Edwaldo Arantes *
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Gosto das letras, tal qual embaralhar as cartas, em um imaginário jogo, ou um quebra-cabeça, fazendo surgir a imagem ao final, tecer brincadeiras e falar sério com elas.
As palavras são eternas, perpetuam-se pelos séculos, alcançando o infinito.
Fernando Sabino decifrou:
“Onde é o infinito?
“É tanto quanto você queira”.
Os reinos das palavras não possuem limites, existem para inventar, criar e interpretar situações e tudo que nos cercam.
O malabarismo consiste em separar, juntar, formar palavras, frases, capítulos, tal qual o operário, misturando a areia, água, cal, cimento, tijolos após tijolos, semelhante o escultor moldando as curvas nuas da modelo posando.
Brotar as paredes, colocar as tintas, como vários lápis de cor, derramando pinturas e palavras sobre o papel.
Cobrir com o telhado, entregar as chaves, tua proteção contra chuva, sol e as maldades dos homens.
Abrigo, morada, lugar, residência, domicílio, palavras que identificam o lar, sua casa, retorno e aconchego, mesmo após os dias duros, sombrios e incertos.
Sempre é imprescindível ter um lugar para voltar.
Palavras existem para todas as ações e criações, iluminando o pensamento, basta buscá-las e agregá-las, tudo está contido nelas, orquídea, homem, mulher, coração, ternura, afeto, amizade, solidariedade, existência, crepúsculo, uma exposição infinita de significados.
Como olhar o céu e suas constelações, impossível contar uma a uma as estrelas cintilantes, somente olhar atônito e maravilhado, momentos que pensamos milhares delas, seus enigmas e significados.
Na minha vida busquei encontrá-las, todos os meus caminhos, passos e dúvidas, foram elas que me confortaram, expressando os momentos perdidos na escuridão, suplicando por uma luz, sufocado pelas trevas do desconhecido, no sentimento do ser perdido na sua pequenez e na imensidão do Universo.
Na minha existência as palavras tecidas falaram de olhos verdes, bocas, amores, lutas, resistências, histórias, uma infinidade de palavras, frases, capítulos, ou em pequenos recados escondidos sob a seda azul da “maça do amor” ou em furtivos bilhetes colados nos espinhos das rosas furtadas.
Amei e aprendi com muitas, odiei algumas, outras ignorei, principalmente as nefastas, lutei e tentei combatê-las com as minhas mãos e vozes.
Os vocábulos desprezíveis que nunca amaram a não ser servirem a algozes e tiranos, nas mentiras das suas linguagens, escondidas nas falácias enganadoras de suas falsas oratórias.
Uma gratidão pelas que me guiaram, reconhecendo meus erros e humildade nos acertos.
Todas que contribuíram, ajudando-me a trilhar o caminho do bem, decência e dignidade.
Aquelas enganosas que tentaram sem sucesso, tirar-me da árdua busca do justo e do correto, simplesmente foram sepultadas, sem quaisquer remorsos.
Em um momento de saudade e melancolia, lembrei-me do meu saudoso irmão, Prof. Dr. Geraldo Noel Arantes, em sua vastíssima e bela obra:
“O Poeta é um operário que ainda não pode fazer greve”.
Relendo o Vate Maior Carlos Drummond de Andrade:
“Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas…”.
E, também, Pablo Neruda:
“Levaram o ouro e deixaram-nos o ouro… Levaram tudo e deixaram-nos tudo… Deixaram-nos as palavras”.
* Agente cultural