Valdir Avelino *
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As fortes chuvas de verão que chegam como alívio para muitos, são certeza de desespero e desalento para outros. Em mais um janeiro de caos climático, São Paulo, Rio e outras grandes cidades contabilizam mortos e milhares de desabrigados por conta das chuvas. Os fortes temporais registrados nos últimos dias geraram alagamentos, enchentes, destruição de casas e deslizamentos de terra.
Em Ribeirão Preto também foram registradas chuvas volumosas em curtos períodos de tempo e essa situação deve se repetir nos próximos dias e meses – o que aumenta a chance de prejuízos ao meio ambiente e aos moradores da nossa cidade. Para evitar alagamentos e enchentes, Ribeirão Preto deveria apostar em medidas preventivas, onde o primeiro passo seria fazer um mapeamento eficaz e complexo de pontos críticos. Tal levantamento serviria para intensificar a limpeza nessas áreas e evitar que a sujeira e a impermeabilização desordenada do solo impeçam o escoamento da água em tempos de chuvas.
No passado, em Ribeirão Preto, já choveu muito mais do que chove hoje. A diferença é a que nossa cidade tinha espaço para que as águas da chuva fossem absorvidas. Hoje, devido a ausência de planejamento e a falta de pessoal e estrutura de trabalho compatível com os desafios, problemas de alagamento tendem a ocorrer com muito mais frequência. O solo de Ribeirão Preto, a exemplo das grandes cidades, não tem mais a capacidade de absorver, rapidamente, uma chuva de alta intensidade.
Os riscos de inundações em Ribeirão Preto não se mostram de forma homogênea e muitas vezes nem atingem a totalidade dos bairros: dependem não só da quantidade de chuva como também do próprio curso do rio e por onde ele se espalha. A água da chuva convertida em alagamento e enchentes chega de repente e não há alarmes públicos. A melhoria no saneamento básico, de responsabilidade do Município, está entre as principais demandas da população, mas, nem de longe, está entre as prioridades do governo. O governo não investiu e nem investe no fortalecimento e na ampliação do serviço público de água e esgoto, mesmo sendo este um serviço lucrativo para o Município.
O DAERP, ilegalmente transformado em secretaria municipal na atual gestão, é lucrativo e como autarquia poderia atuar para minimizar o impacto das chuvas e possibilitar o amortecimento e controle das cheias. Mas, para o governo, interessa o DAERP gerando lucro para outras áreas da administração e não se capacitando para implementar estratégias de ação e intervenção em determinadas áreas. O governo tem deixado para empresas privadas os recursos que se referem a intervenções e manutenção no sistema de drenagem, obras e serviços nas áreas de riscos geológicos e obras de combate a enchentes e alagamentos. É evidente que aquele que obtém lucro com alagamentos não tem interesse na manutenção e operação dos sistemas de monitoramento e alerta de enchentes. E isso pode transformar regiões de nossa cidade em um verdadeiro pantanal.
Diversas gestões municipais permitiram que o solo da cidade acabasse impermeabilizado por mais cimento, construções, asfalto. A água, que não tem mais onde se infiltrar no solo, vira enchente e dor de cabeça para o conjunto dos moradores da cidade. Até mesmo bairros onde encontram-se construídas residências de alto valor imobiliário, foram edificados sobre uma a enorme área de várzea. E até mesmo essas regiões da cidade correm o risco de ficarem parcialmente inundadas durante o período chuvoso.
Para atenuar o impacto de enchentes e alagamentos, o Sindicato dos Servidores Municipais/RPGP defende um planejamento urbano adaptado às cheias – que vai de ações em pequena escala por toda a cidade até uma ocupação mais responsável das várzeas dos rios, cujo adensamento tem sido permitido e até incentivado por autoridades municipais.
Somente com a ampliação do serviço público municipal de água e esgoto, com o respeito à Lei Orgânica do Município, com a independência financeira e administrativa do DAERP restabelecida e a valorização dos nossos servidores municipais, será possível a realização de um efetivo mapeamento de risco de enchentes e inundações. Somente uma autarquia pública municipal revigorada tem condições e interesse público de realizar um verdadeiro levantamento preliminar de dados atualizados sobre as bacias hidrográficas da cidade e, a partir desse passo, coordenar o trabalho de limpeza de córregos, microdrenagem, limpeza, construção e conservação de galerias.
* Presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, Guatapará e Pradópolis