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Os desafios de estudar o Amor (10): Individualismo e Coletivismo no Amor

Em psicologia, uma maneira de diferenciar grupos culturais no mundo é analisar as relações entre uma pessoa e o grupo social mais próximo a que ela pertence, em particular, a família. De fato, se você é muito envolvido com sua família, e sente que deve considerar as necessidades e sentimentos desta quando você está apaixonado por alguém, Amor e sua dinâmica podem desempenhar mais diferencialmente do que quando você não considera os sentimentos de seu grupo social proximal sobre seus relacionamentos. Há diferentes definições de individualismo, mas, no caso dos relacionamentos amorosos, vamos focar especificamente, o individualismo independente ou autônomo. Isto é, o desejo de uma pessoa ser tão autossuficiente quanto possível e com tendência de perceber qualquer dependência, tanto da pessoa sobre outras pessoas, quanto destas sobre aquela, com ambivalência. No caso de um relacionamento amoroso, a motivação de uma pessoa para ser independente pode conflitar com as necessidades de um parceiro, de modo que, assumir uma pessoa individualista, independente e autônoma afeta o Amor para um parceiro de maneira negativa. Esta descrição é muito curiosa, pois, nas culturas caracterizadas como individualistas, casamento baseado no Amor é visto como um ideal e, contudo, o individualismo pode interferir com o desenvolvimento e manutenção do relacionamento amoroso.

Karin Sternberg, em Psychology of Love (2014), sumaria alguns estudos que enfatizam relacionamentos amorosos em culturas individualistas e coletivistas. Nele, os dados, em geral, revelam que, pessoas mais individualistas exibem menor probabilidade de ser considerada apaixonada. Por adição, encontrou, também, que algumas pessoas foram mais prováveis de endossar um estilo de Amor lúdico, que envolve uma perspectiva sobre o Amor do tipo jogar um game. Neste, quando pessoas estão apaixonadas, um maior individualismo foi associado com uma percepção de seus relacionamentos como menos recompen­sadores e menos profundos. Geralmente, quanto mais individualista uma pessoa é, tanto menor a qualidade do Amor dela para com seu parceiro. Ademais, ainda segundo Karin Sternberg, pessoas altamente individualistas tendem a se registrar menos felizes no casamento, bem como, com menor satisfação em sua vida familiar e com amigos. Em famílias em que o individualismo é mais valorizado, as conexões entre membros da família são usualmente menores e a ajuda mútua não é garantida nem esperada.

Por outro lado, no Coletivismo, o que contrasta com o Individualismo mais observado nas sociedades ocidentais é mais provável de ser encontrado nas culturas orientais. Nas culturas coletivistas, as pessoas são englobadas numa rede de relacionamentos com seus familiares e amigos próximos, e experienciam dependências do continuo de suas jornadas de vida. As decisões pessoais não dependem apenas do que elas pensam ser melhor para si próprias, pois as pessoas também levam em consideração conscientemente qual efeito uma decisão, no caso do Amor Relacionamento Romântico, pode ter em sua rede social. Coletivismo é relacionado à visão do Amor como algo pragmático, baseado na amizade, com objetivos altruístas.

Em outro estudo interessante, pesquisadores compararam como casamentos desen­volveram-se a longo-prazo nos EUA e no Japão, respectivamente cultura individualista e cultura coletivista. Os dados revelaram que os casamentos começaram com um alto nível de intimidade. O objetivo dos respectivos parceiros foi manter a intimidade do relacionamento ao mesmo tempo em que mantinha preservada sua identidade. Os casamentos japoneses, por outro lado, são caracterizados primeiramente pelas muitas obrigações e deveres que o casal tem para com os integrantes de sua rede social. Neles, a intimidade se desenvolve no desenrolar da vida, resultante tanto da morte de membros próximos da família para com os quais o casal tem obrigações, quanto o desejo maior do marido em compartilhar afeição com a pessoa.

Culturas que enfatizam coletivismo entendem, geralmente, que os laços familiares, e a independência associada e assistência mútua, são muito importantes. Elas veem os membros de suas famílias de forma mais positiva do que as pessoas, mais individualisticamente orientadas, o fazem. Geralmente, a Psicologia Ocidental tem adotado a visão de que cada pessoa é uma identidade separada. A Psicologia Asiática, em contraste, vê o indivíduo como parte de uma rede de relacionamento complexo. Quando você se percebe como um indivíduo com limites definidos, e separado de todas as outras pessoas, amar alguém é sua chance de se desvencilhar desses limites, escapando da solidão que, sendo um indivíduo separado, requer isolamento. Amar, então, torna-se a ponte que conecta você aso outros.

Entretanto, esta conexão é voluntária. Se o relacionamento não dá certo como você espera, é sua escolha deixa-lo ou nele permanecer. Do ponto de vista asiático, há uma maior ênfase em reconhecer o potencial dos laços que já existem. Pelo fato de cada pessoa ser vista como parte de uma rede de conexões, não ser torna necessário para a mesma confirmar verbalmente esses laços, questionando se outra pessoa o ama, ou anunciando seu amor por alguém. Baseado nessa concepção, o Amor é expresso muito mais pelo que as pessoas fazem do que sobre o que elas dizem. Assim, como as pessoas conceituam a si próprias pode ter um impacto significativo sobre como elas amam e o que elas esperam do Amor.

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