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Os desafios de estudar o Amor (14): Separação e Divórcio

Separar-se é sempre uma coisa difícil de fazer, não importando o quanto tempo alguém tenha estado com outrem. É muito difícil ferir uma pessoa que você ama ou tenha amado ao sugerir afastar-se dela, bem como, é muito difícil preencher um grande vazio em sua vida que, uma vez, foi preenchido por outrem que compartilhou aquela vida com você. Karin Sternberg, em Psychology of Love (2014), afirma que não há estudos que investigaram as razões pelas quais as pessoas se separam de pessoas não maritais. Entretanto, um estudo, conduzido na década de 1980, questionou estudantes universitá­rios sobre as razões pelas quais eles se separaram de seus parceiros. Todos os estudantes que participaram deste estudo foram aqueles que haviam termi­nado um relacionamento mais do que aqueles que foram questionados por tal relacionamento. Alguns tópicos apareceram, então, de forma regular e fre­quente nas descrições efetuadas pelos participantes. Algumas das orientações acerca de relacionamentos que surgiram dessas descrições, e que poderiam levar à dissolução de um relacionamento, foram: 1º) autonomia, 2º) similaridade, 3º) suporte, 4º) abertura e 5º) fidelidade. Em autonomia, permitir e encorajar o parceiro a ter amizades fora do relacionamento, passear com estes e fazer coisas independente­mente de o parceiro deseja-las ou não. Em similaridade, compartilhar valores e interesses que são importantes para um dos parceiros do relacionamento. Suporte, auxiliar o parceiro na busca dos objetivos deste. Abertura, compartilhar detalhes íntimos de si com seu parceiro. Fidelidade, não ser desonesto com seu parceiro.

Como se pode observar da listagem acima, há alguns comportamentos recorrentes que frequentemente causam atritos nos relacio­namentos. Mesmo se um relacionamento se apresente desgastado por longa data, e que o mesmo não tenha sido mais preenchido por outra pessoa, ainda permanecem muitos efeitos adversos de uma separação com um parceiro. De fato, após uma separação o bem estar de uma pessoa é consideravelmente menor, sentindo-se, esta menos satisfeita com sua vida, experenciando mais tristeza e raiva em seus dias. Por um longo período, a quebra de um relacionamento sempre causa considerável estresse na pessoa afetada. Todavia, algo tem mudado bruscamente nos últimos anos em relação à maneira como as pessoas terminam um relacionamento. Enquanto algumas empregam uma abordagem direta, face a face, e conversem com aquele que será em breve seu ex-parceiro, um progressivo número de pessoas estão fazen­do uso das novas tecnologias como, por exemplo, e-mail e mensagens de texto, para encerrarem seus relacionamentos, sejam estes con­flituosos ou não. Karin Sternberg, em Psychology of Love (2014), relata que alguns estudos examinaram o comportamento de separar-se, ou desvincular-se, em relação à tecnologia de comunicação utilizada, e relacionou o uso de tal tecnologia aos estilos de apego das pessoas. Pessoas que tinham apego de ansiedade, isto é, que se preocupavam excessivamente sobre a responsividade de seu parceiro, foram mais prováveis de terem sido informadas de uma separação por meio de uma nova tecnologia de comunicação e, também, de usar a mesma tec­nologia como forma de encerrar o relacionamento. Pessoas ansiosamente apegadas podem ser particularmente sensíveis pela dissolução de relacionamentos e seus parceiros podem estar, particularmente, conscientes disso de um modo ou de outro. Já se os parceiros querem o fim do relacionamento, mas evitam um grande cenário emocional, eles podem escolher uma nova tecnologia como meio de tal dissolução. Pessoas com estilo de apego evitante também aceitam melhor o uso da tecnologia para terminar um relacionamento. Isso faz sentido, dado que os evitantes são menos desejosos de serem íntimos com um parceiro e de dependerem deste.

Por outro lado, a dissolução de um casamento tem se tornado bastante comum nas sociedades ocidentais atuais. Há dados mostrando que a taxa de divórcio em adultos com mais de 50 anos praticamente dobrou entre 1990 a 2009. De tal modo que, 25% dos divórcios de 2009 envolveram pessoas com 50 anos ou mais. Acrescenta Karin Sternberg (2014) que, muitos casamentos terminam dentro dos primeiros 8 anos. Mas muitas dessas pessoas recasam rapidamente mesmo após terem se divorciado. O tempo médio entre divórcio e um novo relacio­namento não é próximo de 4 anos como a maioria pensa. Geralmente, as taxas de divórcio são mais elevadas para aqueles que foram recasa­dos do que para aqueles que estão no primeiro casamento. Talvez isso ocorra porque, quando as pessoas recasam, elas frequentemente têm crianças do primeiro casamento, o que pode complicar o novo casamento (seja este, segundo, terceiro etc), resultando numa competição por recursos e afeição. As razões para o divórcio são obviamente tão diversas quanto são as pessoas que estão casadas. Mas há alguns tópicos que se destacam mais regularmente quando as pessoas são questionadas acerca de seu divórcio. Os problemas conduzindo a um divórcio variam desde infidelidade e abuso físico e emocional a uso de drogas e álcool, passando por pessoas evoluindo profissionalmente à parte do parcei­ro ou quando uma vem a se sentir incompatível com a outra. Vale mencionar se a disponibilidade da internet tem relação com a elevação da taxa de divórcio. Estudos relatados por Karin Sternberg, todavia, parecem mostrar que não há qualquer correlação entre as taxas de acesso à internet e as taxas de divórcio após se controlar outras variáveis, tal como, a renda doméstica. Interessante notar, também, notar que, um fator que também afeta a taxa de divórcio, é a ocorrência de desastres. Há estudos indicando que desastres naturais, como terremotos, tsuna­mis, furações e outros, são seguidos por aumento da taxa de divórcio em áreas próximas às do desastre.

O que acontece, então, às pessoas após elas terem se divorciado? Seriam, elas, infelizes para sempre? Ou se recuperariam facilmente após o mesmo? É óbvio que, quando duas pessoas têm vivido miseravelmente seu casamento por um longo tem­po, talvez, até, por muitos anos, o divórcio pode ser percebido como um verdadeiro alívio. Não obstante, um divórcio é um evento traumático. Perguntadas, seis anos depois, se seu divórcio resultou em alguma coisa boa, aproximadamente 75% dos divorciados disseram que sim. Por sua vez, quando perguntadas se decidiriam reca­sar-se, responderam que um novo casamento aconteceu aproximadamente 4 anos após o divórcio. Considerando em conjunto esses dados, embora boas coisas possam vir de um divórcio, ele sempre é um período muito difícil para todos os envolvidos, além de alguns nunca conseguirem vir a se recuperar totalmente do trauma provoca­do pelo mesmo e pelo estresse de sua separação marital.

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