Tribuna Ribeirão
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OSVALDO CRUZ E O MOSQUITO 

Sérgio Roxo da Fonseca *   
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No final da última década do século XX, o Governo Federal transferiu para os governos locais a luta contra a praga dos mosquitos transmissores de graves doenças. Nos dias de hoje conseguimos perceber o gravíssimo erro cometido que impulsionou entre nós a incidência de mortos como a explosão de uma nova epidemia, consistente na microcefalia de recém-nascidos. Uma tragédia! 

Admirador confesso do médico paulista Osvaldo Cruz, até mesmo porque trabalhei em sua cidade natal, São Luís do Paraitinga, sinto necessidade, se pudesse,  de ressuscitar sua pessoa, nem que fosse por três dias. 

Oswaldo Cruz formou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, numa época em que a denominada Cidade Maravilhosa era uma das mais imundas do planeta. Os seus habitantes eram contaminados especialmente pela malária e pela peste bubônica. 

O sanitarista fez seu curso de pós-graduação no Instituto Pasteur de Paris. Voltou para o Rio de Janeiro e encetou um programa de vacinação obrigatória de seus habitantes ao lado da limpeza de casas e esgotos. 

Contra ele eclodiu a Revolta da Vacina em 1908. A imprensa, quase toda, colocou-se contra o programa médico. A Escola Militar rebelou-se contra a vacinação. Dizia-se que quem tomasse a vacina viraria lobisomem. As capas das revistas documentavam a desorganização social. Afirma-se que até mesmo Rui Barbosa postou-se contra a obrigatoriedade da vacinação, a pretexto de que é direito do homem administrar seu próprio destino. 

Osvaldo Cruz conseguiu vencer toda a oposição lançada contra a sua visão de sanitarista. Conseguiu higienizar a Cidade Maravilhosa. Salvou um número incalculável de vida. No entanto, até seu falecimento era vaiado quando reconhecido pelas ruas. Era identificado como inimigo do seu povo. 

Seu trabalho não ficou aí. Liderou uma guerra nacional contra o mosquito. Foi apoiado firmemente pelas nossas Forças Armadas, que avançaram por todo o território nacional, em marcha acelerada, para destruir o então inimigo do povo. 

Eco do seu trabalho, ainda na metade do século XX, todas as cidades eram fiscalizadas por um tipo de funcionário, o mata-mosquito, que impediu, durante um largo espaço de nossa história, que o número do mosquito fosse maior do que nossos filhos e que suas armas matassem mais do que a dos terroristas. 

É bem verdade que nós não podemos ressuscitar Osvaldo Cruz que, se estivesse vivo, seria o primeiro nobelista brasileiro. Mas, seguramente, devemos ter a humildade de ajoelhar perante o seu altar, rogando inspiração pelas lições por ele lecionadas no início do século XX. Já esquecidas?  

 

 

* Advogado, professor livre docente aposentado da Unesp, doutor, procurador de Justiça aposentado, e membro da Academia Ribeirãopretana de Letras  
  
 

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