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Os fabricantes de novas leis

O nosso curandeiro da “gripezinha” era cercado de forte expecta­tiva quanto à reforma do país, mas, vitorioso, a pretensão foi maior, tanto que brigou com personalidades nacionais e internacionais. A mesma ilusão interesseira teve o ex-ministro Moro, que aprendeu a conviver com o FBI e a CIA, agentes de segurança e espionagem norte-americana, e que não podem ficar alheios à candidatura de Presidente deles e nosso.

A verdade é que se instalou a República dos “puritanos”, apesar das “rachadinhas” familiares de um lado, e da ameaça às institui­ções, em especial o Supremo Tribunal Federal, de outro, e quanto ao ex-juiz ele contribuiu eficazmente, apodrecendo a legitimidade do Poder Judiciário.

Quando esse carnaval político entrou em recesso, eis que o tra­balho parlamentar insidioso continuou o trabalho ininterrupto, para avacalhar especialmente a Constituição da República.

Vejam essa das emendas parlamentares, que são impositivas, para que o parlamentar atenda a seus eleitores ou eleitores em potenciais, definindo com dinheiro público se obra, se prebenda.

Vejam-se o tal orçamento secreto, uma desfaçatez de bilhões de reais, para serem distribuídos pelo Relator da peça orçamentária, para o parla­mentar desde que siga rigorosamente a ordem de votar com o governo, e o Presidente da Câmara luta para que não se saiba quem recebeu a dinheirama, e nem se saiba para quem o parlamentar o fez.

Essa lambança institucional revela muito bem como esses embustei­ros afetam a legitimidade de seus mandatos, situação não percebida pela população crédula, em regra, pois, a informação ventilada não é massifi­cada eficientemente, ou enfrenta a contrainformação destruidora.

Com essa prática a Constituição se tornou um verdadeiro matu­tino, considerada muito mais como um estorvo do que um pacto de convivência social, votada pela mais importante, porque democráti­ca, Constituinte, diferentemente de todas as anteriores.

A Constituição é uma espécie de programa a ser cumprido pela nação, só que o sentimento de nação também virou peça de museu.

O planejamento governamental, que ingressou na prática ad­ministrativa com o governo Juscelino, se converteu nessa lambança na qual o dinheiro público azeita partidos políticos, deputados com seu orçamentos secretos, dinheiro para campanha, numa lavagem que faz das instituições a lavanderia de quem exerce mandato (nem todos são lavadores), aparvalhados com essa possibilidade de enri­quecer com dinheiro público, dentro da lei.

E para onde vai a tal transparência cuja falta reiterada deveria ser motivo de prisão em flagrante.
O fato é que o planejamento, que racionaliza a aplicação do dinheiro público, deu lugar à individualidade do recebimento de dinheiro, e o deputado premia o seu curral eleitoral.

Aprendeu-se que o orçamento é a lei vital da administração Pú­blica, mas atualmente ele é sucessivamente desvirtuado. A penúltima é essa emenda dos precatórios, que dá pedalada gigante de bilhões naqueles que ganharam ação na justiça, e passam a não saber mais em qual século receberão o dinheiro que deriva de ações judiciais transitadas em julgado.

A economia não avança certamente porque esse “bando” que assumiu o poder sabe mandar, mas não sabe planejar, muito menos governar. Sabe defender “amigos, filhos e parentes”, sem se curvar aos mandamentos da lei.

O país virou uma mixórdia. E o Presidente curandeiro, que um dia declarou que o Brasil para melhorar ele deveria matar trinta mil pessoas, já desistiu dessa ideia, porque a reconhecida “gripezinha” já matou mais de seiscentas mil pessoas, e os trinta mil deve estar no meio delas.
Tanto que ele não teve a coragem moral de repetir a sua promessa. E aderiu ao Centrão.

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