Estudos de personalidade seguramente levam a conclusões que nos permitem entendê-la de forma mais apurada. Dentre estas conclusões, podemos indicar: a) personalidade tem forte base genética; b) há manifestações confiáveis de personalidade no início da infância e até mesmo no recém-nascido; c) essas diferenças individuais predizem, posteriormente, as manifestações da personalidade no adulto. Todavia, uma questão que permeia todos esses aspectos se relaciona com a mudança de personalidade: nem todas as crianças nascem com um temperamento particular, tampouco terão um temperamento equivalente de personalidade na vida adulta, fatos, estes, que conduzem ao problema da mudança de personalidade em ambas as ocasiões. Cabe, então, perguntar, “Quão estável é a personalidade ao longo do tempo?”, bem como, “O que significa dizer que a personalidade é estável?”. A soma dessas questões se refere à natureza do desenvolvimento e da maleabilidade da personalidade versus a estabilidade ao longo do ciclo de vida.
A análise das causas das diferenças individuais em personalidade, tal como ocorre com outros constructos psicológicos, como inteligência, liderança, ansiedade, etc, envolve considerar as influencias genéticas e ambientais, e suas interações, no processo de modelagem dos traços de personalidade. Usualmente, estudiosos do assunto se dividem em aqueles que acreditam na influencia da natureza versus aqueles que acreditam na influencia da criação.
A genética comportamental tem nos fornecido observações confiáveis de que os genes têm substancial contribuição para os traços psicológicos. Ainda que isso possa ser uma revelação desconfortável para aqueles que acreditam que o ambiente é o fator mais importante nas diferenças individuais dos traços, há pouca dúvida na comunidade científica de que a maioria dos, senão todos, traços psicológicos são herdáveis. Recentes avanços nas pesquisas em neurobiologia têm permitido localizar genes específicos e vias cerebrais estritamente relacionados aos traços de personalidade. Esta pesquisa, em progressiva evolução, talvez seja a avenida mais promissora que poderá nos configurar os determinantes biológicos da personalidade.
Neste conjunto, a psicologia evolutiva nos ajuda a entender não só se os traços são herdáveis, mas, também, qual a função dos mesmos e as diferenças que congregam. Em conjunto, esta linha de pesquisa enfatiza a importância de considerar as influências biológicas (natureza) na explicação das diferenças individuais na personalidade. Não obstante, mesmo os mais fortes advogados das bases biológicas da personalidade, reconhecem que as influências genéticas são, apenas, uma parte da história. De fato, inúmeras pesquisas que tem fornecido fortes evidências para as influências genéticas na personalidade também revelam a importância dos fatores ambientais no desenvolvimento da mesma.
Assim considerando, estima-se que aproxima-damente 50% da variação na personalidade seja devido às influências ambientais. Ademais, o ambiente não compartilhado, talvez surpreendentemente para muitos, parece ser responsável por exercer a maioria dessa influência enquanto a influência do ambiente compartilhado, aquele que é igual para todos, parece, apenas, negligenciável.
É bom que se diga que três formas de interação gene-ambiente têm sido distinguidas: a) as mesmas experiências ambientais podem ter diferentes efeitos sobre indivíduos com diferentes constituições genéticas; b) indivíduos com diferentes constituições genéticas podem evocar diferentes respostas do ambiente; e c) a constituição genética do indivíduo influencia a seleção do seu ambiente. Essas interações iluminam a importância da natureza da mudança e a possibilidade dela. Evidentemente, o fato de tanto os fatores genéticos quanto os ambientais estarem estimulando a estabilidade na personalidade leva a personalidade ser algo resistente a mudança.