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Os salários da Câmara

Se o juiz Reginaldo Siqueira, da 1ª Vara da Fazenda de Pública de Ribeirão Preto, acatar o parecer do promotor Wanderley Trinda­de e acabar com a “incorporação inversa”, a Câmara poderá econo­mizar mais de R$ 1,5 milhão por ano somente com salários – sem contar os encargos trabalhistas. A última folha de pessoal do Le­gislativo, de março, listou 94 ser­vidores efetivos. Destes, mais de um terço – 34 servidores – têm seus salários elevados graças a uma emenda apresentada pela Mesa Diretora de 2012, à época presidida pelo ex-vereador Cícero Gomes da Silva (MDB).

Dentre os 34 beneficiados pela incorporação contestada es­tão três ocupantes dos principais de cargos em chefia, com salários­-base de R$ 5 mil, R$ 2,5 mil e R$ 3 mil que com a emenda e outras gratificações recebem R$ 33,6 mil, R$ 16,5 mil e R$ 22,2 mil, respecti­vamente. Eles perderiam entre R$ 4,2 mil e R$ 10,2 mil.

A grande maioria dos bene­ficiados foi nomeada há pou­cos anos, depois de ocuparem cargos em comissão em algum dos 27 gabinetes de vereado­res. Todos foram aprovados em concursos públicos que tinham em comum poucas vagas (geral­mente uma, mas a Mesa Dire­tora da Câmara criava dezenas posteriormente), baixos salários e mínima exigência de escolaridade – tudo para atrair poucos candi­datos qualificados.

Quatro auxiliares legislativos efetivados em 2013, com salário de R$ 2,51 mil cada, recebem hoje R$ 14 mil, R$ 16,28 mil, R$ 21,98 mil e R$ 24,94 mil. Eles teriam descontado entre R$ 6,4 mil e R$ 9,3 mil. Proporcionalmente em relação ao salário atual, o maior desconto seria no holerite de uma telefonista contratada há dois anos (abril de 2016) por R$ 1,59 mil, mas que embolsa atualmente R$ 8,8 mil, dos quais R$ 6.400 vêm da lei complementar nº 2.515 de 2012, questionada em ação popu­lar impetrada pela advogada Taís Roxo da Fonseca e pelo professor Sandro Cunha dos Santos, ambos ligados ao Partido Socialismo e Li­berdade (PSOL),

Um dos argumentos utilizados pelos autores da ação popular é a afronta ao princípio constitucional da isonomia. Alguns funcionários foram efetivados há apenas dois anos, entre abril e maio de 2016, para receber R$ ,72 mil mensais, segundo o edital do concurso pú­blico. Atualmente, um deles recebe R$ 2,24 mil desempenhar a mes­ma função de quem tem deposita­do em conta corrente entre R$ 12 mil e R$ 13,69 mil, servidores que já ocuparam cargos comissiona­dos e tiveram os vencimentos ele­vados graças à emenda à lei 2.515.

O promotor também requer a devolução de todo o dinheiro re­cebido pelos 99 servidores efetivos desde 2012 0e ainda abre espaço para a responsabilização dos ve­readores que aprovaram, há seis anos, a referida lei, cujo artigo 7º deu origem ao que os autores chamam de “aberração jurídi­ca” – um terço dos funcionários aprovados em concursos para cargos com salários abaixo de R$ 2 mil ingressou no Legislativo e imediatamente passou a receber mais de R$ 20 mil.

Como de praxe, o juiz Regi­naldo Siqueira pediu o parecer ao Ministério Público Estadual (MPE) antes de decidir se conce­derá ou não a liminar solicitada pelos autores da ação para que o pagamento seja interrompido imediatamente. A lei complemen­tar “dispõe sobre a estruturação do plano de classificação de cargos, vencimentos e carreiras do serviço público municipal da adminis­tração direta e autárquica, institui nova tabela de vencimentos e da outras providências.”

A Câmara da sessão de 2012

Mesa Diretora
Presidente: Cícero Gomes da Silva (PMDB)
Vice-presidente: Capela Novas (PPS)
Primeiro secretário: Walter Gomes (PR)
Segundo secretário: Corauci Netto (PSD).

Votaram a favor da lei 2.515/2012
Cícero Gomes da Silva (PMDB)
Capela Novas (PPS)
Walter Gomes (PR)
Corauci Netto (PSD).
Gilberto Abreu (PV)
Bertinho Scandiuzzi (PSDB)
Gláucia Berenice (PSDB)
Jorge Parada (PT)
Silvana Resende (PSDB)
Evaldo Mendonça, o “Giló” (PR)
Samuel Zanferdini (PMDB)
José Carlos de Oliveira, o “Bebé” (PSD)
Léo Oliveira (PMDB)
Marcelo Palinkas (PSD)
Saulo Rodrigues (PRB)
Nicanor Lopes (PSDB)
Nilton Gaiola (PSC)
André Luiz da Silva (PCdoB)

Não votaram
Maurílio Romano Machado (PP) e
Waldyr Vilela (PSD)

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