No acordo de colaboração premiada que negocia com os procuradores da força-tarefa da Operação Greenfield, Antônio Palocci, ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil dos governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, respectivamente, vai abordar a atuação do ex-presidente Lula para que a Funcef e a Petros entrassem como acionistas da Norte Energia, proprietária da usina hidrelétrica de Belo Monte. Os dois fundos, dos funcionários da Caixa Econômica Federal e da Petrobras, respectivamente, possuem 10% cada de participação na usina.
Palocci presta desde segunda-feira, 7 de janeiro, depoimentos aos investigadores da Greenfield, força-tarefa sediada em Brasília e que mira desvios nos maiores fundos de pensão do País. O ex-ministro já assinou um acordo de colaboração com a Polícia Federal de Curitiba no qual abordou crimes cometidos no âmbito da Petrobras. Um segundo, fechado no final do ano passado com a PF de Brasília e que tramita em sigilo, envolve acusações contra alvos com direito a foro privilegiado, como políticos com mandato.
Agora, o ex-ministro tenta assinar um novo acordo com os investigadores de Brasília para falar sobre sua atuação nos fundos de pensão. Ele está na capital federal com seus advogados desde a manhã desta segunda, vindo de São Paulo. O trajeto foi feito de carro para evitar exposição nos aeroportos das duas cidades – pela Rodovia Anhanguera (SP-330), passou por Ribeirão Preto, sua terra natal, opnde foi prefeito por duas vezes.
Em um primeiro depoimento aos procuradores da Operação Greenfield, ainda em 2018 e sem ter assinado um acordo, Palocci já havia dito que o ex -presidente interferia em investimentos dos fundos de pensão desde a década de 90 e que teria recebido propina por causa de sua atuação relacionada à construção de Belo Monte. “Que em outros casos de atuação direta do ex-presidente Lula, como dos caças, com atuação do presidente francês, receberam vantagens Lula e o PT, ou no caso de Belo Monte”, disse Palocci.
Deflagrada em 5 de setembro de 2016, a Greenfield já havia mapeado em sua primeira fase possíveis irregularidades no investimento em Belo Monte. À época, no pedido de prisão do ex-presidente da Funcef, Guilherme Lacerda, os investigadores citam um possível desdobramento da apuração cujo alvo seria a obra de Belo Monte. Segundo Palocci, Lacerda “tinha uma atuação mais ampla em receber ilícitos” e “que não resistia quase nada” sobre pedidos de políticos do PT para que investimentos dos fundos resultassem em repasses para o partido e campanhas políticas.
Protesto
Palocci chegou ao prédio da Procuradoria da República no Distrito Federal (PR-DF) às 10h02 desta terça-feira (8) para prestar seu segundo depoimento aos procuradores da Greenfield. Em frente à sede da PR-DF, um grupo de cerca de 30 servidores aposentados dos fundos de pensão protestava contra os desvios de recursos apurados pela operação. O grupo, que permaneceu ali por aproximadamente uma hora, cantou o hino nacional, pediu que Palocci contasse tudo o que sabia aos procuradores e bradou frases como “essa conta não é nossa” e “roubaram nosso dinheiro”.
Palocci foi condenado a nove anos e dez dias de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. Em setembro de 2016, ele foi preso na Operação Omertà, desdobramento da Lava Jato. Para se livrar da prisão, fechou acordo de delação com a Polícia Federal, homologado pelo desembargador Gebran Neto, relator da Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4). No dia 29 de novembro, o ex-ministro deixou a prisão dois anos e três meses depois de detido para cumprir pena provisória em regime prisional semiaberto domiciliar, com tornozeleira eletrônica.
Funcef
A Funcef informa que mantém em sua estrutura as Comissões Técnicas de Apuração (CTAs) que analisam os Fundos de Investimentos (FIPs) realizados no passado. Além disso, foi o primeiro fundo de pensão a se tornar assistente da acusação nas apurações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal acerca dos investimentos que estão sendo investigados pela Operação Greenfield. Importante enfatizar que, como assistente de acusação, a Funcef tem acesso a todas as provas produzidas no âmbito das investigações, bem como contribui ativamente na produção de provas para auxiliar também ao MPF e PF.
A assessoria da Norte Energia informou que não iria se pronunciar. Procuradas pela reportagem, a defesa do ex-presidente Lula e a assessoria da Petros não retornaram até o fechamento desta edição.