Como ocorre com frequência em todo Brasil, tanto na rede pública de saúde, quanto nas instituições privadas, Ribeirão Preto teve um caso que repercutiu na cidade pelas redes sociais, e só não teve consequências mais devastadoras por intervenção do pai da criança. O menor L.G.R., de 13 anos, ficou internado no Hospital São Paulo por quase um mês. Passou por quatro cirurgias, teve parte do intestino necrosada e retirada. O garoto necessitará de acompanhamento rigoroso por toda vida, diante de perda de parte do órgão absortivo. Foram várias intercorrências, no período, desde a chegada à unidade de emergência até a alta médica. Internação de quase um mês e quatro cirurgias.
O caso
O drama começou em 18 de fevereiro. Após reclamar de fortes dores abdominais, L.G.R. foi levado à emergência da Unimed Ribeirão. Chegou a ir três vezes até a internação em estado grave. Segundo familiares, o último médico a atendê-lo prescreveu vermífugo e não solicitou qualquer exame.
O pai conta que após a internação na UTI, eles aumentaram o espectro de antibiótico, pois o quadro estava cada vez pior.
O menor foi colocado no oxigênio, teve diversas pioras no quadro de saúde e os pais só tomaram conhecimento após centenas de páginas do laudo e observações do advogado, que também é profissional da saúde, e cuida da ação contra os médicos e cooperativa.
De acordo com o pai, nas cirurgias, ele precisou de medicamentos vasoativos, pois a pressão baixou muito. Novos abcessos sem precoce intervenção foram responsáveis pelo aumento do espectro de antibióticos e pelas novas cirurgias, que deixou o adolescente com muito medo, como inclusive é descrito no prontuário médico.
“Meu filho procurou atendimento no dia 18 de fevereiro, às 2h27. Ele deu entrada no pronto atendimento com dor abdominal e 2 dias sem evacuar, teve o primeiro atendimento pela Dra. Fernanda que descreveu a hipótese diagnostica de apendicite aguda. A clássica descompressão brusca na fossa ilíaca direita apontava para isso, sinal que todo médico com conhecimento mediano deveria saber. Posteriormente, às 3h09 foi reavaliado por outra médica, Dra. Andrea, que ainda que com alterações no exame de sangue e observações da colega, liberou o meu filho, colocando CID de cólica. Ou seja, desde o dia 19 até o dia 24 o meu filho estava com apêndice supurada e só piorando, com derrame de fezes no peritônio. Sendo mais uma vítima de uma sequência de erros médicos”, reclama o pai.
“O quarto médico a atender com erro de conduta, foi o Dr. Raul, em 21 de fevereiro às 14h29, que além de não perceber os sinais clínicos clássicos da doença, sequer prescreveu qualquer exame e realizou a prescrição de vermífugo e hidratação oral, ou seja, os medicamentos Pedialite e Annita (vermífugo), somente piorando o quadro do meu filho, que desde o dia 18 apresentava sinais clássicos de apendicite com alteração nos marcadores sanguíneos”, completa.
Lavando as mãos
“Em uma parte do prontuário há uma discussão se quem deveria realizar a cirurgia seria a cirurgia pediátrica ou a cirurgia geral. A pediatria não quer realizar por se tratar de uma criança muito grande. A cirurgia geral insiste que a cirurgia pediátrica é a responsável. Isso pois todos sabiam que era cirurgia difícil, com risco de morte”, reclama o pai, indignado.
“A médica antes de entrar no centro cirúrgico nos avisou que o meu filho tinha 50% de chance de óbito. As duas equipes ficaram no prontuário jogando uma para a outra. É inadmissível que médicos sejam tão negligentes e causem tanta dor e sequelas em pacientes, principalmente uma criança. Que sirva de incentivo para outros pais não aceitarem tais erros. A Unimed apenas disse que lamentava e que tiraria o Dr. Raul, que prescreveu vermífugo, dos plantões. Mas, o mesmo segue atendendo em seu consultório na avenida Independência e na própria Unimed”, disse o pai do menino.
“Isso não ficará impune, pois acreditamos na Justiça. Não é preciso morrer para querer coibir atrocidades como essa. Esses médicos devem ter o CRM cassados”, completa o pai.
“Obviamente que não é possível mensurarmos ainda a extensão dos danos. O que sabemos é que o adolescente jamais poderá ficar sem acompanhamento médico, seja pelas aderências que já é sabido que ocorrerão, bem como aporte vitamínico devido a perda parcial de órgão absortivo, além dos danos psicológicos e estéticos. O Código Civil no seu artigo 927 e seguintes são claros, aqueles que causarem danos a terceiros tem a obrigação repará-lo, embora saibamos que jamais esta reparação ocorrerá de forma integral, uma vez que há danos que indenização alguma poderá reparar”, finaliza o advogado Danilo Ferreira, contratado pelo pai. Além do questionamento na Justiça, o pai registrou Boletim de Ocorrência na Polícia Civil.
Unimed Ribeirão Preto diz que não emite informações sobre atendimento
A reportagem do Tribuna Ribeirão entrou em contato com a assessoria de imprensa da Unimed Ribeirão solicitando informações sobre o que foi apurado pela empresa e as medidas que foram tomadas em relação ao caso.
Em nota, a Unimed Ribeirão Preto diz que, “em conformidade com as diretrizes legais e em respeito ao sigilo médico e à privacidade de seus pacientes, não emite informações sobre atendimentos individuais. A cooperativa médica reitera o seu compromisso contínuo no cuidado das pessoas com excelência”.