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Os desafios de estudar o Amor (2): Há diferentes tipos de Amor?

Tomando um momento para reflexão, pense sobre os diferentes tipos de relacionamento que você tem com as pessoas de sua vida. Daí, pergunte­-se: “Quem delas você ama?”. Há uma longa lista ou uma lista curta? Reflita, também, se o Amor que você sente tem as mesmas características para cada uma das pessoas que estão e sua lista ou o Amor que você sente pode ser muito diferente para as pessoas que constam em sua lista. Pessoas descrevem muitas diferentes relações com a palavra Amor a despeito das diferenças entre esses relacionamentos. É exatamente por isso que muitos pesquisadores acreditam que há diferentes tipos de Amor. Mas o que são e quantos são os tipos de Amor existentes? E, mais importante: como podemos mensurar cada um deles? Você ama muito, moderadamente ou muito pouco uma determinada pessoa? Muitas das teorias acerca do Amor envolvem taxonomias. Uma taxonomia classifica o fenômeno observado baseando-se nas características compartilhadas. Muitas taxonomias do Amor começam num mesmo lugar: a linguagem do Amor é examinada, seja através de uma análise de um filme, de literatura, de música e de narrativas das pessoas sobre os amores de suas vidas. Em seguida, o pesqui­sador classifica todas essas considerações e examina as similaridades para deter­minar o que é comum e as diferenças entre essas descrições de Amor.

Baseando-nos na obra de Karin Sternberg, “Psychology of Love” (Springer Publishing Company. New York: NY, 2014), uma das primeiras abordagens sis­tematizando diferentes tipos de Amor foi empreendida por John Lee, no início da década de 1970, ao examinar intensa e extensivamente a existente literatura romântica, incluindo poemas, escritos filosóficos e pesquisas realizados sobre o assunto em diferentes áreas do conhecimento. Para isso, Lee desenvolveu um método genial para a época, denominado Classificação de Cartões de Histórias Amorosas. Após analisar inúmeros dados coletados, Lee sugeriu que haveria três estilos primários de Amor (os quais se assemelhavam às cores primárias) que representavam estilos “puros”, e três estilos de Amor secundários, que representavam misturas dos estilos primários (que se assemelhavam, agora, às cores secundárias, que são misturas das cores primárias). Na sequência, Lee nomeou os estilos com nomes gregos e latinos para que os mesmos correspondessem aos termos usados na literatura clássica. De acordo com essa teoria, cada pessoa tem uma preferência para um estilo particular de Amor. Mas o estilo de Amor que uma pessoa exibe depende, também, da pessoa amada. Os estilos de Amor também podendo mudar quando uma pessoa envelhece.

Os três estilos de Amor seriam então Eros, Storge e Lutus. Eros é o tipo apaixonado de Amor, caracterizado por fortes emoções e intenso desejo físico pela pessoa amada. Isto, de fato, é o que é pensado quando se está envolvido em um amor romântico. Este tipo de amor tem sido caracterizado em diferentes filmes, dos quais o protótipo é “Uma linda mulher”, no qual uma prostituta apai­xona-se por um homem de negócios, bem como, no filme “Titanic”, em que uma garota de família influente apaixona-se por um va­gabundo. Storge já é um Amor baseado na amizade, que desenvolve-se lentamente ao longo desta. Trata-se de um tipo de Amor que não é caracterizado pelas emoções típicas do amor Eros. O filme “Harry e Sally: feitos um para o outro” (Uma comédia romântica, em que Harry e Sally são acompanhados por doze anos de suas vidas), o qual levanta a questão se os homens e as mulheres podem ser apenas amigos. Por sua vez, Lutus, também chamado Jogo Amoroso, é comumente representado por pessoas que preferem se manter solteiras, por verem o Amor como um jogo de conquistas e números. Nele, os amantes não se apaixonam pelos parceiros escolhidos, recuperando-se rapidamente do término da relação quando o jogo acaba. Nele, os parceiros são mais prováveis de serem infiéis do que os parceiros de Eros e Storge. É um tipo de Amor ilustrado no filme “Segundas Intenções”, que caracteriza a vida de dois adolescentes pertencentes a uma rica família que os criou como irmãos desde o casamento de seus pais.

Nos estilos secundários, fruto da combinação dos três estilos primários, temos: Mania, Pragma e Agape. Mania resulta de uma mistura de Eros e Lutus. Nele, os amantes mostram paixão para seu parceiro amado, que é característica de Eros. Mas eles frequentemente idealizam e idolatram seus parceiros. Por consequência falam o que pensam de seus parceiros na forma superlativa. Alternam sentimentos de êxtase e de agonia. Tal como sugere o termo que os denomina, mania, um elemento patológico está envolvido. Mania desempenha um papel no filme “Atração fatal”, no qual um homem casado engaja-se em um curto relacionamento com uma mulher, a qual subsequentemente recusa-se a terminar o mesmo, iniciando uma chantagem sobre o mesmo. Pragma é uma mistura de Storge e Lutus. Estilo de Amor enraizado no pensamento lógico e pragmático, desenvolve-se lentamente com o tempo, tal qual Storge. Um amante pragmático hesita comprometer-se no relacionamento, tal como ocorre com Lutus, até ele sentir-se confidente e ter encontrado o parceiro correto. Pessoas engajadas em relacionamen­tos virtuais frequentemente mostram amor pragmático, elaborando uma lista de atributos que o parceiro ideal deveria ter. No filme “Orgulho e Preconceito”, a personagem Charlote nos fornece um bom exemplo do Amor Pragmático: ela concorda em casar com um homem a fim de obter segurança financeira. Agape já é uma mistura de Eros e Storge. Trata-se de um tipo de Amor altruísta, envolvendo doação de si à pessoa amada. O bem-estar desta é colocado antes do bem-estar de quem ama. No filme “Coração Indomável”, uma jovem garçonete que possui muitas ilusões amorosas, e que nunca viveu um grande amor, apaixona-se por seu colega que a salvou de um estupro. Ela se apaixona por ele e, ao longo de seu relacionamento amoroso, descobre que ele tem uma grave doença cardíaca e que não viverá muito tempo.

Assim, ao longo destas descrições, é possível verificar o Amor como algo sendo descrito de múltiplas formas, umas mais coloridas que outras, e outras, nem tanto.

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