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Autorama: Paixão que vem desde a infância

Passar algumas horas do dia com carrinhos e acelerando-os em uma pista. A princípio isso pode parecer brincadeira de criança ou um hobby. Mas não é. Paixão pode ser a palavra que mais se assemelha ao sentimen­to de um grupo de amigos que faz isso quase que diariamente em Ribeirão Preto. Apesar de eclético, a maioria deles está na faixa etária dos 50 anos e em quase sua totalidade uma coin­cidência: tiveram um autorama quando criança.

Pista no Autorama Clube tem 48 metros

É certo dizer que o autora­ma mexeu com a vida dessas pessoas. Elas brincaram muito quando criança e, com o passar dos anos, as pistas cresceram e os carros ficaram mais velozes. “Olha, na verdade, somos todos pilotos frustrados. Acho que queríamos ser piloto de auto­mobilismo,” brinca José Roberto Pimenta, aposentado de 63 anos que preside o Autorama Clube de Ribeirão Preto.

Foi dele a ideia de fazer o clu­be. “Não é apenas um clube de pessoas que gosta de autorama. Investimos em nosso hobby. Juntamos vinte pessoas que que­riam um local com uma pista e colocamos a ideia em prática,” explica Pimenta.

O clube nasceu há pouco mais de um ano e fica em um galpão na Rua Sete de Setem­bro, 42. Nele há um espaço de convívio, ferramentas para aperfeiçoar os carros e, é claro, uma enorme pista de 48 me­tros com seis slots (faixa por onde o carro é acelerado). O investimento inicial foi de R$ 24 mil. Pimenta diz que arcou com 70% dos custos para ver o sonho se tornar realidade.

“Todos nós tivemos autora­ma quando criança e vivemos uma fase em que tínhamos muitas pistas e clubes em vá­rios pontos da cidade, nos mais diferentes bairros e até em sho­pping. Isso acabou porque não era economicamente viável. Mas aqui não temos interesse em lucro. Cada associado paga mensalidade para a manuten­ção,” acrescenta.

O grupo teve início com 10 amigos e hoje conta 20 associa­dos. “Fora as pessoas que apa­recem para ver. Queremos mais sócios e que o clube cresça. To­dos são convidados,” acrescenta.

Quanto custa iniciar
Antes de falar em valores é válido frisar que, apesar de di­vertido e parecer uma brinca­deira, há regras como em qual­quer esporte.

Os carros são réplicas de modelos originais. Eles são medidos proporcionalmente, mas dividem-se em duas cate­gorias principais de tamanho: 1/24 e 1/32. Isso quer dizer que é menor proporcionalmente 24 vezes ou 32 vezes ao original. Os modelos são, como os car­ros verdadeiros, inúmeros: de Fusca a Porsche.

Mas quando competem são respeitados os tamanhos e os ti­pos. Para quem quiser dar início à carreira de piloto de autorama, o clube loca carros e os ‘gatilhos’ – o controle que acelera e freia o carro. Mas pelo que a nossa reportagem percebeu a falta de carro e gatilho não será um em­pecilho para quem quiser dar umas voltinhas.

Caso a pessoa se interesse poderá investir. O custo ini­cial gira em torno de R$ 1.200, inclusos o carro e o controle. Esse é o preço de modelos bá­sicos, mas as cifras podem ser bem maiores.


“Há quem tem coleção de carros e alguns muito caros,” explica o representante co­mercial Ronaldo Prado, de 42 anos. “Mas a pessoa começa com um carro básico, vai, ace­lera e faz as modificações aos poucos, até acertar. O bom é treinar o dedo. Tem que ter dedo e reflexo,” brinca.

Prado trabalha em São Pau­lo e frequenta outros clubes e pistas. “Cada pista tem sua particularidade. São diferentes. Não são réplicas de autódro­mos,” explica. “Mas posso as­segurar que o bom ambiente é igual em todos os clubes”.

Rivalidade na pista
“O ambiente é muito bom mesmo, mas na hora da dispu­ta a gente quer ganhar. Não tem essa de amigos não. Se der a gente joga o carro do outro para fora da pista,” brinca Armando Nicastro, de 63 anos. “Mas de­pois, quando estamos do lado de fora e na mesma competição se o carro do outro sai da fenda, so­mos os primeiros a recolocá-lo no lugar. Tudo fica ali na pista,” acrescenta.

São diversos modelos de carros, mas que respeitam a proporcionalidade do original

Cada um é especialista
Nicastro gosta de acelerar, mas pode se dizer que ele pre­fere e é especialista em melho­rar carro. A exemplo dos carros originais, as réplicas de autora­ma também podem e passam por processos diferentes, desde a melhora no desempenho do motor até suspensão e pneus. “Eles chegam aqui e pedem para eu arrumar: tenho prazer em melhorar o desempenho dos carros,” diz Nicastro, que a exemplo de outros amantes do “Slot Car” (na tradução, carro de fenda) ou Automodelismo de Fenda (uma vez que autora­ma é uma marca patenteada), carrega uma maleta que mais parece uma garagem/oficina ambulante.

Se Nicastro gosta de turbinar carros há quem usa a adrenalina para quebrar recorde de pista, ou de colecionar modelos dife­rentes. Há aqueles que amam a competição em campeonatos e torneios, ou simplesmente ace­lerar entre amigos. Sem contar os que curtem mesmo ‘sentar o dedo’ no controle e nada mais.

Amigos de longa data revivem em clube os tempos que Ribeirão Preto tinha vários clubes de autorama

O público é variado e não há distinção interna entre eles. “Somos amigos de longa data. Nos conhecemos desde a época dos autoramas nos bairros e essa amizade levamos para fora do clube,” finaliza Nicastro.

De pai para filho

José Roberto e o filho Gustavo: amor pelo autorama desde as pistas montadas na sala de casa


O amor pelo autorama também é passado de pai para filho. O presidente do clube José Roberto Pimenta mostrou as pistas para o filho, Gustavo Pimenta, de 31 anos. “Lembro que a primeira experi­ência foi num autorama Nelson Piquet, na sala de casa. Não paramos mais,” diz Gustavo.


O amor pelo autorama também é passado de pai para filho. O presidente do clube José Roberto Pimenta mostrou as pistas para o filho, Gustavo Pimenta, de 31 anos. “Lembro que a primeira experi­ência foi num autorama Nelson Piquet, na sala de casa. Não paramos mais,” diz Gustavo.

Gostou tanto da brincadeira que hoje compete nos campeonatos Paulista e Brasileiro. “Está sendo meu primeiro ano e os resultados não são os melhores,” ri.

Ribeirão Preto deve sediar uma das etapas do Campeonato Pau­lista que além dos carros é dividido por faixas etárias.

Outro que compete no Paulista é o dentista Fábio de Almeida Pin­to, que também, a exemplo da família Pimenta, está passando para o filho Gabriel, de 7 anos, o amor pelo autorama. Gabriel acompanha o pai no clube e divide o tempo entre acelerar o seu carro na pista com brincadeiras no celular.

“O que buscamos também é isso. Trazer a criança e mostrar que há outras diversões além dos games. É bom ver a garotada se divertindo como a gente se divertia lá atrás,” finaliza José Roberto Pimenta.

O dentista Fábio de Almeida Pinto acelera ao lado filho Gabriel, de 7 anos

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