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Os desafios de mensurar a dor (7)

É comum, quando vivenciamos tarefas prazerosas, termos a sensação de que o tempo pa­rece voar, encurtando um período que, muitas vezes, leva tempo para passar. Por sua vez, quando realizamos tarefas monótonas e vazias, o tempo, de modo similar, parece se alongar, custando a passar. O que causa isso? Manipulando estímulos externos, inúmeros estudos têm demonstrado que nossa percepção de tempo depende muito das condições ambientais nas quais estamos inseridos, bem como, que o tempo percebido é afetado pelas emoções, atenções, ansiedades e, até mesmo, por condições clínicas, do tipo depressão, esquizofrenia e outras alterações de personalidade.

Em geral, o que ocorre é que, se as tarefas são prazerosas, subestimamos o tempo percebido e, contrariamente, se essas mesmas tarefas são monó­tonas, superestimamos a duração temporal. Entre­tanto, o que nenhum estudo tem feito é mensurar a percepção subjetiva de tempo quando os indivíduos vivenciam uma situação desconfortável, irritante, que emana do próprio corpo, como no caso, de uma pessoa sentido dor, seja esta aguda ou crônica.

Neste contexto, um conjunto de evidências suge­re que a experiência de dor também está conectada ao tempo. Um exemplo? Aumentando a duração de um estímulo nociceptivo, aumenta-se a dor, num mecanismo já conhecido, inti­tulado “somação temporal”. Reciprocamente, enquanto a duração real é mantida constante, a intensidade subjetiva da dor experimental também pode ser reduzida quando sua duração percebida é artificialmente encurtada. Não obstante, poucos estudos têm investigado o opos­to, ou seja, se a duração da dor pode, por si própria, gerar distorções no tempo percebido, mais especificamente, dilatar o tempo.

Em estudo recentemente publicado na Scientific Reports, pesquisadores instruíram 40 par­ticipantes a determinarem, enquanto inseriam uma de suas mãos num vazo com água de tem­peratura neutra (condição controle) ou em um vaso com água quente (condição dolorosa), se um estímulo visual era “muito curto”, ou “muito longo”, quando comparado com durações­-padrão curta ou longa, previamente apreendidas. Na sequência, usando-se uma escala visual analógica, variando de 0 a 10, onde zero era sem dor e 10 a dor mais intensa, os estudiosos buscaram veri­ficar, então, a intensidade em que a dor foi avaliada.

Os resultados? Mostraram que a proporção de respostas estimadas como sendo de “longa duração” foi estatisticamente mais elevada na condição dolo­rosa do que na condição controle (neutra). Também, o ponto indicando a metade subjetiva das durações físicas apresentadas foi diferente entre as condições dolorosa e controle, consistente com um alonga­mento da duração percebida quando os participan­tes estavam em dor. Na média, o tempo necessário para um estímulo ser considerado “longo” foi 20 ms menor durante a dor do que na ausência dela.

Assim considerando, verifica-se que dor é um fenômeno que dilata, significativamente, a duração subjetiva de estímulos visuais apresentados concomitantemente. Ademais, um maior aumento na percepção da intensidade de dor, em relação à situação sem dor, leva à distorções mais salientes nas estimativas de tempo. Em outras palavras, quando se está “em dor”, tem-se a impressão vívida de que o tempo está “parado”.

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