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Palestra do ministro Sidnei Beneti na Academia Ribeirãopretana de Letras

No último dia 20 de abril, o Ministro aposentado do Superior Tribunal de Justiça, Dr. Sidnei Beneti brindou os membros da Academia e seus convidados com expressiva pa­lestra, cujo título “Decameron de Bocaccio ao tempo na Peste Negra” já antecipava a oportunidade do tema e a profundida­de da pesquisa do palestrante.

O Dr. Sidnei Agostinho Beneti nasceu em Ribeirão Preto, onde fez seus estudos primários no Guimarães Jr., ginásio e clássico no Otoniel Mota, graduou-se em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco e dedicou-se à brilhante carreira na Magistratura. Pelo seu trabalho e decisões judiciosas, galgou ra­pidamente os postos da judicatura. Foi Juiz do Tribunal de Alça­da de São Paulo, Desembargador no Tribunal de Justiça paulista e, em dezembro de 2007, nomeado Ministro do STJ – Superior Tribunal de Justiça, onde, em sete anos proferiu decisões que marcaram a história jurídica do país.

Foi também Diretor Presidente da Escola Nacional de Magistratura e participou de órgão internacionais da classe. Seu curriculum contém ainda enormes serviços prestados. Desde os bancos do Otoniel Mota, sempre se dedicou à literatura, tendo escrito vários livros, dentre eles “Euclides da Cunha. Releitura de um Clássico”, que mereceu excelente acolhida e crítica.
A palestra foi clara e seu conteúdo mostrou o profundo conhe­cimento do palestrante sobre o tema. O período medieval, durante muito tempo conhecido como a Noite dos 10 Séculos, na realidade foi fértil em criações e criatividade, dele emergindo os três gigan­tes da literatura clássica italiana: Bocaccio, Petrarca e Dante.

Talvez ainda ecoando aquela ideia antiga da Idade Média, Bocaccio nos é descrito como escritor lascivo , quando, na rea­lidade, é o contrário disto. Ao escrever seu Decameron, o autor evoca temas caros para a cultura ocidental, mesmo usando da comédia, em seu sentido clássico. O livro se passa no século XIV, quando a peste negra atinge Florença, então uma das cidades mais importantes do mundo. Para dela fugir, sete moças e três rapazes se refugiam no campo, por dez dias, onde, para passar o tempo, a cada dia contam dez estórias, chamadas pelo autor de novelas, estórias estas que formam o Decameron.

Mas Bocaccio não é só um cronista de sua época. Pro­fundo conhecedor de Dante, analisa sua obra Comédia, que renomeia Divina Comédia. Profundamente católico, defende o Evangelho, chegando a ser honrado com alto cargo eclesiás­tico no final de sua vida. Foi embaixador de Florença junto a várias cortes europeias.

O importante na obra de Bocaccio é seu rompimento com a moral medieval, lançando as bases para o realismo literário, abrindo assim caminho para o Humanismo, que, ao lado do Renascimento coloca o homem no centro de tudo, abandonando a postura medieval de considerar Deus como este centro.

A atual pandemia que ameaça a nossa vida é comparada pelo palestrante com a situação da peste negra medieval. As pessoas procuravam fugir do contato humano, evitavam aglomerações, usavam máscaras, embora não soubessem quais as razões da peste, pois somente no final do século XVIII é que se descobre sua origem num vírus. Outro vírus, inimaginável no atual es­tágio de desenvolvimento tecnológico, nos atinge e nos ameaça, forçando-nos a adotar as mesmas providências do passado e dando testemunho da grande luta entre a raça humana e os micro organismos que nos cercam.

Foi uma grande noite na programação cultural da Academia Ribeirãopretana de Letras. E, motivado pela brilhante palestra, comecei a reler o Decameron.

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