cantei, oh maninha, depois que ele chegou…”

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