Historicamente, a seleção dos estudantes de medicina tem se baseado em testes e avaliações que capturam diferentes habilidades cognitivas e conhecimentos em especialidades médicas. As medidas cognitivas, tais como, as habilidades acadêmicas, o processamento de informação, a compreensão de raciocínio e a tomada de decisão têm sido avaliadas por diferentes provas escolásticas, incluindo vestibulares. Todavia, estas avaliações não mensuram, adequadamente, muitos atributos não cognitivos considerados, por diferentes organizações médicas, importantes em revelar, ou predizer, o sucesso na prática médica.
Anualmente, as escolas médicas enfrentam a desafiadora tarefa de selecionar uma nova turma de estudantes de medicina a partir de um grupo de candidatos altamente qualificados. O objetivo da comissão julgadora para admissão de residentes é selecionar candidatos que não sejam excelentes apenas nos estudos de graduação, mas, também, que possam alcançar sucesso em sua prática médica.
Assim considerando, que atributos poderiam ser mensurados que indicassem tais probabilidades? São eles: empatia, resiliência, altruísmo, integridade, cooperação, compaixão e habilidades de comunicação, entre outros. Atualmente, as ferramentas utilizadas para medi-los incluem sumário autobiográfico, cartas de recomendação, minientrevistas não estruturadas e entrevistas baseadas em questionários. Apesar da importância desses métodos tradicionais, os mesmos são fracamente preditivos do desempenho futuro, não se correlacionando aos mesmos. Uma medida não cognitiva, amplamente disseminada nos meios médicos, é a inteligência emocional (IE).
Inteligência emocional, a habilidade para raciocinar, com acurácia, sobre as emoções, utilizando-as na otimização do pensamento, pode ser dividida em quatro dimensões inter-relacionadas: 1º) perceber emoções; 2º) usar emoções; 3º) entender emoções e 4º) manejar emoções. Habilidades, estas, que englobam as competências que se desenvolvem ao longo da prática clínica. Particularmente para os médicos, inteligência emocional é importante para que este, em situações estressantes, entenda as emoções do paciente, mantendo as suas próprias sob controle.
A literatura atual sobre educação médica também tem focado as habilidades de comunicação, muito provavelmente pelo fato destas serem mais fáceis de serem definidas e observadas do que as habilidades para lidar com as emoções em diferentes contextos clínicos. Não obstante, alguns programas médicos têm reconhecido como as emoções, na forma de empatia, e de relações inter e intrapessoais, contribuem para as habilidades de comunicação, de forma que esses programas consigam incorporar a disciplina de inteligência emocional no seu currículo, baseando-se na suposição de que as habilidades de comunicação dependem da habilidade de se ser empático com os outros.
O grande desafio da educação médica, portanto, é entender, e identificar, aqueles fatores psicológicos que podem ajudar a promover, ou restringir, o desenvolvimento das habilidades eficientes, que levam a uma otimização curricular. Neste contexto, as quatro dimensões acima citadas, quando justapostas em blocos, podem permitir aos estudantes e residentes em Medicina o desenvolvimento de diferentes competências no trato emocional. Ou seja, a habilidade para perceber, usar, entender e manejar as emoções de si próprio e de outrem. Considerando a inteligência emocional na educação médica, pode-se, portanto, criar um melhor ambiente de aprendizagem, de trabalho e de atenção para com o outro.