Timothy Ray Brown, a primeira pessoa conhecida a ser curada da infecção de HIV no mundo, morreu na Califórnia (EUA) após retorno de um câncer terminal, informou seu companheiro, Tim Hoeffgen, nesta quarta-feira, 30 de setembro. “É com grande tristeza que anuncio que Timothy faleceu cercado por mim e amigos, após uma batalha de cinco meses contra a leucemia”, escreveu em um post no Facebook. Hoeffgen disse que Brown era seu “herói” e “a pessoa mais doce do mundo”.
Brown, nascido em 11 de março de 1966, ficou conhecido como o “Paciente de Berlim”. A doença foi eliminada em 2007 após ele receber o transplante de um doador com resistência natural ao vírus da aids. O caso do americano fascinou e inspirou uma geração de médicos e pacientes infectados, oferecendo um vislumbre de esperança de que um dia será encontrada uma cura.
“Devemos a Timothy e seu médico, Gero Huetter, uma grande gratidão por abrir a porta para os cientistas explorarem o conceito de que a cura para o HIV é possível”, disse Adeeba Kamarulzaman, presidente da Sociedade Internacional de Aids Society (IAS, na sigla em inglês). Brown discursou em uma conferência sobre aids na IAS depois de obter sucesso no seu tratamento.
Brown foi diagnosticado com HIV em 1995, enquanto vivia na capital alemã, e em 2006 também foi diagnosticado com um tipo de câncer no sangue conhecido como leucemia mieloide aguda. Embora Brown tenha permanecido livre do HIV por mais de uma década após o tratamento, ele teve uma recaída mais agressiva da leucemia no ano anterior.
Seus médicos disseram que o câncer de sangue se espalhou para sua coluna e cérebro, e, recentemente, ele esteve em cuidados paliativos na cidade natal de Palm Springs. Na época em que Brown foi diagnosticado com o câncer, o médico Gero Huetter, especialista em câncer sanguíneo da Universidade de Berlim, defendia que um transplante de medula era a melhor chance para que o paciente sobrevivesse e propôs utilizar o procedimento também para tentar curá-lo do HIV, com a participação de um doador com uma rara mutação genética que fornece resistência natural ao vírus da aids.
Esse tipo de tratamento envolve a destruição do sistema imunológico do paciente e o transplante de células-tronco com uma mutação genética chamada CCR5, que resiste ao HIV. Apenas uma pequena proporção de pessoas – a maioria delas descendentes do norte da Europa – tem a mutação CCR5 que as torna resistentes ao vírus causador da aids. Esse e outros fatores tornaram o tratamento caro, complexo e altamente arriscado.
O primeiro transplante de Brown ocorreu em 2007, mas foi apenas parcialmente bem-sucedido, pois o vírus do HIV sumiu, mas a leucemia permaneceu. Para Huetter, o caso de Brown foi um tiro no escuro. Ele teve um segundo transplante do mesmo doador em março de 2008. Desde então, testava repetidamente negativo para HIV.
Aids
Mais de 37 milhões de pessoas em todo o mundo estão atualmente infectadas com o HIV, e a pandemia da aids matou cerca de 35 milhões de pessoas desde que começou na década de 1980. Os avanços médicos nas últimas três décadas levaram ao desenvolvimento de combinações de medicamentos conhecidas como terapias antirretrovirais que podem manter o vírus sob controle, permitindo que muitas pessoas vivam com o vírus por anos.
Um segundo paciente, Adam Castillejo, que era conhecido como “o paciente de Londres” até revelar sua identidade este ano, também está em remissão do vírus após ter feito um transplante em 2016 semelhante ao de Brown. Em uma conferência em julho, pesquisadores também disseram que podem ter alcançado uma remissão de longo prazo em um homem do Brasil usando uma combinação poderosa de drogas destinadas a liberar o HIV de seu corpo.