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Os desafios de estudar personalidade (7)

Um campo distinto da psicologia, que focaliza comportamentos anormais, conhecido como Psicopatologia, também nos permite entender a personalidade das pessoas. Dado que tal campo é uma grande área da Psicologia, nele busca-se, também, compreender como as desordens mentais estão relacionadas com a personalidade e, particularmente, com seus traços. O estudo das desordens de personalidade se refere aos padrões de comportamento mal adaptativos, aos pensamentos, emoções e similares, que interferem na capacidade de alguém amar e trabalhar.

É possível pensar as desordens de personalidade como uma interface que atravessa tanto a personalidade normal quanto a personalidade anormal, pois as pessoas com tais desordens raramente são institucionalizadas ou se encontram em tratamento. A despeito disso, ambas se comportam de maneira muito desruptiva para a sociedade. Enquanto as desordens de personalidade e outras psicopatologias são predominantemente examinadas em contextos clínicos, nos últimos anos os estudiosos da personalidade têm progressivamente se envolvido em explicar as relações entre o que é normal e anormal. O que argumentam? Que as pessoas com doenças mentais, em particular com desordens de personalidade, representam casos extremos de afastamento dos traços normais. De fato, desordens de personalidade são definidas como padrões de comportamento duradouros, salientes e inflexíveis, os quais, aliados à vivência interna, desviam-se das expectativas normais esperadas na cultura daquelas pessoas. Tal definição, portanto, assemelha-se à definição de personalidade normal, com a única diferença sendo sua natureza desviante de comportamento.

Como reconhecer, então, a normalidade de uma pessoa? É do conhecimento de todos a existência de pessoas excêntricas, introvertidas, tímidas ou com personalidades peculiares. De fato, há, provavelmente, pessoas, no mundo, que nos descrevem com tais características. Mas como julgar se o comportamento delas é anormal ou não? Em outras palavras, isso significa decidir se uma pessoa necessita de tratamento psicológico. Logo, definir anormalidade não é tarefa fácil. Não há uma simples maneira de determinar se o comportamento de uma pessoa é considerado anormal ou não. Os clínicos usam, nestes casos, critérios consensuais para fazer tal julgamento, nomeadamente de desvio, sofrimento e comportamento mal adaptativo.

O primeiro critério, desvio, refere-se à freqüência estatística do comportamento em questão, com particular referência às normas sociais, a saber, às regras formais e informais que especificam como as pessoas devem se comportar. O segundo critério, sofrimento, leva em consideração se um dado comportamento pode ser classificado como mentalmente doente, ou se os sintomas causam um grande estresse físico e psicológico. Entretanto, nem todas as doenças mentais são associadas a sofrimento e, inversamente, sofrimento, em muitos casos, não resulta em doenças mentais. Um exemplo? Pessoas com personalidade esquizóide raramente experienciam fortes emoções, parecendo pouco estressadas mesmo quando criticadas ou isoladas. Inversamente, alguém pode experenciar um nível elevado de ansiedade na presença de ameaças reais, como os soldados na guerra, os estudantes antes dos exames vestibulares e similares, sem serem considerados anormais.

O terceiro e último critério, a má adaptação, são os comportamento disfuncionais tanto para o indivíduo quanto para a sociedade. Dentre eles, incluem-se aqueles que interferem na capacidade individual para realização das tarefas cotidianas, tais como, estudar, trabalhar e relacionar-se com terceiros. Freud sabiamente definiu normalidade em termos da capacidade para amar e trabalhar, o que nos leva a pensar que má adaptação é alguma coisa que prejudica dois grandes objetivos de vida, a saber: a carreira e os relacionamentos bem-sucedidos. De modo similar, comportamentos antissociais, como violência, agressão e uso inapropriado do espaço público, podem, também, serem rotulados como anormais por interferirem no bem-estar da sociedade como um todo.
Assim, as desordens de personalidades são prevalentes, afetando de dez a quinze por cento da população. Neste contexto, sua natureza desruptiva é substancial, inibindo o funcionamento educacional, ocupacional e interpessoal.

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