Luiz Paulo Tupynambá *
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A entrada de Pablo Marçal, do PRTB, na eleição paulistana bagunçou de vez a corrida ao cargo de prefeito da maior cidade do país. Seu “estilo” boca suja e irreverente provocou corre-corre nas candidaturas adversárias. Tudo indicava um segundo turno com dois candidatos bem definidos: o emedebista e atual prefeito Ricardo Nunes e o campeão da esquerda Guilherme Boulos, do PSOL. O segundo bloco teria José Luiz Datena, que estacionou seu cadastro eleitoral temporariamente no PSDB, seguido da deputada federal Tabata Amaral, candidata pelo PSB. Depois vem a turma do rodapé de pesquisa.
O salão estava organizado para o pagode eleitoral, quando surgiu a figura de Marçal. Empresário goiano, com negócios baseados no Estado de São Paulo, nas áreas de educação, hotelaria e treinamento motivacional. Foi de “coach” a empresário de sucesso, aproveitando a onda dos primeiros influencers brasileiros nas mídias sociais. Bolsonarista assumido, desde o ano passado mostrava o desejo de candidatar-se à prefeitura de Sampa pelo PL. O maior empecilho foi a sua baixa militância junto à liderança do PL paulista. Ao deixar de lado as necessárias vênias e devidos rapapés na intricada convivência partidária da extrema-direita, foi descartado de pronto. Mesmo na escolha do candidato a vice na chapa acertada entre o PL e Jair Bolsonaro com o MDB de Baleia Rossi, partido de Ricardo Nunes, nem foi ouvido. Prevaleceu o forte bloco militaresco do bolsonarismo paulista que emplacou o ex-comandante da ROTA, Coronel Ricardo Melo, do PL.
Marçal não se deu por vencido. Filiou-se ao nanico PRTB (Partido Renovador Trabalhista Brasileiro). Já no novo partido, lançou-se candidato à prefeitura paulistana. Como vice, escolheu no PRTB uma mulher negra, a Cabo PM Antônia de Jesus Barbosa Fernandes, mãe, católica e antiaborto, que mora em Pirituba, bairro de baixa classe média na periferia de São Paulo. Marçal faz questão de dizer que é o único a ter uma pessoa negra como vice. Se não lhe deram abertura no PL de Jair Bolsonaro, buscou outro caminho. Logo nas primeiras pesquisas onde constava seu nome, Marçal teve performance surpreendente. Na primeira semana de propaganda eleitoral, as novas pesquisas fizeram soar alarmes nas antes consideradas candidaturas favoritas. O novato chegou com números superiores até aos do conhecidíssimo apresentador Datena.
O bolsonarista desgarrado entrou de penetra no pagode da eleição, mas virou protagonista. Chegou tacando sal nos espetos na churrasqueira, bebeu a cerveja do Titio Jair que estava gelando no isopor, escondeu o pandeiro da banda e quis cantar pagode em ritmo mexicano. Melou a festa programada e está fazendo a sua.
Mais uma vez, a força da mídia eletrônica mostra que não se pode desprezá-la. Mestre nesse meio, Marçal usou os dois primeiros debates para “lacrações”, com críticas às vezes infundadas e até mentiras. Extraiu, assim, material para publicar cortes editados na internet. Desrespeitou as regras acertadas entre as campanhas, usou técnicas corporais para insultar e provocar outros candidatos, fazendo cara de reprovação e asco ao ouvir suas respostas. Perseguiu com uma carteira profissional em riste o candidato Boulos no palco de um debate. Se não acabou na panela como o pato da música, virou o pato feio da campanha. Os três primeiros colocados nas pesquisas se juntaram para dar um gelo nele nos debates programados, ameaçando não aparecer nos eventos para não dar conteúdo para os “cortes” midiáticos do direitista.
As declarações e acusações de Marçal contra os adversários já renderam várias denúncias à Justiça Eleitoral e ele teve que ceder espaço para respostas dos adversários em suas mídias sociais. A última encrenca que caiu em seu colo foi a denúncia de que os assessores da cúpula de seu partido trocavam carros de luxo por drogas. O candidato nega tudo e diz que, se houve alguma coisa, os culpados têm que pagar na Justiça. Nada de novo, é a resposta padrão de todo político de carreira.
Mas não foi só nas candidaturas que a presença de Marçal causou tumulto. O acordo de Bolsonaro com Baleia Rossi foi feito no começo do ano, antes do influencer/candidato aparecer no pedaço. Bolsonaro escolheu o Coronel Melo porque tem muita afinidade com a atual cúpula da PM paulista e o PL entende que a segurança pública é a principal preocupação dos paulistanos. Mas Bolsonaro esqueceu de combinar com a patuleia, que é o povo votante. E quem é bolsonaro-raiz despreza Ricardo Nunes e o MDB. Esse público está migrando sua preferência para Marçal. Para o povão, vice é só enfeite, não governa.
Nas redes sociais surgem críticas ao abandono por parte da cúpula bolsonarista da candidatura de um bolsonarista-raiz como Marçal para dar mais quatro anos de governo para o “esquerdista ensaboado” Ricardo Nunes. O número de críticas cresce diariamente. Temendo o esvaziamento da candidatura Nunes e a entrega da prefeitura para Boulos, a cúpula do PL reagiu através de Eduardo Bolsonaro, com críticas ferozes a Marçal. Que não pegaram bem na patuleia que o admira.
A confusão está armada. E o medo de perder a capital paulista começa a incomodar a direita e a esquerda. Já imaginou o dissidente Marçal vencendo a eleição, derrotando de uma vez só o prefeito de plantão, o PT de Lula, o MDB do Baleia e o PL de Bolsonaro? Tem direitista que já está enxergando um novo “patrão” surgindo. A ver.
* Jornalista e fotógrafo de rua