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Os desafios de mensurar a dor (10)

Ao longo de 2017, a Associação Internacional para Estudo da Dor (IASP, na sigla em in­glês) popularizou a campanha “Ano Global contra a Dor Pós-operatória”. O principal objetivo dessa iniciativa foi encorajar a melhoria do manejo da dor após cirurgias e elevar a consciên­cia sobre a dor pós-operatória persistente. O porquê disto? Levantamentos estatísticos indicarem que, anualmente, mais de 230 milhões de pessoas terem se submetido a cirurgias, elevando, progressivamente, o volume global destas no mundo. Todavia, em contraste com o progresso feito na pesquisa fundamental, e nas técnicas cirúrgicas, o manejo clínico da dor pós-operatória aguda ainda permanece limitado. As implicações? Dor aguda severa, quando pobremente aliviada, poder se constituir num grande fator de risco para o desenvolvimento da dor persistente após cirurgia.

Assim considerando, uma robusta e apropriada avaliação e mensuração da dor é imperativo para assegurar que os pacientes recebam um manejo seguro e eficaz, devidamente personalizado à suas reais necessidades. A avaliação da dor é fundamental ao diagnóstico da causa da dor, parte fundamental do tratamento apropriado e do controle da dor por meio de qualquer conduta terapêutica, seja esta psico-comportamental, fisioterápica ou far­macoterápica.

Experiência subjetiva e multifacetada, que varia consideravelmen­te entre os indivíduos, a percepção de dor é influenciada pela idade, per­sonalidade, sexo, classe social, experiência passada, estratégias de enfren­tamento individuais, cultura e circunstâncias momentâneas. Um exemplo? A má experiência no manejo e tratamento da dor de uma criança, certamente influenciará como esta lidará com as experiências futuras dos eventos dolorosos. Entretanto, cumpre lembrar que, em relação à intensidade da dor, o que um paciente pode descrever como sensação dolorosa severa para si, pode ser apenas leve, ou moderada, para um outro. Similarmente, a qualidade da dor, indicada por seus descritores, como, por exemplo, queimando ou sufocando, pode significar diferentes coisas para diferentes pacientes, fazendo com que o processo de avaliação e mensuração da mesma seja ainda mais complexo.

O resultado de uma avaliação inadequada da dor e, por conseguinte, de seu sub­seqüente manejo, podem ser agravados, resultando em conseqüências fisioló­gicas e psicológicas do tipo morbidade pós-operatória aumentada, retardo na recuperação, atraso no retorno às atividades normais e uma redução na satisfação do paciente. Importante: um inadequado manejo da dor pós-operatória pode levar à dor persistente após a cirurgia. Conse­qüentemente, um manejo inadequado da dor aumenta o uso dos cuidados de saúde, elevando substancialmente os custos médico­-hospitalares.

Assim, dor deve ser avaliada dentro de um modelo biopsicos­social, que reconhece os fatores fisiológicos, psicológicos e am­bientais que influenciam sua experiência global, envolvendo tam­bém o paciente na busca por aliviar o estresse e ansiedade que ele pode vir a ter. Em alguns pacientes, particularmente nos que se submeteram à grandes e complexas cirurgias, ou experienciaram múltiplos traumas, certamente coexistem muitas diferentes fontes de dor, a qual pode emanar da ferida cirúrgica, do trauma, da dor secun­dária decorrente à imobilização, aspiração endotraqueal, ou ao mover ou virar o paciente.

Logo, a avaliação da dor permite o acompanhamento da eficácia do tra­tamento, ajudando a aliviar o sofrimento e a evitar más concepções. Dor deve ser considerada como o 5º sinal vital para ajudar a elevar a consciência da presença da dor a todos os profissionais de saúde, os quais devem, rotineiramente, mensurar e avaliar a dor de uma pessoa para, só então, agir considerando a informação obtida.

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