Pe. Gilberto Kasper *
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Há muitos modos de ser padre e de evangelizar. Cada um colocando seus dons a serviço do Reino de Deus, conforme lhes foram concedidos gratuitamente. Mas há algo em comum que nunca poderá faltar em nosso pastoreio: Sermos todos configurados com Cristo, o Bom Pastor, que conhece suas ovelhas pelo nome, as ama, as acolhe, as compreende, as aceita como são, as perdoa e as traz de volta nos ombros (melhor seria ainda, apertá-las ao coração), não para seu prestígio próprio, mas o rebanho eclesial.
O Padre que atrai os fiéis para si, sem conseguir conduzi-los pelo itinerário do Senhor a Deus, é desfigurado do Cristo, o Bom Pastor. Sermos padres que não machuquem, surrem, enxotem os fiéis que lhes são confiadas, às vezes porque não nos bajulam ou discordam de nossos métodos, ou ainda, tentam ajudar-nos por meio da correção fraterna. Sermos padres que não emoldurem e engessem a comunidade em nossas estruturas, muitas delas já ultrapassadas e opressoras. Quantos de nós ainda somos padres que não saem de suas sacristias e salas de atendimentos: há até os que exigem ofício para uma conversa, ou exigem senha para um encontro com seus fiéis, o que é diferente de agendar atendimentos espirituais ou pastorais. Há os que exploram os paroquianos e quando já não satisfazem mais seus caprichos, são excluídas da paróquia, sem nenhuma tentativa de diálogo.
Nossos fiéis são mais exigentes em nossos dias, e não saem mais atrás de qualquer padre, só porque é bonito, atraente, canta bem, se veste com roupas de marca e frequenta regularmente shoppings, academias e reuniões que lhes garantam um minuto de fama. Os que fazem isso acabam desistindo no meio do caminho profundamente decepcionados, porque não chegaram ao verdadeiro destino: Jesus Cristo Ressuscitado. Pararam em alguém que brincou de ser padre e que não soube cumprir com sua missão: a de conduzir a comunidade às verdadeiras pastorais propostas pela Igreja de Jesus Cristo, que é despretensiosa, simples, pobre com os pobres, totalmente despojada de poder, arrogância, prepotência e falsos valores, mas que chora e sofre com as pessoas machucadas por uma cruel Cultura de Sobrevivência, despida de dignidade humana! Na Igreja de Jesus Cristo não há lugar para disputas que geralmente produz a inveja, fruto de desequilíbrios mal administrados, interiormente. Quem não gasta sua vida pelos fiéis não serve para ser padre, é antes um impostor!
Precisamos de Vocações santas, simples, puras, configuradas a Cristo, o Bom Pastor! Não esqueçamos o pronunciamento dos Bispos reunidos em Puebla na III Conferência Episcopal da América Latina e do Caribe em 1979: “As Vocações (santas e não mercenárias) são a resposta de um Deus providente à uma Comunidade orante…”.
A próxima semana, à luz do Mês Vocacional é dedicada à vida consagrada. Religiosos e religiosas que se consagram totalmente ao serviço do Reino de Deus, procurando viver intensamente os votos de obediência, castidade e pobreza.
Desde que me conheço por gente senti o desejo de ser padre. Muitas foram as dificuldades para isso. De lábios sacerdotais ouvia frequentemente a expressão “não serve”. Quem mesmo me incentivou a não desanimar e responder ao chamado que sussurrava em meu coração, foram religiosas consagradas. Essas sim acreditaram em minha vocação. Não obstante meus tão numerosos limites, recebi o sacramento da Ordem e fui ordenado padre. Por isso, minha primeira gratidão é a Deus, que sei me chamou, do contrário não teria ultrapassado todos os obstáculos para ser padre. Já em segundo lugar, minha gratidão muito profunda é às Religiosas que, presentes em minha vida, desde a educação básica até o dia de minha ordenação sacerdotal, não me deixaram desistir dela, a vocação ao ministério sacerdotal. Hoje gostaria de expressar minha gratidão a todas as Irmãs Religiosas, que de alguma maneira me conduziram à realização de minha vocação, na pessoa de minha madrinha de ordenação presbiteral, a Irmã Maria da Salette Barboza, uma religiosa Ursulina. Mulher-Igreja e testemunha da verdadeira vida totalmente consagrada ao Reino de Deus. Sejam todas grandemente abençoadas e recompensadas!
* Teólogo, reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres; pároco da Paróquia Santa Teresa D’Ávila, presidente do Fraterno Auxílio Cristão de Ribeirão Preto e jornalista