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Os desafios de estudar o Amor (9): o que significa estar apaixonado por alguém?

Mesmo se o Amor Romântico ocorra em uma, ou em todas as, cultura(s) do mundo, é razoável assumir que a vivência de estar apaixonado é colorida pelos valores culturais de alguém e pela sociedade a qual este alguém pertença. É verdade que existem diferenças entre atributos de Amor que são universais e aqueles que são especí­ficos da cultura de alguém. De forma ponderada e relativa, estudos têm revelado que as características universais se relacionam primariamente a seleção do parceiro, retenção e reprodução. Ao passo que, os atributos culturais são aqueles que influenciam os rituais culturais de Amor e de acasalamento. Um estudo intercultural incluin­do os Estados Unidos, Lituânia e Rússia procurou investigar alguns desses rituais culturais. O estudo envolveu duas abordagens diferentes. A primeira consistiu em estudar cada cultura externamente à mesma, usando, para tal, categorias impostas pela cultura fazendo o estudo. A segunda abordagem estuda a cultura internamente, usando, para tal, categorias que as pessoas da cultura estudada geram.

Na primeira abordagem, os participantes estimaram várias afirmações sobre o Amor para indicar o quanto eles concordavam ou discordavam em relação a cada uma das afirmações. Houve 14 afirmações, incluindo “Amor é cego” e “Atração Sexual não é Amor”. Num total de 624 americanos, 296 russos e 237 lituanos participaram dos estudos. Dentre as várias afirmações, participantes de todas as três culturas concordaram sobre 5 as firmações constituindo o núcleo do Amor Român­tico, a saber: 1º) Atração Física é um componente crítico do Amor; 2º) Posso fazer qualquer coisa para a pessoa amada; 3º) As pessoas apaixonadas pensam incessantemente sobre seus amados; 4º) Amor é o que faz uma pessoa mais feliz na vida; 5º) Ter amado faz uma pessoa ser alguém melhor e mais resiliente.

O que de fato essas afirmações descrevem? A 1ª relaciona-se ao componente Eros do Amor. A 2ª captura a essência do Amor altruísta (Agape). A 3ª reflete a tendência dos apaixonados se engajarem em pensamento intru­sivo sobre o amado (Algumas vezes chamado Limerência). A 4ª relaciona-se ao conceito denominada transcen­dência (sentimento de que a união de dois amantes resulta em alguma coisa mais significativa do que exatamente os dois amantes; dito de outra forma, o todo é maior que a soma de suas partes). A 5ª reflete aspectos tanto da transcendência quanto do altruísmo. Em conformidade com a riqueza de detalhes descrita por Karin Sternberg, em Psychology of Love (2014), essas cinco afirmações nem sempre, entretanto, descrevem atributos concretos do Amor. Ao contrário, elas centram-se sobre as causas e os efeitos do Amor, os quais sugerem um mo­delo dinâmico do Amor que pode envolver dois processos principais, a saber: a excitação que captura a atenção do amante, predispondo o casal a viver junto, e o sentimento de um bem estar aumentado resultante da parceria, que, por sua vez, aumenta os prospectos de um relacionamento amoroso contínuo.

Numa segunda parte deste estudo intercultural, os participantes (80 participantes de cada país) foram solicitados para listarem livremente características que eles associavam com o Amor Romântico. Como esperado, muitos dos atributos de Amor, identificados na primeira parte do estudo, também foram mencionados nesta segunda parte, quando os participantes livremente criaram suas listas pessoais de atributos. O único atributo que não apareceu na lista das três culturas foi o pensamento intrusivo. Pessoas em todos os países concordaram que apaixonar-se significa estar junto. Mas a alegria, por exemplo, foi mais associada com Amor nos Estados Unidos do que na Rússia e na Lituânia. Uma característica que russos e lituanos associaram ao Amor, e que não foi mencionada pelos americanos, foi caminhar conversando.

Após analisarem as listas que todos os participantes produziram, os pesquisadores agruparam os atributos em categorias visando uma melhor compreensão global dos dados. O que eles encontraram? Que essas catego­rias, e seus ordenamentos, refletiram referências entre os países e também indicaram que, em sua visão do Amor, lituanos e russos agruparam-se um com o outro de forma mais elevada do que cada um deles se assemelhava a cada um dos americanos. Ademais, houve uma concordância entre todas as culturas de que o Amor é um forte sentimento de que os amantes querem ficar juntos. Mas a importância da natureza do Amor foi mais pronunciada na Rússia, menos na Lituânia e praticamente ignorada nos Estados Unidos. Altruísmo, por outro lado, foi mais importante nos Estados Unidos do que na Lituânia e Rússia.

Quando grupos foram focados em cada país, observou-se que russos e lituanos veem o Amor como irreal, tal qual um conto de fadas. E esperavam que, em algum momento, o Amor viesse a terminar e a tomar um curso mais real, e duradouro tipo de relacionamento, no qual faltam a excitação inicial do Amor Romântico. Situação, então, na qual afirmam ser o Amor Real e a Amizade um sentimento que emerge. Contrastando, nos Estados Unidos os participantes não percebem o Amor como algo irreal ou ilusório, mas sim, incluem a Amizade no Amor Romântico. Por isso é possível que lituanos e russos se apaixonem mais rapidamente que os americanos. De fato, 90% dos lituanos registraram que eles se apaixonaram dentro de um mês ou menos, enquanto 58% dos americanos apaixonaram-se no intervalo de tempo de dois meses a um ano.

Assim, cultura, e suas vicissitudes, não só solidificam, como também qualificam, o Amor Romântico.

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