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Os Leonardos

Em recente entrevista a um jornal, o notável escritor cubano Leonardo Padura, cuja obra já li e pelo qual tenho o maior respeito e admiração, declara ter recebido grande influência do escritor ítalo-siciliano Leonardo Sciascia, na elaboração de sua obra.

Como não conhecia este último autor, encomendei, na Estante Virtual, alguns exemplares de seus livros, dentre eles O dia da Coruja, que acabo de ler com grande prazer intelectual.

Sciascia nascido na Sicília, em 1921 e nela morto em 1989, é autor de vasta obra que engrandece a literatura do século XX, sempre voltada para expor a realidade daquela ilha e suas ligações com a Máfia, usando de tramas policiais para desta­car a sua forte presença e influência, que transforma a vida diária dos cidadãos insulares. É o criador do policial capitão Bellodi, nascido no norte da Itália e que se traslada para a Sicília, onde procura afastar a forte presença da Gamorra na solução dos crimes. Suas análises das dificuldades de sua atu­ação, sempre esbarrando na negativa da existência da própria organização e na defesa que todos fazem de seus integrantes, minam sua vontade de estabelecer a verdade dos fatos, mas, não o impedem de chegar à realidade. E, apesar disto tudo, nutre um secreto amor pela Sicília, que o impede de retornar à sua região natal.

Leonardo Padura nasceu em Havana, Cuba, no ano de 1955 e consagrou-se não só um expoente da literatura da­quele país, como ocupa lugar de grande destaque nas letras de língua espanhola. Também usa o romance policial como instrumento para expor as belezas e seu amor por Cuba, bem como as dificuldades que os cubanos enfrentam em sua reali­dade. É o criador do detetive Conde, que, sem se desgarrar da profunda ligação com as belezas de sua cidade, desvenda os crimes com muita competência.

Os dois Leonardos têm em comum o amor pelos seus res­pectivos países, que estão sendo sempre louvados, bem como expõem de maneira crua as mazelas de cada terra. Suas obras constituem uma análise pungente da alma de seus habitantes, que sobrevivem apesar das agruras que têm de suportar.

O capitão Bellodi nasceu na Província de Parma, no norte italiano, mas incorporou a vida, as belezas e as contradições da Sicília, de tal modo que não quer mais se afastar da ilha. Conde nasceu em Havana, ali teve sua infância e juventude e incorporou a languidez caribenha de sua pátria. É um belo amante, que embora reconheça os defeitos da ilha amada, nela quer viver até sua morte.

A história da Sicília é uma das mais ricas do Mediterrâneo. Foi parte da Magna Grécia até o século III a.C., passou para o Império Romano, que a considerava uma das mais ricas de suas províncias, sendo grande fornecedora de grãos para toda a Europa, então nas mãos dos romanos. Sofreu invasões e sa­ques de vários povos bárbaros, fez parte de impérios longín­quos, como o dos normandos e dos catalães, até consolidar seu território no Reino das Duas Sicílias, que compreendia a ilha e o Reino de Nápoles. Nossa terceira Imperatriz, D. Tere­sa Cristina, esposa de D. Pedro II, era princesa daquele Reino. Garibaldi incorporou as Duas Sicílias ao Reino da Itália, quando da unificação italiana.

A leitura das obras dos dois grandes escritores é fonte de conhecimento da realidade e nos proporciona um grande de­leite intelectual, pela forma elegante das narrativas e a crueza da realidade de cada ilha.

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