Renato Munhoz, presidente da Associação de Bares e Restaurantes de Ribeirão Preto (Abrasel) aposta no avanço da vacinação como a principal medida para o começo da recuperação da economia e do setor. Em Ribeirão Preto, levantamento da entidade revelou que quatro em cada dez bares fecharam as portas por causa da pandemia. Mais de sete mil postos de trabalhos também foram extintos na cidade no ano passado.
Tribuna Ribeirão – Qual o balanço que a Abrasel faz sobre o fechamento de bares e restaurante durante a pandemia?
Renato Munhoz – Levantamento recente da Abrasel mostrou que quatro em cada dez bares e restaurantes fecharam as portas em Ribeirão Preto por causa da pandemia da covid-19. As estatísticas ainda permanecem nesse patamar, mas também precisamos contabilizar aqueles que não deram baixas em seus CNPJ´s e os empreendedores Informais que foram forçados a parar de trabalhar.
Tribuna Ribeirão – Quantos postos de trabalho foram fechados na cidade em função da pandemia?
Renato Munhoz – No ano passado fizemos várias pesquisas buscando informações oficiais no nosso setor e temos certeza que os números das perdas são bem impressionantes. Tínhamos mais vinte mil colaboradores no setor de alimentação fora os informais que não contabilizamos por não existir um estudo mais aprofundado sobre eles. Perdemos mais de sete mil postos de trabalhos que foram extintos no ano passado. Acreditamos que, agora, com a maior flexibilização no horário de funcionamento dos bares e restaurantes e o aumento na taxa de ocupação o setor deverá começar uma recuperação. Mas precisamos estar com 100% (cem por cento) em funcionamento para traçarmos um projeto de recuperação para o setor. Recuperação que acreditamos que será bem longa.
Tribuna Ribeirão – No seu caso específico, quantos empregados o senhor tinha antes da pandemia e quantos tem atualmente?
Renato Munhoz – Antes de pandemia eu tinha três operações (estabelecimentos), algumas com a participação de sócios. Com a pandemia uma delas teve suas atividades encerradas e houve a demissão de cinquenta colaboradores. Nos outros dois, tínhamos um total de oitenta e três colaboradores e tivemos que demitir sessenta. Nestes dois casos, atualmente estamos com um total de quarenta colaboradores.
Tribuna Ribeirão – Em sua opinião foram criados mecanismos, como por exemplo, linhas de crédito para minimizar as perdas do setor?
Renato Munhoz – O Governo Federal criou o Pronampe (linha de crédito especial para ajudar micro e pequenas empresas com recursos financeiros e, assim, evitar demissões no contexto da pandemia), mas ele não foi direcionado ao nosso setor e para outros que foram dizimados pela pandemia. Ao contrário, esta linha de crédito foi boa para os setores que cresceram e que não tinham restrições financeiras. Eles conseguiram pegar recursos financeiros com juros muito baixos. Grande parte do nosso setor se encontrava com pagamentos atrasados e também com restrições financeiras, impossibilitando o acesso a esta linha de crédito.
Tribuna Ribeirão – A nova flexibilização do Plano São Paulo que permitiu a abertura dos bares e restaurantes – mesmo com limitação de horário e de ocupação – representa luz no fim do túnel?
Renato Munhoz – Essa última flexibilização que aumentou a capacidade de lotação para 60% e o funcionamento até às 23 horas é um passo rumo a melhoria. Mas temos que ressaltar que já temos vários estados brasileiros onde não existem as restrições. Será fundamental que o governo faça essa liberação, pois há dezesseis meses estamos operando com prejuízo. Estas limitações interferem diretamente em nossos negócios. É necessário que o governo do estado libere 100% e desta forma poderemos trabalhar, enfrentar nosso endividamento e colocar a situação financeira de nossos empreendimentos em dia.
Tribuna Ribeirão – Que avaliação o senhor faz dos governos Federal, Estadual e Municipal na gestão da pandemia?
Renato Munhoz – O Governo Federal cometeu falhas e demorou em sancionar algumas Medidas Provisórias (MPs) para tentar minimizar os prejuízos das atividades produtivas. Já o Governo Estadual não nos possibilitou um diálogo digno para que encontrássemos soluções e pudéssemos tentar sobreviver, como por exemplo, algum projeto de lei sobre renúncia de impostos. A gestão municipal de Ribeirão Preto nos deu abertura para o diálogo em vários momentos, mas muitas vezes não houve consenso que permitisse uma flexibilização maior para podermos trabalhar. A Prefeitura também não explicou claramente a gestão dos leitos para covid-19. Em vários momentos no ano passado, por exemplo, quando eram necessários apenas vinte leitos para a cidade avançar de fase no Plano São Paulo, eles não foram criados porque falavam que não tinham disponibilidade de recursos humanos.
Em março de 2021 estivemos em uma reunião presencial com o prefeito e, naquele dia, fomos informados que seria impossível a cidade disponibilizar 240 leitos como aconteceu no ano de 2020. Entretanto, poucos dias depois estávamos com mais de 315 leitos e isso nos deixou com muitas dúvidas sobre o que era possível ou impossível de ser feito pela Prefeitura. Temos convicção que fomos prejudicados imensamente pela falta de alguns leitos a mais, pois com eles a cidade não teria fechado as portas por tanto tempo de acordo com as regras do Plano São Paulo.
Tribuna Ribeirão – Quais têm sido as principais ações da Abrasel na pandemia junto aos empresários do setor?
Renato Munhoz – A Abrasel tem suas regionais, seccionais e a nossa sede nacional, onde temos como presidente o executivo Paulo Solmucci. Foi por uma articulação do nosso presidente junto ao presidente da República, Jair Bolsonaro e ao ministro Paulo Guedes que conseguimos a PL 936 que permite o afastamento ou redução de jornada de trabalho durante a pandemia. Nossas seccionais tentaram diálogo com os governadores para tentar mostrar que não somos os culpados pela propagação do vírus. Em Ribeirão Preto conseguimos um diálogo constante com o prefeito, com o Ministério Público e com a Câmara para mostrar nossa situação complexa.
Nos primeiros meses da pandemia este relacionamento foi um pouco lento e burocrático, mas depois de tantas vezes presentes em reuniões foram possíveis várias conquistas com a interlocução da Abrasel. Fazendo uma analogia, é como se estivéssemos em uma guerra, muitos ficaram para trás, mas não podemos desistir. A resiliência e a empatia foram palavras que mais usamos durante esse período.
Tribuna Ribeirão – O aumento da vacinação é a principal solução para a retomada do setor?
Renato Munhoz – Sem sombra de dúvidas é a nossa salvação. É só olhar os números da doença hoje em comparação com o passado para verificarmos que ela está sendo muito eficiente. Diferente dos lockdown que tem sido feito sem estudo algum, somente baseado na teoria do achismo. Com o avanço da vacinação, com certeza, até o final do ano estaremos em um nível muito próximo ao pré-pandêmico.