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Pandemia agrava a polarização da sociedade

ALFREDO RISK

A pandemia está deixando um legado de divisões profundas em todo o mundo. Um estudo feito pelo instituto americano Pew Research Center constatou que seis a cada dez pessoas ouvi­das em pesquisa realizada em 17 países relataram que as divisões nacionais pioraram desde o iní­cio do coronavírus.

No Brasil, os noticiários mos­tram que, tanto no Legislativo como no Executivo, vários po­líticos têm usado a posição que ocupam para incentivar a po­pulação a se opor às medidas de distanciamento social e mesmo às simples medidas como o uso de máscaras.

A mais recente declaração po­lêmica foi a do ministro da Saú­de, Marcelo Queiroga, que afir­mou, há alguns dias, que o uso de máscara não deveria ser uma obrigatoriedade como defendem as autoridades de saúde pública para a prevenção da covid-19.

A polarização também ga­nhou espaço formal em Ribeirão Preto que, na sexta-feira (15) e no sábado (16), sediou o Congresso Nacional Conservador 2021. O evento reuniu presencialmente trezentas pessoas que se nomi­nam conservadores.

Segundo o organizador, Ca­milo Calandreli, o foco do Con­gresso foi ocupar os espaços de forma estratégica e com inte­ligência, instrumentalização e principalmente com a mobiliza­ção de toda a sociedade.

“Elegemos o presidente Bol­sonaro e diversos parlamentares em 2018, agora é o momento de ampliar esse trabalho e adquirir as ferramentas adequadas para continuarmos com os avanços em prol do desenvolvimento do Brasil”, afirma.

A realização do Congresso foi idealizada pelo Grupo “Somos Brasil”. Fundado em 2021 o gru­po é composto por profissionais nas mais diversas áreas de atua­ção na política conservadora.

Sentimento de divisão aumentou
Em 12 dos 13 países pesquisa­dos, o sentimento de divisão au­mentou significativamente entre 2020 e 2021 − em alguns casos em mais de 30 pontos percen­tuais. Ao todo, 61% das pessoas pesquisadas acreditam que estão mais divididas por diferenças de pensamento. Apenas 34% sen­tem-se mais unidas. O trabalho foi baseado em mais de 18 mil entrevistas feitas no primeiro se­mestre deste ano.

A maior polarização foi en­contrada nos Estados Unidos onde 88% dos americanos dizem que estão mais divididos do que antes da pandemia, a maior pro­porção que sustenta essa opinião em todos os lugares pesquisados. A maioria dos canadenses tam­bém afirmou que seu país está mais polarizado. Na Europa, a maioria em sete das nove nações pesquisadas disse que a socieda­de está mais polarizada do que antes da doença.

O estudo revelou que ide­ologicamente, na maioria das nações, aqueles que se iden­tificam à direita do espectro político são mais propensos a condenar restrições para conter o coronavírus, do que aqueles à esquerda. Em média, 46% dos entrevistados afirmaram que sua economia está se recupe­rando dos efeitos do surto da covid-19, demonstrando força de seu sistema econômico.

Mas uma proporção quase igual acredita que as dificul­dades de recuperação da eco­nomia expõem os pontos fra­cos de sua economia como um todo. Essa visão negativa é mais prevalente entre as pessoas que queriam menos restrições du­rante a pandemia.

Desigualdade cresceu mais no Brasil
O desempenho econômico brasileiro foi pior do que o de outros 40 países. Esse é o resultado de uma pesquisa feita pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social), com da­dos internacionais do Gallup World Poll, que mostra a percepção da população em relação às políticas públicas de saúde, educação e meio ambiente. O desempenho brasileiro nas três esferas do poder público foi pior do que o de outros 40 países.

Os dados, colhidos antes e depois do início da pandemia, destacam ainda que a deterioração social brasileira foi mais forte entre a população de renda mais baixa. Na Educação, a satisfação dos 40% mais pobres caiu 22% no Brasil e 2,38% no mundo. Esse porcentual reflete a piora de dados educacionais na prática.

O tempo médio de estudo diário na população de 6 a 15 anos caiu para 2 horas e 18 minutos, enquanto o mínimo legal é de 4 horas. Entre os mais pobres, esse tempo ficou abaixo de 2 horas, e nas classes A e B ficou acima de 3 horas, o que aumenta o abismo social. Isso sem contar que muitas crianças deixaram de estudar porque não tinham celular ou computador disponível e porque as apostilas não chegavam até elas.

Na Saúde, houve queda de 10,5% entre os brasi­leiros mais pobres, e alta de 2,28% na média dos demais países. A situação se inverte entre os 40% mais ricos. No Brasil, a satisfação dessa faixa da população subiu 0,5%; nos demais países caiu 0,08%. Em relação às políticas ambientais, houve piora em todas as faixas de renda, enquanto a percepção melhorou no resto do mundo.

Um recente levantamento da Central Brasileira de Favelas (Cufa) – que incluiu Ribeirão Preto – mos­trou que a fome e a miséria aumentaram, nos últi­mos meses. Segundo o levantamento, as doações de alimentos e cestas básicas feitas por voluntários para as comunidades carentes diminuíram 80%. Isso porque as pessoas que tinham condições de doar, agora não tem mais como colaborar em função do agravamento da crise econômica. Ribeirão Preto tem, segundo a Cufa, 105 núcleos de favelas com cerca de 50 mil moradores.

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