Há muitas teorias psicológicas da personalidade. Invariavelmente, todas tentam descrever o que é personalidade e como esta pode ser percebida e analisada. Em que diferem? Substancialmente, diferem em suas posições, ou seja, como veem o assunto. Uma dessas teorias é a teoria psicodinâmica, mais conhecida como teoria freudiana, que vê a personalidade como processos dinâmicos e força interna do ser humano, os quais tentam mascarar o comportamento; algo que nós não podemos acessar conscientemente, governando nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos internos. Assim considerando, qual é o principal legado de Freud?
Para iniciar, a teoria psicanalítica freudiana é uma das mais compreensivas teorias do comportamento humano, sendo tão importante quanto a teoria evolutiva de Darwin. Enquanto Darwin baseou sua teoria em suas observações de outras espécies e da natureza, a teoria da mente de Freud resultou de suas observações clínicas acerca das pessoas com as desordens mentais mais obscuras. Freud via a si próprio como um arqueólogo da mente, nunca temeroso de considerar metafísica, poesia e literatura quando buscando explicar o porquê de as pessoas pensarem e atuarem da maneira que pensam e atuam. A preferência de Freud pela complexidade significou que ele forneceu uma das explicações mais críticas e intrigantes da natureza humana. Freud também analisou alguns dos mais importantes temas da vida humana: ambição, sexo e poder. Em contraste, muitos psicólogos parecem terem esquecido que essas coisas governam o mundo, especialmente, “a psicologia positiva”.
A teoria compreensiva de Freud acerca da personalidade tem muitos componentes distintos, o que a torna difícil de integrar um modelo único. Não obstante, é geralmente útil dividir esses componentes em três modelos. A característica mais importante do primeiro modelo é o inconsciente. Freud arguiu que os nossos motivos e desejos reais ou são inconscientes ou são mascarados pelos processos conscientes; nós pensamos que fazemos as coisas por causa de X, mas, na verdade, é Y ou Z que nos impulsiona. Assim, um dos objetivos da psicanálise é descobrir, ou revelar, os motivos reais subjacentes aos nossos comportamentos via terapia, de modo não traumático, característica esta que faz da teoria freudiana da personalidade algo muito diferente das teorias modernas: para Freud, o que você conhece sobre você raramente é muito conhecido porque você próprio o configurou.
O segundo modelo de Freud é o que sugere que o self pode ser concebido em termos de três estruturas mentais, nomeadamente o “id”, o “ego” e o “superego”. O id é intimamente ligado aos impulsos instintivos, que estão por trás dos nossos processos conscientes e irracionais. O superego, por outro lado, é a consciência moral internalizada, razão pela qual, a menos que você seja um psicopata, você sente culpa quando faz coisas que lhe dão prazer, mas condenadas hipócrita e socialmente. Por sua vez, o ego é o nosso estado consciente, agente que negocia entre os impulsos que buscam prazer do id e os constrangimentos morais do superego. O ego está, assim, em permanente e dinâmica luta para manejar o id buscando prazer, obedecendo à voz das regras e restrições sociais possuídas pelo superego. Uma das ideias geniais de Freud foi tratar os muitos comportamentos normais como sintomas, iluminando várias manifestações da psicopatologia na vida cotidiana. A propósito, este é o título de um de seus mais famosos livros.
O terceiro modelo considera que a personalidade também reflete o desenvolvimento sexual do indivíduo. Freud também usa o termo “sexualidade” para se referir às experiências infantis prazerosas mais do que à sexualidade adulta ou genital. Ele acreditava que a maioria dos humanos atravessam quatro estágios psicossexuais em suas vidas, a saber: oral, anal fálico e genital. Muitos estágios envolvem mudanças biológicas e, também, são seguidos por desenvolvimentos psicológicos.
De acordo com Freud, conflitos nesses estágios, durante a infância, têm impacto substancial na personalidade das pessoas. Um exemplo? Um importante conflito durante o estágio anal envolve o controle dos esfíncteres, com lutas entre as demandas parentais que tentam controlar, nas crianças, sua defecação de acordo com as regras. Se estes conflitos não são resolvidos completamente, pode levar à várias reações, tais como, a criança inibindo mais que do que relaxando seu intestino. Este padrão, então, torna-se geral na maturidade, ocasionando compulsividade e ordenamento, o que, consequentemente, leva o termo “anal” a ser usado para se referir às personalidades obsessivas, perfeccionistas ou fetichistas. No todo, então, personalidade pode, de acordo com Freud, ser organizada ao redor dos temas do ide, do ego e do superego, bem como, dos conflitos durante os estágios do desenvolvimento psicossocial.