Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Passar pela avenida Kennedy, na sua porção ao lado do Novo Shopping, é experiência inédita, que nos traz grande admiração e respeito pela natureza. É que, no seu canteiro central, estão floridos os pés de flamboyants. São renques de um vermelho forte, algumas vezes mesclado com um amarelo claro, formando um único conjunto de flores, que acompanha a suave descida da avenida, em direção ao córrego do Retiro, que corre pela avenida Maurílio Biagi.
É impossível não notá-los. Mesmo os mais apressados e aqueles que têm dificuldade em ler o livro da Natureza, não ficam imunes à sua beleza. Suas cores são tão vivas, sua apresentação tão bonita, que nos fazem ficar enlevados e agradecer as bênçãos da Mãe Natureza.
Não sei quem os plantou, quem teve a antevisão da maravilhosa carreira de flores, mas foi, sem dúvida, um privilegiado, que talvez não tenha antevisto a grandeza de sua ideia. Se vivo, poderá observar sua obra, deixar-se quedar na sombra benfazeja das árvores, talvez acompanhar o balé e o canto das inúmeras aves que nelas buscam refúgio. E reconhecer-se como grande benfeitor de nossa cidade, permitindo a todos nós partilhar este momento de beleza e majestade. Talvez seja ele quem plantou as mesmas árvores na Treze de Maio e na Costábile Romano. Seria bom que tivéssemos outros benfeitores como ele, espalhando cores pela nossas ruas.
Os flamboyants são originários de Madagascar, mas se deram e se dão muito bem em nosso país.
Foram trazidos por D. João, Príncipe Regente de Portugal, quando se refugiou no Brasil, em 1808. A Europa de então era submetida às armas do imperador Napoleão dos franceses. A Inglaterra era o único país que não admitia sua supremacia, era senhora dos mares e já grande potência. Para enfraquece-la, Napoleão ordena a todos os países europeus que ainda não estavam sob seu jugo, um bloqueio naval à ilha, como forma de enfraquecê-la. Portugal sempre teve com o Reino Unido uma relação de dependência e se vê numa encruzilhada: romper com o velho aliado ou desobedecer ao Imperador e ter seu território invadido.
D. João adota uma postura dúbia, leva a assunto em banho-maria, enquanto prepara a transferência da corte para o Rio de Janeiro, efetivada quando as tropas francesas estão às portas de Lisboa. “Foi o único que me enganou”, declararia Napoleão da estratégia do regente.
Chegado ao Rio, dentre outros melhoramentos, D. João funda o Jardim Botânico, ali plantando as primeiras mudas de flamboyants, que se espalhariam pelas ruas de nossas cidades.
A árvore tem um nome científi
co imponente: Delonix Regia, sendo que régia define bem o seu porte e floração. Tem uma espécie Flavida, de flores amarelas.
Admirar o renque florido da avenida Kennedy, como devem fazer meus amigos Brasil e Marcelo Salomão, cujo escritório ladeia a florada e os inúmeros passantes, rápidos ou detidos pela beleza é um privilégio que a Natureza, tão judiada, nos proporciona uma vez por ano.
* Advogado, empresário, presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras