Tribuna Ribeirão
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Pandemia de covid-19: esquecemos rápido demais? 

André Luiz da Silva * 
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Com a impressionante quantidade de informações que recebemos diariamente e os inúmeros compromissos que assumimos, é comum que nosso cérebro priorize certos acontecimentos, deixando outros convenientemente esquecidos ou não registrados. 
 
O que aconteceu no mundo há exatos cinco anos? E na sua vida? Por mais surpreendente que possa parecer, muitos de nós não conseguem responder prontamente a essas perguntas. Por isso, nossa missão é relembrar. 
 
Na terça-feira, 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde declarou oficialmente que o mundo enfrentava uma pandemia de COVID-19. Naquele momento, os números oficiais apontavam cerca de 4.300 mortes. O que se seguiu foi uma transformação abrupta da rotina global: ruas vazias, quem circulava tinha a face ocultada por máscaras e os sistemas de saúde entraram em colapso, exigindo a construção de hospitais de campanha. Os velórios se tornaram eventos restritos, com tempo limitado e caixões lacrados. 
 
Enquanto os cientistas dedicavam esforços na busca por um tratamento eficaz e pelo desenvolvimento de vacinas, as mais diversas tradições religiosas buscavam conforto na fé e alguns até interpretaram a crise como um sinal do fim dos tempos. No cenário político, as respostas foram divergentes: enquanto alguns líderes defenderam medidas restritivas para conter a propagação do vírus, outros minimizaram a gravidade da situação, alegando que a economia não poderia parar. Certas figuras chegaram a desdenhar das recomendações sanitárias e a promover tratamentos sem embasamento científico. 
 
No Brasil, o então presidente Jair Bolsonaro, em discurso dirigido a um grupo de agricultores, classificou o isolamento social como “conversinha mole” e declarou que a campanha “fique em casa” era “para os fracos”. Não foi sua única declaração controversa durante a maior crise sanitária da história contemporânea. Em diversos momentos, enquanto milhares de brasileiros enfrentavam o luto, suas falas carregavam ironia e desdém. Mais do que retórica, os documentos comprovam a existência de um sistema articulado, reunindo agentes públicos e privados, que instrumentalizaram a crise sanitária em benefício de interesses políticos e econômicos. A desinformação foi deliberadamente promovida, incentivando o boicote às medidas preventivas, a disseminação de medicamentos ineficazes e a exclusão à vacinação – ainda hoje refletida na queda da cobertura vacinal contra diversas doenças. 
 
Com o avanço da imunização e a adoção de medidas sanitárias, o mundo começou, aos poucos, a retomar sua rotina. No Brasil, os profissionais do Sistema Único de Saúde, que foram aclamados como heróis, agora enfrentaram desafios antigos: falta de estrutura, equipes reduzidas e remuneração desproporcional à sua dedicação. 
 
Embora o caráter epidêmico tenha sido superado, a COVID-19 persiste como um problema de saúde pública. Apenas em 2025, foram registradas 664 mortes no país. Além das estatísticas, é fundamental lembrar que perdemos familiares, amigos, colegas de trabalho e vizinhos, ainda, experimentamos a dolorosa realidade de não poder oferecer um último abraço, uma palavra de conforto ou uma despedida digna. 
 
Acredito que a pandemia representou uma oportunidade histórica para a humanidade evoluir, aprendendo com os erros e caminhando rumo a uma sociedade mais solidária e abrangente. No entanto, paradoxalmente, testemunhamos o crescimento da polarização, da intolerância e da fragmentação social.  
 
Não permita que a desesperança te contagie, pois ainda há motivos para acreditar. Faça parte daqueles que mantêm viva a chama da esperança. Que a lembrança dos que partiram nos inspira a construir um mundo mais solidário e compassivo. 
 
* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista 

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