Rui Flávio Chúfalo Guião *
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O Brasil comemorou sua data nacional no 7 de setembro, rememorando o episódio do Ipiranga, quando o Príncipe Regente D. Pedro, retornando de uma viagem a Santos, recebeu, às margens do riacho, notícias de Lisboa, que desautoravam suas ordens e reafirmavam a sua volta para a capital do Império.
Jovem e impulsivo, deu o grito famoso e rompeu os laços que nos atavam ao Império Português.
Se o grito do Ipiranga representou nossa emancipação política, nosso nascimento como estado livre, não podemos no entretanto nos esquecer que outros gritos prepararam a Independência.
No final do século XVII, os paulistas descobriram as minas de ouro de Vila Rica e Sabará, dando início à exploração de nossa riqueza, que acabaria enchendo os cofres do Império português. A medida que os veios auríferos se tornavam menos produtivos, a Coroa tomou várias medidas para manter a sua exploração de nosso território.
Isto criou um sentimento de revolta na rica capitania que se tornara Minas Gerais e criou um caldo de cultura para a Inconfidência Mineira, primeiro movimento separatista do Brasil.
Inspirado por poetas e comerciantes de Vila Rica,a conspiração baseava-se no exemplo da Revolução Americana de 1776 e pregava a independência de Minas do domínio português.
A história é conhecida por todos. Traídos por um dos insurgentes, que teve suas dívidas perdoadas pela Coroa, em troca de informações sobre o levante, os inconfidentes acabaram presos e degredados para a África. O alferes José Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes, foi único e ser morto, tornando-se assim o nosso Mártir da Independência.
Ainda no final do século XVIII, eclodiu, na Bahia, a Revolta dos Alfaiates, assim chamada pela grande participação de profissionais da costura e apoiada pela classes mais simples do povo.
Salvador tinha deixado de ser a capital da colônia, transferida para o Rio de Janeiro, novo destino dos parcos investimento da Coroa. Havia grandes diferenças entre a elite e a população em geral, que, inclusive passava fome, por falta de alimentos disponíveis. Esta insatisfação acabou desaguando na revolta.
O levante foi, também, reflexo das revoluções americana e francesa, bem como do levante do Haiti, divulgados dentro do período iluminista que se iniciava e tinha como uma de suas metas a libertação dos escravos e o estabelecimento de uma república independente de Portugal, onde todos seriam cidadãos iguais.
A revolta culminou com seus líderes mortos ou despachados para a África.
Ao contrário dos movimentos anteriormente citados, que foram derrotados ainda na sua gestação, a Revolta Pernambucana de 1817 proclamou e instalou uma república, que depois foi desmantelada pelas tropas do Reino.
Uma grave crise para os engenhos nordestinos, acrescida da queda de preços do algodão e da cobrança de pesados impostos para manter a corte portuguesa, que havia se instalado no Rio de Janeiro, apressou o levante na província mais rica do Reino Unido.
A elite pregava a separação de Portugal, a proclamação de uma república, os direitos dos cidadãos, embora mantivesse a escravidão.
A revolta atrasou a coroação de D. João VI e a chegada da Princesa Leopoldina ao Brasil.
Foi sufocada e seus líderes mortos ou desterrados.
Mas, estes insucessos prepararam a nossa Independência.
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e Secretário-Geral da Academia Ribeirãopretana de Letras