Um dos grandes desafios no estudo da Inteligência Emocional (IE) é distingui-la da inteligência convencional analítica e do constructo de personalidade. No caso da analítica, o problema que se configura é se IE é uma forma de inteligência genuinamente independente das demais inteligências cognitivas. Um teste de IE deve, por princípio, mensurar um constructo de qualidade e quantidade diferentes daquelas habilidades mensuradas por testes comuns. Isto porque se tal teste de IE estiver mensurando a mesma qualidade como os testes de inteligências cognitivas fica óbvio que a nova medida dita de IE é redundante.
Por conseqüência, os testes que mensuram IE devem ser distintos dos testes que mensuram inteligência geral, isto é, achar respostas corretas para as questões que independam do raciocínio abstrato (inteligência cognitiva). Todavia, isso não significa que IE deva ser totalmente distinta da inteligência geral, pois é conhecido que todas as habilidades tendem a se correlacionar positivamente, pelo menos num grau moderado. Se IE é, de fato, uma inteligência, ela deverá mostrar alguma relação com habilidades cognitivas, sem se correlacionar altamente com as mesmas.
Outro problema é a intersecção entre IE e personalidade. Teóricos contemporâneos da personalidade concordam acerca da existência de cinco ou mais aspectos e∕ou dimensões desta. O modelo mais popular atualmente, chamado modelo dos cinco fatores, descreve o seguinte: abertura, conscienciosidade, extroversão, agradabilidade e neuroticismo. Algumas dessas dimensões de personalidade certamente podem se interseccionar com as qualidades da inteligência emocional. Um exemplo? Indivíduos altamente conscienciosos podem ter muito de alto controle, enquanto pessoas agradáveis podem ser muito simpáticas com os outros. Assim sendo, mostrar que os testes de IE não estão simplesmente capturando ou mensurando tais traços de personalidade bem conhecidos é extremamente necessário. Do mesmo modo, devemos esperar alguma correlação entre os questionários de IE e aqueles de personalidade. Entretanto, em ambos os casos, tais correlações não devem ser elevadas.
Considerando ambos os aspectos, é mais fácil descrever as características de uma pessoa do que afirmar como tais características são expressas em comportamentos mensuráveis. Certamente concordamos que ter bom controle sobre as emoções é algo inteligente, entretanto, como podemos determinar o grau de controle de uma pessoa? Há vários paradigmas experimentais para mensurar a supressão das emoções. Mas a supressão emocional nem sempre é benéfica. Inversamente, podendo mensurar a expressividade emocional, a excessividade desta é prejudicial. Psicólogos clínicos, por exemplo, reconhecem que desordens de personalidade histriônicas incluem expressar emoções de forma descontrolada e dramática. Fato, este, que leva IE a se relacionar mais com a expressão de uma emoção apropriada a determinada circunstância em que a pessoa se encontre.
Assim considerando, qualquer estratégia para conceituação e mensuração de IE deve considerar a distinção psicométrica entre emoções, personalidade e qualidades do constructo rotulado como IE.