Os músicos e artistas são alguns dos profissionais drasticamente afetados pela pandemia do novo coronavírus (covid-19). Sem palcos em bares, pubs e casa de shows, eles tiveram que parar as atividades profissionais. Os músicos Márcio Coelho e Ana Favaretto, de Ribeirão Preto, encontraram uma alternativa: as serenatas.
“A pandemia me obrigou também a ser mais criativo ainda. Diante do problema que ela causou aos artistas – que foram os primeiros a deixar de trabalhar e serão os últimos a voltar para o trabalho normal, criei alguns projetos: o João de Barro, por meio do qual levo músicos para tocar nos pátios de condomínios, para amenizar a dor de quem está em casa e a falta de dinheiro no bolso do músico. Eu e a Ana vamos fazer serenatas virtuais e presenciais, no Dia das Mães”, adianta Márcio.
Ele diz que ela e a parceira de palco estão se reinventado. “Estamos fazendo lives, dando aulas por meio de gravações e lives, e fazendo shows exclusivos para escolas do Nordeste, por meio de gravações ou lives. Lancei, também, o cuso VPI – Violão Prático Para Iniciante, com vídeos, apostilas e áudios pré-gravados”, acrescenta.
Márcio é um músico reconhecido com dedicação em toda sua carreira no trabalho autoral. “Gravei meu primeiro LP com a banda ‘É Tudo Cena Dela’, em 1992, depois parti para carreira solo e, hoje, formo uma dupla com a Ana Favaretto. Com ela desenvolvo projetos cancionais, para crianças e adultos e, também, livros didáticos”.
Aos 19 anos, ele teve a oportunidade de gravar pela Odeon (Hoje, EMI-Odeon), mas não gostou do projeto. “Queriam que eu gravasse músicas comerciais, compostas por Rossini Pinto, que verteu para o português várias canções gravadas por Roberto Carlos. Pulei fora”, lembra.
Segundo ele, investir em projeto autoral é muito mais difícil, porém, muito gratificante. “Principalmente no meu caso, pois, sem me render ao poder da indústria cultural, consegui atuar em todo o Brasil e em quase toda a América-latina”, comenta.
Sobre os trabalhos, diz compor canções dentro da tradição cancional brasileira, sem ser xenófobo. “Mas dando preferência aos gêneros brasileiros. Embora eu seja, também, um acadêmico, meu processo de composição é o mesmo dos grandes compositores, que por sua vez é o mesmo dos cancionistas ainda desconhecidos, isto é, equilibro letra e melodia. Estabilizo as entonações da fala. Experimento muito num processo de erros e acertos. O artesanato cancional é diferente do musical. Não há que ter formação para se ser um cancionista, pois, no limite, canção não é música, é uma outra categoria de linguagem. É a estabilização das entonações da fala. Podemos conversar, futuramente, sobre isso”, já adianta outra pauta de reportagem.
Redes sociais
Márcio Coelho defende que a internet e as redes sociais foram fundamentais para a sobrevivência da música e da canção independente. “Nosso canal no YouTube tem mais de 26 mil seguidores e mais de 20 milhões de acesos. Além disso, atuamos no Facebook e no Instagram. Pelos relatórios dos streamings (Deezer, Spotfy, YouTube, Google Play etc.), vemos que nosso trabalho é apreciado até nas periferias do mundo ocidental. Não sou um nativo digital, é claro, mas me adaptei muito bem. Agora, como não poderia deixar de ser, a relação com nos streamings é difícil. É jogo capitalista selvagem, paga-se muito pouco, mas, pelo menos, todos podem entrar no jogo. Quando dependíamos das chamadas majors (as grandes gravadoras), era pior ainda, pois só tinha espaço quem vendia muito”, finaliza.