Há exatos 30 anos, em 28 de março de 1988, foi sancionada a lei nº 5.243 que decretou o tombamento do Palácio Rio Branco, sede da prefeitura de Ribeirão Preto há mais de um século. Inaugurado em 26 de maio de 1917, o prédio passou por uma reforma em 1992. Todo o madeiramento foi trocado, encanamentos e rede elétrica modernizados e o estilo preservado. Sedia o gabinete do prefeito, as secretarias municipais de Governo e da Casa Civil, a Coordenadoria de Comunicação Social (CCS), a Assessoria Técnica Legislativa (Astel) e a Seção de Leis e Decretos.
No dia da inauguração, as principais personalidades da sociedade da época estavam na praça Barão do Rio Branco, inaugurada poucos anos antes, em 1913. O prefeito Joaquim Macedo Bittencourt, idealizador da nova sede para a Câmara e a prefeitura, chamada pela imprensa de Paço Municipal, presidiu a cerimônia. Naquele tempo, o prefeito era um dos vereadores, o único com funções executivas – ele comandava a cidade, enquanto seus colegas parlamentares criavam as leis e regulamentos que deviam ser seguidos por todos. Eleito por seus pares vereadores em 1911, Bittencourt fora reconduzido ao posto em 1914 e seguiria na principal cadeira do Palácio Rio Branco até 1920.
O Palácio Rio Branco foi palco de momentos memoráveis da história de Ribeirão Preto. Em 1924, quem exercia o cargo era o prefeito João Rodrigues Guião, que em sua sala no segundo andar tomou uma medida radical – a revolta liderada pelo general Isidoro Lopes em São Paulo deixara Ribeirão Preto incomunicável, o telégrafo estava mudo e o tráfego dos trens fora interrompido. Sem saber o que se passava na capital, Guião, informado que os gêneros de primeira necessidade estavam sumindo das prateleiras dos armazéns, decretou um inédito tabelamento de preços e colocou sentinelas 24 horas nos acessos da cidade para impedir que alimentos fossem escondidos na zona rural.
O Palácio Rio Branco também foi palco da memorável “tomada do poder” pelos apoiadores de Getúlio Vargas, no dia seguinte ao golpe militar de 30 de outubro de 1930. Uma multidão entusiástica invadiu o prédio e durante algumas semanas a principal cadeira foi compartilhada por cinco cidadãos – Fernando Costella Simões, Albino Camargo Neto, Teófilo Siqueira, Antônio Engracia Garcia e João Emboaba da Costa, até a nomeação do primeiro prefeito interventor, Eduardo Leite Ribeiro.
Foi também no Palácio Rio Branco, mais especificamente em sua escadaria, que corajosos jovens da “mocidade ribeirãopretana” posaram para uma foto antes de embarcarem, em 1932, para a guerra contra as forças do ditador Getúlio Vargas – dos jovens que aparecem sorridentes e confiantes na foto dois não retornaram nunca mais e hoje são lembrados no Alto da Boa Vista (rua Ayrton Roxo e rua Nélio Guimarães).
No alto da mesma escadaria, algumas semanas depois, um trêmulo porteiro, a única viva alma que restara dentro do Palácio Rio Branco, entregou um molho de chaves para o capitão Rodrigo Duque Estrada, que assumiu o comando de uma Ribeirão Preto invadida e ocupada pelas tropas federais que derrotaram os paulistas na Revolução Constitucionalista.
As escadarias do Palácio Rio Branco não foram percorridas apenas pelos protagonistas de nossa história política. Muitas vezes foram pessoas do povo que fizeram a história, descendendo aqueles 17 degraus carregando nos ombros os caixões dos prefeitos Costábile Romano (1954) e Antônio Duarte Nogueira (1990).
Símbolo maior do poder político do município sede de uma Região Metropolitana com 34 cidades e1,67 milhão de habitantes, o Palácio Rio Branco completa três décadas de tombamento à espera da aguardada restauração e da sua transformação em centro cultural, como prometeu ano passado o prefeito Duarte Nogueira Júnior (PSDB). Com a anunciada transferência da prefeitura para o prédio da antiga regional da Caixa Econômica Federal, na rua Américo Brasiliense, o caminho para a restauração encontra-se aberto.