Quando o jatinho ERJ-145LR da Polícia Federal, prefixo PR-OPF, tocou a pista do Aeroporto Afonso Pena, em Curitiba, na tarde de 26 de setembro de 2016, levava a bordo uma das mais emblemáticas e polêmicas figuras públicas da política brasileira das últimas décadas: Antônio Palocci Filho, ex-ministro da Fazenda no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu guru, e ex-ministro da Casa Civil, no de Dilma Rousseff, que o sucedeu. Pela manhã, o ex-prefeito de Ribeirão Preto havia sido preso em São Paulo, na 35ª fase da Operação da Lava Jato, a “Ormetà”, uma referência ao código de silêncio da máfia italiana. Na próxima terça-feira, completará um ano atrás das grades.
Foi detido acusado de intermediar a propina paga pelo Grupo Odebrecht ao PT. O valor alcançaria R$ 128 milhões. Preso a pedido da própria Polícia Federal, quebrando uma tradição na Lava Jato que caberia ao Ministério Público Federal (MPF), Palocci foi levado à Superintendência da PF em uma van branca, tão pálida quanto o seu semblante ao desembarcar vestindo um amarfanhado blazer azul claro. A princípio a prisão deveria ser temporária e havia a expectativa de que, em cinco dias, o todo poderoso “Italiano” das planilhas que indicavam propinas pagas a políticos não ficaria atrás das grades por mais que cinco dias, prazo que poderia ser prorrogado por igual período.
No entanto, no dia 30, cumprida a primeira fase da prisão temporária, por determinação do juiz federal Sérgio Moro, o ex-ministro teve a prisão transformada em preventiva, aquela que não tem prazo definido para terminar. O que levava ao cotado sucessor de Lula no Palácio do Planalto à cadeia era um complexo esquema de propinas que envolvia o Partido dos Trabalhadores, e próprio ex-presidente: Palocci tinha uma conta corrente bilionária com a Odebrecht, a maior empreiteira do país.
A defesa do ex-ministro Antônio Palocci veio a público para cumprir o seu papel e afirmar que ele jamais recebeu qualquer vantagem ilícita e ressaltou que a prisão decretada era desnecessária e autoritária, uma vez que Palocci tinha endereço conhecido e poderia dar todas as informações necessárias se fosse intimado a depor. O tempo iria mostrar que José Roberto Batochio, advogado de Palocci à época estava, no mínimo, equivocado. Um ano depois, ele já não advogava mais a causa do ribeirão-pretano. O motivo? A tentativa desesperada do ex-ministro em firmar acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República.