Os primeiros quinze dias de restrição à circulação de pessoas e isolamento social em vários estados e municípios, em decorrência da pandemia do novo coronavírus (covid-19), já atingem o equilíbrio financeiro das empresas e ameaça a sobrevivência de milhões de pequenos negócios no país.
Segundo pesquisa feita pelo Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), 89% deste tipo de empresas brasileiras já observam uma queda no seu faturamento. Deste total, 36% dos empreendedores afirmam que precisarão fechar o negócio permanentemente, em um mês, caso as restrições adotadas até agora permaneçam por mais tempo.
A pesquisa, feita entre os dias 20 e 23 de março, junto a um universo de 9.105 donos de pequenos negócios e revelou que, na média, a redução no faturamento das empresas foi de 69%.
Os empresários ouvidos pelo Sebrae ressaltam que, mesmo adotando uma estratégia de venda online, o faturamento anual do negócio sofreria uma queda de 74%, caso as políticas de isolamento social sejam mantidas por um período de dois meses.
Com a expressiva queda nas vendas, 54% dos empreendedores já preveem que precisarão solicitar empréstimos para manter o negócio em funcionamento sem gerar demissões. E, avaliando as perspectivas da economia brasileira, 33% dos empresários entrevistados acreditam que o país deve levar um ano ou mais para voltar ao normal.
As medidas de restrição ao deslocamento de pessoas já fizeram com que 42% dos empresários tomassem a decisão de fechar temporariamente o negócio e levou 26% a reduzir a jornada de trabalho da empresa.
Este é o caso do microempreendedor Sérgio Luiz Marques. Dono de uma pequena lanchonete no Centro de Ribeirão Preto, ele afirma que não tem como sobreviver por mais de um mês. Um exemplo do tamanho da crise que o atingiu, pode ser constatado na dificuldade para pagar o aluguel – referente a março – do imóvel de 30 metros quadrados onde funciona seu comércio. Dos R$ 6 mil, ele só conseguiu pagar a metade.
Na última semana, para não perder parte dos produtos como refrigerantes e evitar um rombo ainda maior, ele tentava driblar a fiscalização. Apesar da proibição de funcionar estabelecida pelo decreto de calamidade pública, ele tentava atender alguns clientes com apenas metade da porta de seu estabelecimento aberta.
“Só estou tentando não perder mais dinheiro. Sei que vou ter que parar, mas vamos torcer para que a crise não acabe conosco”, afirma. Sérgio não tem funcionários e administra o pequeno negócio junto com a esposa.
Para o presidente do Sebrae, Carlos Melles, é preciso urgência nas medidas de socorro aos pequenos negócios. “As pequenas empresas representam 99% de todos os empreendimentos do país e geram mais da metade dos empregos formais. A situação provocada pela pandemia exige de todos os agentes públicos o compromisso pela busca de soluções concretas e rápidas para os problemas que essas empresas estão enfrentando no dia a dia da crise”, destaca Melles.
Inadimplência
Pelo 11º mês consecutivo, a inadimplência das empresas bateu recorde no Brasil e chegou a 6,2 milhões em janeiro de 2020. O dado é 9,9% maior do que o mesmo mês do ano anterior, quando eram 5,6 milhões de empreendimentos com contas em atraso.
Entre os que possuem contas atrasadas e negativadas, 94,2% são micro ou pequenos, com os demais se dividindo entre médio e grande portes. Com relação a dezembro/19, o aumento dos inadimplentes foi de 0,9%.
Para o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, a redução nas vendas era esperada e deve ser uma tendência para os próximos meses. Com as pessoas ficando mais em casa e muitas lojas físicas fechadas, cai automaticamente o consumo de itens, principalmente aqueles não essenciais, como os de veículos e materiais de construção, que apresentaram a maior retração em março.
Todos os setores registraram declínio na variação mensal, sendo os mais significativos naqueles em que a compra pode ser postergada – veículos, motos e peças (-23,1%) e materiais de construção (-21,9%). combustíveis e lubrificantes tiveram a menor diferença com relação a fevereiro/20, com -5,5%.
Orientação para os pequenos empresários
Em Ribeirão Preto o Sebrae em parceria com a prefeitura de Ribeirão e Banco do Povo, está orientando e tirando dúvidas de microempreendedores e autônomos. Além da internet, é possível ter atendimento presencial, na Sala do Empreendedor na Fiscalização Geral, de segunda-feira até sexta-feira, entre 10h e 14h. Tudo com agendamento prévio para controlar o fluxo de pessoas. Os empreendedores que precisarem podem entrar em contato com o (16) 98847-8787ou buscar mais informações no site do Sebrae.
Serviço Atendimento MEIs – Ribeirão Preto De segunda-feira até sexta-feira, das 10h às 14h Sala do Empreendedor – Fiscalização Geral (Rua Laguna, 1246) Telefone: (16) 98847-8787
Senado aprova linha de crédito para microempresas
O Senado aprovou projeto de lei para criar linha de crédito a micro e pequenas empresas durante a crise do novo coronavírus. A proposta, que dependerá de aval da Câmara dos Deputados prevê a destinação de R$ 10,9 bilhões do Tesouro para operacionalizar o financiamento.
Na sexta-feira, 3 de abril, o presidente Jair Bolsonaro assinou medida provisória com linha de crédito para financiar o pagamento da folha salarial de pequenas e médias empresas. A MP do governo destina R$ 35 bilhões para o programa.
O projeto do Senado garante crédito para microempresas e uso de recursos para ações que vão além dos salários, como capital de giro, bem como para beneficiar também cooperativas de crédito, estas não atendidas pela MP do governo. A proposta exige das empresas a garantia de estabilidade dos funcionários por 60 dias após o recebimento da última parcela.
A linha de crédito aprovada pelos senadores prevê concessão de valor correspondente a metade da receita bruta anual da empresa em 2019. Para uma microempresa que faturou R$ 360 mil no ano, por exemplo, o financiamento seria de R$ 180 mil. O programa atende empresas com faturamento até R$ 4,8 milhões em um ano.
O custo do programa será bancado com 80% de recursos do Tesouro e 20% dos bancos participantes, no caso, Banco do Brasil, Caixa, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia. A taxa de juros será de 3,75% ao ano com prazo de 36 meses para quitação e carência de seis meses para início do pagamento. De acordo com o texto, os bancos não terão remuneração pela atuação.
Especialista alerta sobre investimentos disponíveis
O Banco Central divulgou na segunda-feira, 6 de abril, que a poupança teve entrada líquida (mais depósitos do que retiradas) recorde no mês de março, de R$ 12,169 bilhões. O movimento pode ter sido reflexo do pânico gerado por conta das constantes quedas da Bolsa de Valores, também em março, devido à pandemia de coronavírus. Porém, especialistas afirmam que os investidores devem fugir da poupança e que há vários outros investimentos seguros e mais rentáveis.
“O brasileiro ainda tem essa cultura da poupança, mas precisamos mostrar que essa não é a melhor opção para quem busca rendimentos seguros”, explica Eliseu Hernandez, economista e assessor de investimentos da BlueTrade, uma das cinco maiores operações da XP Investimentos.
Com a Selic inferior a 8,5%, por lei a remuneração da poupança passa a ser de 70% da Selic, acrescida da Taxa Referencial (TR), que atualmente está zerada. Isso faz com que os rendimentos da poupança hoje, com a taxa básica de juros a 3,75%, sejam de 2,625% em 12 meses. “Com a inflação girando em torno de 3%, isso quer dizer que a poupança rende menos do que a inflação, ou seja, você está perdendo dinheiro”, comenta Hernandez.
Entre os investimentos seguros e mais rentáveis do que a poupança, o assessor recomenda, por exemplo, o Tesouro Selic, que tem remuneração de 3,75% ao ano e alta liquidez, ou seja, pode ser resgatado rapidamente caso seja necessário, sem perdas de rendimento.