Em meio ao agravamento da pandemia da covid-19, ao menos 115 dos 645 municípios paulistas (17,8% do total) estão com “estoque crítico” de cilindros de oxigênio medicinal, com capacidade para atender à demanda por menos de uma semana. O levantamento foi divulgado nesta quarta-feira, 24 de março, pelo Conselho de Secretários Municipais de Saúde de São Paulo (Cosems/SP).
A lista traz 18 cidades da região, como Ribeirão Preto, Batatais, Bebedouro, Brodowski, Cravinhos, Guatapará, Jardinópolis, Olímpia, Pitangueiras, Pontal, Santa Rosa de Viterbo, Santo Antônio da Alegria, São Simão, Sertãozinho, Taiaçu, Terra Roxa, Viradouro e Vista Alegre do Alto.
Em Ribeirão Preto, porém, contrariando a informação do Cosems/SP, o secretário municipal da Saúde, Sandro Scarpelini, diz que a cidade não apresenta índices de uma possível crise de oxigênio, como está ocorrendo em outras regiões do país.
Na última segunda-feira (22), o governo de São Paulo anunciou que a Cervejaria Ambev vai fornecer oxigênio para o tratamento contra o novo coronavírus no estado. A companhia vai montar, no prazo de dez dias, uma usina dedicada ao envase em Ribeirão Preto, para fornecimento gratuito ao setor público de saúde, em especial hospitais municipais.
A usina terá capacidade para envasar 125 cilindros de dez metros cúbicos por dia e será operada pelos times da Ambev, que trabalharão em turnos para garantir a produção 24 horas. O produto será doado para unidades de saúde em situação crítica no estoque de oxigênio.
Para isso, a Ambev vai destinar parte da Cervejaria Colorado para produzir e envasar oxigênio hospitalar suficiente para manter até 166 pessoas por dia. Equipamentos já estão sendo adquiridos e a expectativa é que a produção comece no início de abril.
No mesmo dia, a prefeitura de Ribeirão Preto informou que, em 16 de março, iniciou a instalação de tanques de oxigênio com maior capacidade de armazenamento no Polo Covid 2, instalado na Unidade Básica e Distrital de Saúde Doutor João Baptista Quartin, a UBDS Central, nas Unidades de Pronto Atendimento Norte (UPA Nelson Mandela, Adelino Simioni) e Oeste (Doutor João José Carneiro, Sumarezinho) e no Hospital Santa Lydia.
Na UBDS Central, o tanque que comportava 980 metros cúbicos de oxigênio passará para capacidade de armazenamento de 1.6 mil metros cúbicos. Nas UPAs Norte e Oeste, os novos tanques terão a capacidade de 1.6 mil metros cúbicos de armazenamento de oxigênio cada, para assistência dos pacientes. Já a substituição do equipamento no Hospital Santa Lydia passa de cinco mil para nove mil metros cúbicos de armazenamento de oxigênio. A previsão de conclusão da implantação dos tanques é para 26 de março.
A ação faz parte do conjunto de estratégias adotadas pelo município para garantir atendimento e assistência aos pacientes que necessitam, diante do aumento do número de internações causadas pelo novo coronavírus (Covid-19). O abastecimento é feito de forma semanal pela empresa fornecedora. Com a instalação dos tanques, as unidades ampliam a capacidade de atendimentos.
“É uma medida preventiva para que Ribeirão Preto continue sendo uma das cidades referência no combate ao coronavírus e dar suporte para os profissionais da saúde trabalharem com um único objetivo, salvar vidas”, diz Scarpelini.
O Brasil está no pior momento de toda a pandemia. Na terça-feira (23), pela primeira vez, registrou mais de três mil mortes por coronavírus. Há escassez de remédios e insumos, especialmente para manter pacientes intubados. Um monitoramento do Ministério da Saúde apontou que 13 Estados estão com situação preocupante ou “estado de atenção” para desabastecimento de oxigênio, dentre os quais está São Paulo.
Os dados de estoque de oxigênio gasoso foram levantados pelo Cosems/SP entre segunda-feira e esta quarta-feira. Dos 645 municípios, 177 responderam ao questionário, dos quais 115 apontaram estar com estoque para menos de uma semana. Na sexta-feira (19), das 69 cidades que responderam, 54 apontaram estar com dificuldades para fazer a reposição.
Como em outros Estados do país, municípios de médio e pequeno porte paulistas dependem majoritariamente do oxigênio em cilindros. Nesses casos, por vezes, a logística envolve grandes deslocamentos e tem volume de entrega limitado. Hospitais de maior porte costumam receber, por exemplo, o produto na forma líquida, que é armazenado em tanques. Com a alta demanda, contudo, parte dessas instituições têm enfrentado problemas com panes.