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Os desafios de estudar Inteligência Emocional (10)

Enfatizado nos textos anteriores que a Inteligência Humana pode ser definida de formas diferen­tes, destacamos que sua forma mais familiar corresponde às habilidades individuais para aprender e raciocinar, indicando que diferentes indivíduos têm diferentes aptidões, capacidades e habilidades cog­nitivas. Subjacentes a esta definição estão as noções psicométricas de testes de inteligência, quociente intelectual, inteligência geral (fator g), mensuração da inteligência e outras similares. Neste caso, inte­ligência é unitária, essencialmente hereditária e não pode ser alterada por processos de aprendizagem. Por sua vez, a concepção de que existem múltiplas formas de inteligência amplia a esfera do construto, pontuando habilidades verbal/linguística, lógico/matemática, corporal/cinestésica, espaço/temporal, naturalística, musical, interpessoal e intrapessoal.

Recentemente, a Inteligência Emocional (IE), ou Quociente Emocional (QE), especificada por Daniel Goleman em 1995, destacou-se como um produto de dois mundos: o da cultura popular, refletida nos livros best-sellers, revistas populares e jornais diários, e o da cultura científica, refletida em capítulos de livros e em comentários espe­cializados. Para a Time Magazine, IE revelou-se como o melhor preditor do sucesso na vida. Tanto que, no início da década de 90, o conceito atraiu considerável atenção popular e diversas afirma­ções foram feitas a respeito de sua importância em predizer o sucesso profissional.

Diferindo da inteligência acadêmica-inteligên­cia analítica, composta por habilidades cognitivas avaliadas por testes de inteligência que apresentam problemas bem-definidos e que têm uma única resposta certa, IE foi inicialmente entendida como inteligência social e definida como a habilidade de compreender situações sociais e de se conduzir com sucesso. Posteriormente, assumiu o sentido de capacidade para perceber e expressar emoções, assimilando-as e integrando-as ao pensamento, bem como, para compreender, raciocinar, regular e manipular as próprias emoções e as de outras pessoas, em diferentes contextos.

Envolvendo a habilidade para monitorar as próprias emoções e as emoções de outros, e para discriminar diferentes tipos de emoções, usando-as com o objetivo de controlar e orientar o próprio pensamento e as próprias ações, IE passou a incluir as inteligências interpessoal e intrapessoal, in­corporando habilidades categorizadas em cinco domínios: auto-consciência (capacidade de obser­var a si próprio e reconhecer um sentimento tal como ele ocorre), regular emoções e sentimentos (manipular sentimentos de modo que eles sejam apropriados; compreender as razões de um senti­mento; encontrar meios de manipular o medo, a ansiedade, a raiva e a tristeza), auto-motivação ou auto-controle (canalizar as emoções em direção a um objetivo, auto-controle emocional, capacidade de adiar a gratificação na busca de grandes recompensas em vez de se deixarem dominar por seus impulsos), empatia (sensibilidade frente aos sentimentos dos outros, habilidade em administrar bem os seus conflitos e em apreciar os diversos sentimentos que as pessoas têm em relação às diferentes coisas, objetos ou eventos) e manipulação de relações interpessoais (manipulação de emoções de outros, competência social e habilidades sociais).

Investigada a partir da mensuração isolada de cada uma das dimensões ou domínios que a com­põem, IE passou a incluir a habilidade das pessoas para identificar diferentes emoções em expressões faciais e também para identificarem um conjunto de simples emoções as quais, quando combinadas, assemelham-se a um sentimento mais complexo. Todavia, até o momento, e ao contrário dos testes conhecidos que medem o QI, não há ainda escalas completamente validadas para mensurá-la, de forma que problemas psicométricos acerca da validade e da fidedignidade (precisão/confiabilidade) relativos a estas escalas frequentemente dificultam a interpretação dos resultados neste campo de pesquisa.

Neste contexto, muitos pesquisadores, ou usuários do conceito de inteligência emocional, estão, in­felizmente, utilizando estas escalas ou mesmo questionários sem antes conhecer se elas são boas ou não (válidas ou fidedignas do ponto de vista psicométrico), sem se basearem em instrumentos de medidas robustos. Combatendo isso, achados, publicados na revista “Intelligence”, têm sugerido que IE pode ser precisamente mensurada, existindo como uma habilidade unitária, relacionada, mas é independente, da inteligência psicométrica (fator g).

Em resumo, importa saber que IE tem se constituído num constructo psicológico importante com cientistas sociais admitindo a estreita relação da mesma com outros fenômenos psicológicos, como a liderança, o desempenho grupal, o desempenho individual, as relações interpessoais e sociais, a mani­pulação de mudanças de atitudes e as avaliações de desempenho pessoal, profissional e institucional. O que nos leva a concluir que IE é uma habilidade (simples ou composta) que ajuda as pessoas a se har­monizarem e que se tornará num futuro próximo extremamente valorizada no contexto da psicologia social das organizações do trabalho.

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