Tribuna Ribeirão
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Paixão por correspondência 

Elomar Müller coleciona itens desde a década de 1980 (Arquivo Pessoal)

Por Hugo Luque 

Ribeirão Preto recebe no próximo sábado (5), das 9h às 17h, no Hotel Dan Inn, o Encontro Nacional de Colecionadores de Postais de Estádios (Encope), que promete reunir apaixonados por esse tipo de colecionismo de todo o Brasil. Presença confirmada no evento, que integra a programação do Encontro Filatélico e Numismático da cidade, o contador Elomar Müller vem de Novo Hamburgo (RS) para expor parte de sua vasta coleção, encontrar amigos, trocar itens e disseminar o colecionismo. 

Cartões-postais parecem coisa do passado, mas esse nicho, a exemplo dos aficionados por discos de vinil, não perde entusiastas. Especialista no assunto, Müller estima que, no Brasil, milhares de pessoas ainda guardam relíquias relacionadas aos palcos onde craques desfilam seu futebol. Alguns são mais engajados e outros nem tanto. 

“Hoje, no nosso grupo, temos mais ou menos 50 colecionadores mais ativos, que colecionam mesmo, vão atrás e buscam. Mas devemos ter centenas ou milhares de pessoas que guardam postais, porém não colecionadores. Geralmente, conseguimos reunir de dez a 20 colecionadores. É expressivo, porque se for ver, no último encontro, tivemos pessoas de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Pará e Minas Gerais”, conta. 

Natural de Santa Catarina, Müller leva sua distinta paixão às redes sociais e já conta com mais de 45 mil seguidores no Instagram. Por lá, o contador publica alguns dos itens de sua coleção, tira dúvidas e atrai novos fanáticos pelo hobby. Tudo isso enquanto espalha a história do futebol nacional para diferentes gerações. A expectativa é que isso se reflita no Encope com uma forte participação do público. 

“O Encope acontece desde o final dos anos 80 e foi organizado praticamente no Brasil todo. No início dos anos 2000, deu uma parada, porque o pessoal deixou o colecionismo um pouco de lado, em segundo plano. Lá para 2016, voltaram à ativa com o WhatsApp. Conseguimos reagrupar e iniciamos a retomada.” 

Estádios de Papelão 

A comunicação por carta foi substituída pelo telefone, depois pelas ligações via celular e, atualmente, é a vez das redes sociais. Mesmo assim, a paixão não diminui. Muito pelo contrário. Müller, em 2025, honra o legado de nomes como Leonardo Romano e Antonio Estelista Aguirre, que fundaram, em julho de 1986, a hoje extinta Sociedade de Colecionadores de Postais de Estádios (Socope), e iniciaram o Encope. Foi justamente naquela época que uma matéria da Revista Placar fez “explodir” o hobby no Brasil. 

“Era muito diferente, porque não existia celular. As trocas eram através de cartas. Tudo tinha de mandar carta e esperar de sete a dez dias para receber uma resposta. Hoje em dia, é só mandar foto frente e verso do cartão-postal e seu amigo responde se tem, se quer. A troca é efetuada com rapidez e agilidade. Mudou o sistema”, diz o catarinense, em tom saudoso. 

“Era muito bacana. Você esperava o carteiro chegar para ver se tinha alguma novidade. Era muito legal. Não que não hoje não seja, mas era outro nível de colecionismo porque gerava uma expectativa muito grande.” 

A matéria especial da Placar, intitulada “Estádios de Papelão”, trouxe ao colecionismo o próprio Elomar Müller. Hoje de malas prontas para visitar Ribeirão Preto mais uma vez em nome da paixão pelos postais, o colecionador nem imaginava que o ato de participar da Socope o levaria a tantos cantos do país. 

“Fiquei ativo até 1994, participando e organizando os encontros no Estádio Santa Rosa, no Beira-Rio, no Olímpico… vários eventos foram realizados no Rio Grande do Sul naquela época. Depois, me afastei por causa de família, trabalho e outras situações. Voltei em 2019 com tudo, para recuperar o tempo perdido.” 

Acúmulo organizado de histórias 

Alguns enxergam como apenas um acúmulo de objetos. Para Müller e todos os apaixonados por cartões-postais de estádios, no entanto, trata-se do privilégio de poder manter um museu pessoal repleto de pedaços da história, ainda que com o toque da inocência infantil de tentar completar um álbum de figurinhas. 

“Sempre digo que colecionar cartões-postais é como colecionar um álbum de figurinhas sem quantidade limitada. Há um número ímpar de postais. Hoje, tenho 8 mil, mas me faltam 2 ou 3 mil dos cartões-postais conhecidos. Muitos são bem antigos e talvez eu nunca consiga, mas eu corro atrás, eu busco, eu tento. É bem interessante nesse sentido, porque te deixa ocupado fazendo uma coisa que não é obrigatória. (…) Muitas vezes, não dá espaço para que a pessoa tenha algum problema depressivo, alguma coisa assim.” 

“Depois da família e do trabalho, é uma das minhas prioridades. (…) Acredito que a maioria de nós tem a tendência de juntar coisas, então colecionar seria juntar de uma forma organizada”, acrescenta. 

Para manter a coleção mais controlada, o contador de Novo Hamburgo, torcedor do Internacional, contabiliza apenas cartões-postais de estádios brasileiros. Eles vão desde os mais conhecidos, como o Maracanã, o Beira-Rio (casa de seu time do coração) e o Pacaembu, até outros que nem existem mais e deixam o acervo ainda mais único e valioso. 

“Tenho dois postais do Velódromo Paulistano, que foi o primeiro estádio com arquibancadas do Brasil. São dois cartões do início do século passado, raridades, poucas pessoas têm. Um deles, inclusive, eu sei que só eu e uma pessoa da Itália temos. Existem dois exemplares conhecidos. Há um outro postal que eu tenho em que aparecem dois estádios de São Paulo, que são o da Ponte Grande e o da Associação Atlética das Palmeiras. O Ponte Grande foi o primeiro do Corinthians e esse postal ninguém tem”, afirma, orgulhoso. 

No enorme conjunto de cartões-postais não poderia faltar, é claro, os mais tradicionais palcos ribeirão-pretanos: Santa Cruz, do Botafogo, e Palma Travassos, do Comercial. Mas Müller garante que não são apenas esses. “Tenho cartões-postais dos estádios de Ribeirão Preto, desde os antigos até os mais novos.” 

Ele ainda guarda outros itens, como livros e revistas, mas a grande coleção de sua vida é a de postais de estádios. Ainda sem ter visitado todos os campos – são mais de 2 mil diferentes no acervo –, ele quer sempre a próxima novidade. Por isso, o melhor postal de todos é sempre o mesmo, ainda que esse não se repita. 

“O cartão-postal favorito, para mim, sempre é o que eu ainda não tenho, o que eu quero conseguir.” 

 

 

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