Sérgio Roxo da Fonseca *
[email protected]
Difícil saber quem inventou as palavras, ou até mesmo quem as inventa nos dias de hoje, como aquelas que substituem os objetos físicos que nos são oferecidos. A dificuldade surge quando não conseguimos transformar as letras em objetos como se fosse necessário para comprometê-las fisicamente. A dificuldade já era encontrada por Santo Agostinho.
Disse ele: “O que é o tempo? Se me perguntam o que é o tempo, eu sei. Se me perguntam o que é, então não sei”.
Basta compreender a dificuldade lendo o texto de João (18-19) ao descrever o julgamento de Jesus Cristo pelo romano Pilatos que então lhe perguntou: “Então tu és rei”?
E Jesus Cristo respondeu: “Tu dizes que eu sou. Eu nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade, escuta a minha voz”.
Pilatos indagou: “Que é a verdade”? Espantosamente antes de receber qualquer resposta, condenou Jesus Cristo à crucificação, mesmo sendo ele uma autoridade romana e não judaica.
Importante registrar que todos os livros vindos da antiguidade relatam as histórias das famílias poderosas. Há uma única exceção, concluem os estudiosos, o “Evangelho de Cristo” que tem como objeto retratar a vida de carpinteiros, pescadores, cegos e pelo menos de uma prostituta. “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”, segundo o grande poeta português Fernando Pessoa.
Outros não são os caminhos traçados pelos gregos, especialmente Platão e Aristóteles que conviveram com Sócrates por volta de 400 anos antes de Cristo. Sócrates foi condenado à morte, contra a opinião de seus discípulos. Ingeriu o líquido da “cicuta”, matando-se para cumprir a sentença condenatória.
Aristóteles revelou a existência de um regime jurídico dividido em três degraus, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Vários países dos nossos dias valem-se, mais ou menos, de sua lição.Entre eles o Brasil que mantém um regime tão extravagante que o Legislativo Federal legisla com tão grandes poderes que obscurece o Executivo e o Judiciário. As leis são ou não são incorporadas por palavras mais ou menos compreensíveis?
Mas possivelmente da Grécia herdamos vários deuses, entre os quais o Hermes que, em quase toda noite fecha a porta de nossas casas que assim ficam “hermeticamente fechadas”. Este deus conviveu com Afrodite e, naqueles antiquíssimos dias, foram pais de um filho-filha bissexual que recebeu o nome de “Hermafrodita”.
A Iris, por sua vez, segundo ainda os gregos, até hoje, leva notícias da terra para o céu, deixando pelo espaço o “arco-Iris”.
Dos romanos herdamos intensa estrutura jurídica. Contudo, a sua obra máxima, o Corpus Juris Civilis, foi e escrita em Constantinopla por juristas orientais dos quais herdamos “jus est ars boni et aequi: honeste vivere, alterumnon laedere, suum cuique tribuere” (o direito é a arte do bom e do justo: viver honestamente, não lesar ninguém, dar a cada um o que é seu).
Palavras? Só palavras!
* Advogado, professor livre docente aposentado da Unesp, doutor, procurador de Justiça aposentado, e membro da Academia Ribeirãopretana de Letras